Com a forte chuva que cai sobre diversas cidades na Venezuela nos últimos dias, os partidos da oposição e do governo às eleições parlamentares de hoje (26/9), que passaram as últimas semanas fazendo críticas um ao outro, agora convergiram em uma única preocupação: a abstenção eleitoral. As intensas chuvas dos últimos dias deixaram oito mortos, sete de uma mesma família, oito desaparecidos e numerosos danos e, segundo as autoridades, não afetaram a logística da eleição.
Hoje, os eleitores de Caracas acordaram mais cedo que o habitual, pouco
depois das 04h30, ao som do toque militar de Diana – um chamado feito
pela fanfarra do Exército na cidade inteira capaz de ser ouvido por
quem está dentro de casa dormindo.
Ouça:
A abstenção registrada no último pleito, referendo realizado em 15 de
fevereiro do ano passado e cujo resultado permitiu a reeleição
indefinida, foi de 29,67% – o voto não é obrigatório na Venezuela.
Para a coalizão governista, a manutenção da maioria absoluta na
Assembleia Nacional, ou dois terços das cadeiras, deve ser garantida nas
urnas, enquanto a oposição espera conquistar 60 assentos de um universo
de 165. A eleição marca o retorno ao plenário dos partidos de oposição,
que nas eleições parlamentares de 2005 decidiram retirar seus
candidatos por não confiar no processo eleitoral.
“O sistema eleitoral venezuelano é à prova de bala. Pode-se fazer
críticas a outras coisas, como o uso da máquina pública na campanha, mas
o sistema é seguro. A população confia muito no processo”, afirmou ao Opera Mundi Edgardo Lander, analista político da UCV (Universidade Central da Venezuela).
Marina Terra
O sistema eleitoral venezuelano é considerado um dos mais seguros do mundo
Ontem (25/9), um grupo de observadores internacionais convidados pelo governo elogiou o processo eleitoral venezuelano e garantiu que as eleições serão democráticas e seguras. “É um processo reconhecido por todos os organismos internacionais”, disse o representante do Uruguai, Alejandro Sánchez.
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“Somente na Venezuela há a auditoria de 54% de todas as mesas eleitorais, algo que em si já demonstra a seriedade do processo eleitoral”, concluiu Lander.
Além das forças governistas e da oposição “tradicional”, disputam a eleição candidatos do partido de esquerda PPT (Pátria Para Todos), ex-aliado do “chavismo”, que propõem uma alternativa à extrema polarização política do país.
Conforme a matéria discutida na Assembleia, é exigida uma proporção de votos: para alterações na Constituição, por exemplo, basta a maioria simples (50%+1); para a aprovação de leis habilitantes, equivalentes às medidas provisórias no Brasil, são necessários 3/5 dos votos, e finalmente, para convocar a Assembleia Constituinte, aprovar leis orgânicas ou nomear cargos ao Ministério de Justiça, entre outros, são exigidos 2/3 dos votos.
Na eleição de 2005, a base governista conquistou 140 cadeiras. No entanto, alguns quadros do chavismo abandonaram o bloco, como o NCR (quatro deputados) e o Movev (dois deputados, de orientação ecologista), além do Podemos, que tem sete deputados.
Chamado
Momentos antes da votação, os partidos pediram ao povo venezuelano que vote cedo, para evitar as chuvas, que normalmente começam pela tarde. As urnas abriram às 06h horário local (07h30 em Brasília) e fecham às 18h00 horário local (19h30 em Brasília). O prazo de 12 horas pode ser prolongado se existirem eleitores na fila para votar.
Efe
Entrada de um centro de votação em Caracas é guardado pela polícia nacional
Chávez, que ao longo da semana protagonizou diversas carreatas e comícios de apoio aos candidatos do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e seus aliados pelo país, fez uma série de declarações em sua conta no Twitter (@chavezcandanga) na noite de ontem (25/9). “Vamos demonstrar uma vez mais que a revolução chegou para ficar! Que ninguém fique sem votar”, escreveu o presidente.
Henrique Capriles, governador do estado de Miranda e um dos principais nomes do oposicionista Primeiro Justiça, também falou a seus eleitores para que compareçam às urnas. “Não há pessoa, cor ou ameaça que possa contra a força da mudança, que são vocês. Vamos adiante.”
Funcionamento
No sistema venezuelano, os deputados têm mandatos de cinco anos. A escolha dos legisladores é feita por voto popular, através de uma combinação de listas partidárias e de círculos eleitorais uninominais. Nessas eleições também serão escolhidos 12 representantes para o Parlamento Latino-Americano (Parlatino), por voto em lista.
Para a Assembleia, a população poderá escolher em uma cédula de votação 110 candidatos nominais e 52 deputados por uma lista, onde cada organização política tem a possibilidade de agrupar candidatos sem especificar o nome completo, além de um representante indígena. Cada cidadão poderá votar em até três opções de deputados, dependendo do estado. Em uma cédula separada, serão escolhidos os membros do Parlamento Latino-Americano por voto em lista.
Para a eleição parlamentar, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela) anunciou a instalação de 36.773 unidades distribuídas em 12.562 centros de votação e a presença de 61 mil testemunhas políticas, que estarão nas mesas representando as diferenças alianças de partidos.
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