O candidato opositor Salvador Nasralla anunciou na noite desta sexta-feira (22/12) que vai abandonar a luta pela Presidência de Honduras, após os Estados Unidos terem reconhecido como ganhador das eleições o presidente Juan Orlando Hernández. Segundo o ex-candidato, com a decisão, a Aliança de Oposição Contra a Ditadura – grupo pelo qual disputou o pleito – fica dissolvida.
“Com a decisão dos Estados Unidos eu saio de cena”, declarou Nasralla ao canal HCH, onde trabalhou como apresentador.
À emissora France 24, Nasralla confirmou a decisão. “No momento em que os Estados Unidos (que é quem decide as coisas na América Central) dá apoio a Juan Orlando Hernández, praticamente está destruindo a Aliança.” A aliança de oposição era também liderada pelo ex-presidente Manuel Zelaya.
Zelaya, no entanto, disse que a decisão de Nasralla foi “pessoal”. “Nosso povo deve programar suas mobilizações para manter uma posição de dignidade de grandeza. Somos um povo livre que não aceitamos a atitude entreguista de Juan Orlando Hernández. (…) Vencemos a ditadura nas urnas e ela deve ir embora logo”, afirmou o ex-presidente, em nota assinada pela Aliança.
Reprodução/Facebook
Nasralla anunciou que desistiu de contestar resultados em Honduras
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Os Estados Unidos reconheceram nesta sexta-feira a reeleição de Hernández, mas insistiram na revisão, de maneira “transparente e completa”, de qualquer impugnação referente às eleições, marcadas por suspeitas de fraude.
Nasralla assinalou que o reconhecimento de Hernández “foi um precedente imposto por eles”, em referência aos Estados Unidos, porque “têm muito medo dos governos de esquerda”.
O ex-candidato comunicou ainda sua saída da política para se dedicar a seus programas esportivos na principal rede de televisão do país, a Televicentro, se os proprietários o permitirem.
Mas o candidato derrotado destacou que ainda aguarda o resultado da ação da Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo secretário-geral, Luis Almagro, propôs repetir as eleições diante das suspeitas de fraude.
Protestos começaram em Honduras pela demora do TSE em dar os resultados eleitorais em definitivo e a acusação de suposta fraude para tirar a vitória de Nasralla, que tinha uma vantagem de cinco pontos sobre Hernández com mais de 50% das atas escrutadas. Mas, logo após uma “queda no sistema”, a brecha entre os candidatos se reduziu até favorecer JOH.
Golpe de 2009
Zelaya, então membro do Partido Liberal de Honduras, foi vítima de um golpe cívico-militar em 2009, penúltimo ano de seu mandato, sob a alegação de que estaria manobrando reformas na constituição. Os EUA, Brasil, membros da União Europeia e outros países condenaram o golpe, pedindo a restituição da legalidade no país.
Zelaya pretendia realizar uma consulta popular para saber se haveria a necessidade de uma reforma constitucional. O golpe gerou uma grave quebra de ordem, provocando um colapso econômico no país.
Em junho de 2012, sua esposa, Xiomara Castro, se candidatou à presidência pelo Libre, com o apoio de Zelaya. No entanto, o racha entre o seu partido e o também opositor Partido Anticorrupção (PAC), não conseguiu ameaçar a hegemonia do Partido Nacional, que venceu as eleições de 2013, elegendo JOH.
Zelaya formou então, em 2017, uma coalizão entre os dois partidos de oposição, apoiando Nasralla, em uma tentativa de ameaçar a reeleição de JOH, que só pôde concorrer ao pleito graças a uma polêmica emenda constitucional que dribla a proibição de um segundo mandato no país.
(*) Com RFI