Enquanto os Estados Unidos discutem a possibilidade de suspender o auxílio monetário a Honduras por conta do golpe de Estado ocorrido em 28 de junho, o FMI (Fundo Monetário Internacional) decidiu que vai manter a ajuda de 150,1 milhões de dólares ao país caribenho.
O pacote já havia sido anunciado pela instituição no final do ano passado e tem como objetivo amenizar os efeitos da crise econômica e apoiar a recuperação de Honduras. Outros países, como Guatemala, El Salvador e Costa Rica, terão o mesmo apoio financeiro, enquanto o México e a Nicarágua já receberam incentivos similares na semana passada.
O FMI teve vários encontros, desde meados do mês de agosto, com membros do G-20 (grupo de países ricos e principais emergentes), liderados pelo primeiro-ministro Gordon Brown, a presidente do Banco Central de Honduras (BCH), Sandra Midence, e a secretária de Finanças, Gabriela Núñez de Reyes, para avaliar se a ajuda deveria ser mantida ao governo golpista.
Com a decisão de liberar a verba, Honduras terá um aumento de 163,9 milhões de dólares em reservas internacionais, de acordo com informações divulgadas pelo BCH. A quantia de 13,8 milhões de dólares será liberada ainda em setembro. O dinheiro deve ser destinado ao incentivo da produção industrial para tentar equilibrar a balança comercial, aumentar o consumo, reduzir o desemprego (28%) e controlar a inflação (6,4%).
Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Cortes de Honduras, Óscar Galeano, a ajuda do FMI trará benefícios para a economia. “A notícia chega em bom momento e gera muito otimismo e tranquilidade, já que será um apoio à balança comercial e às reservas internacionais”, declarou Galeano ao jornal hondurenho El Heraldo, que declaradamente apoia o governo golpista.
Na avaliação do cientista político Manuel Rojas, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais da Costa Rica, a decisão do FMI e do G-20 é sinal de que as instituições reconheceram o governo golpista de Roberto Micheletti. “O anúncio [do FMI] está tendo fins de propaganda em Honduras”.
Não foi apenas o FMI que optou por garantir ajuda econômica a Tegucigalpa, mas também a União Europeia. Segundo o Comitê para a América Latina do Conselho de Ministros do bloco europeu, o país caribenho não ficará “ilhado em suas relações comerciais”.
Após reunião realizada ontem, fontes oficiais do comitê disseram ao jornal hondurenho El Heraldo que as relações comerciais paralisadas em julho, como represália ao golpe militar, serão retomadas. O auxílio é estimado em 94 milhões de dólares.
Decisão norte-americana
O Departamento de Estado norte-americano decidirá amanhã se o novo governo de Honduras será qualificado como “interino” ou “golpista”.
A definição terá implicações jurídicas e econômicas, pois, segundo a legislação norte-americana, Washington teria que cortar toda a ajuda – de 18 milhões de dólares – que concede a Honduras, caso considere o governo como golpista.
Para amanhã, está prevista uma reunião entre o presidente deposto, Manuel Zelaya, que está na capital dos Estados Unidos desde segunda-feira, com a secretária de Estado, Hillary Clinton, para tratar da possibilidade de sanções norte-americanas a Tegucigalpa.
Gustavo Amador/EFE (01/09/09)
Manifestantes fazem grafite em bandeira do Partido Liberal hondurenho durante protesto a favor do retorno de Zelaya ao poder
Até o momento, Washington cancelou o auxílio militar de 16,5 milhões de dólares e suspendeu os vistos aos hondurenhos.
O cientista político Manuel Rojas acredita que a postura do FMI de não suspender o auxílio a Honduras sinaliza que, internamente, os Estados Unidos estão divididos entre legitimar ou rejeitar o novo governo, e que isso influenciará a decisão norte-americana.
Como forma de represália ao golpe, a OEA (Organização dos Estados Americanos) também suspendeu a participação do país no grupo, assim como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Banco Mundial, que deixou de aplicar cerca de 200 milhões de dólares, dos 5,6 bilhões que o governo planejava gastar neste ano.
Apesar da pressão internacional, o governo golpista de Roberto Micheletti não permitiu a volta de Zelaya ao país e iniciou a campanha eleitoral que pretende realizar em novembro.
NULL
NULL
NULL