O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirmou que não há consenso na comunidade internacional contra o acordo feito com o Irã, mediado por Brasil e Turquia, para troca de combustível nuclear. “A comunidade internacional não está nervosa, até pessoas que são muito críticas ao Irã afirmam que o acordo deveria ser aproveitado. A comunidade internacional é mais do que só dois países”, afirmou nesta sexta-feira (28/5), primeiro dia do III Fórum de Aliança de Civilizações, no Rio de Janeiro.
De acordo com Amorim, as críticas ao acordo demonstram que não havia um verdadeiro desejo de promover a paz. “Tem muita gente decepcionada por a ação ter produzido resultado”, mas negou-se a comentar a declaração da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, na quinta-feira, por ainda não ter conversado particularmente com ela.
Leia mais:
Conferência do TNP termina com acordo para acelerar desarmamento
Protocolo adicional do TNP divide opinião de políticos brasileiros
Segundo Amorim, esse foi o primeiro passo para criação de confiança em relação ao país persa. “Isso é cultura para a paz, o resto é cultura para o conflito”, afirmou o ministro, reforçando o posicionamento da política exterior brasileira de que “é preciso diálogo, e não ações punitivas”.
Ao ser questionado se a crítica feita pelos Estados Unidos poderia significar mais dificuldades para o Brasil alcançar o almejado assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, Amorim afimou que o Brasil “não pode agir contra suas convicções. Não temos o poder de veto, mas não podem impor a nós violentarmos a nossa consciência. Se para ser membro do CSNU for preciso ter uma posição subserviente, é melhor não ser membro”.
O ministro afirmou ainda que as relações brasileiras com os Estados Unidos são densas e intensas e continuarão a ser. Para ele seria uma “atitude infantil” se o “relacionamento maduro” entre os dois países fosse prejudicado.
Discurso afinado
O ministro dos negócios estrangeiros da Turquia, Ahmet Davutoğlu, afirmou que o acordo foi bem-sucedido e não se pode exigir do Irã que deixe de desenvolver tecnologia nuclear. “Abrimos caminho para o diálogo entre o Irã e a comunidade internacional. Como podemos dizer para o Irã parar de enriquecer urânio se ele está obedecendo o TNP ?”, questionou.
Para Davutoğlu, o acordo representou um sucesso da Turquia e do Brasil. “Isso poderia ser feito através de negociação ou de confronto. Visitamos o país e concordamos com o governo iraniano que o caminho da flexibilidade e das concessões era o melhor. A política adotada agora pelo governo iraniano foi muito mais flexível. Todas as condições foram atendidas pelo Irã, não só as resoluções, mas os prazos foram respeitados. O objetivo agora é avançar nessa negociação sem criar uma crise global ou regional”, afirmou.
Ciúmes
O presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Mevlüt Çavuşoğlu, afimou ter ficado surpreso com a reação negativa de alguns países ao acordo, durante a sessão temática do Fórum “Democracia, boa governança e diversidade cultural”. “Foi um bom começo, um excelente começo. Mas todos os primeiros passos são difíceis. Se fosse fácil, já teria sido resolvido. Isso se trata de ciúmes, de inveja”, afirmou.
Houve, entretanto, críticas ao acordo durante a mesma sessão temática. Para o ex-primeiro ministro da Noruega Kjell Magne Bondevik, as ações do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad não contribuem para o combate à não-proliferação. “O acordo não resolve todos os problemas. O Irã vai ter urânio suficiente pra eles poderem desenvolver uma arma nuclear. Tem mais do que o dobro coberto pelo acordo”, criticou.
O acordo de Teerã, firmado em 17 de maio, que gera tanto controvérsia, conseguiu, segundo Amorim atender aos três pontos da proposta realizada pela Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica), em 2009. O Irã concordou em enviar 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França. Esse valor de enriquecimento, muito aquém dos 90% requeridos para produzir uma bomba, seriam utilizados para fins medicinais. A troca também ocorrerá fora do território iraniano, na Turquia.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL