Atualizado às 09h30 de 30/03/2021
O chanceler Ernesto Araújo pediu demissão do cargo no Ministério das Relações Exteriores nesta segunda-feira (29/03). A informação, que havia em um primeiro momento sido divulgada apenas por veículos da grande imprensa, foi confirmada pelo presidente Jair Bolsonaro por volta das 19h, anunciando não só a saída de Araújo, mas outras cinco mudanças em ministérios do governo.
A saída de Araújo acontece após o ministro ser questionado no Senado por sua má atuação durante a pandemia do novo coronavírus, por suas gestões fracassadas para conseguir vacinas e por suas hostilidades contra o governo e o corpo diplomático da China. Durante a sessão, um assessor de Bolsonaro, Filipe Martins, que acompanhava Araújo chegou a fazer gestos ligados a supremacistas brancos.
A pressão sobre o chanceler aumentou após os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e Rodrigo Pacheco, do Senado, criticarem Araújo por declarações dadas pelo ministro sobre a senadora Kátia Abreu.
Mais cedo, nesta segunda, alguns senadores disseram que apresentariam ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de impeachment contra o chanceler por crimes de responsabilidade. Entre os crimes, há menção aos ataques de Araújo contra a China, ao tratar a covid-19 como “vírus chinês, assim como “agir de maneira indecorosa, indigna e incompatível com a honra do cargo” na pandemia do coronavírus.
No sábado (27/03) uma carta assinada por cerca de 300 diplomatas pediu a saída do chanceler. O documento não citou nominalmente Araújo, mas apontou para os “equívocos” no Itamaraty e para “condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo os códigos mais elementares da prática diplomática”.
“A crise da covid-19 tem revelado que equívocos na condução da política externa trazem prejuízos concretos à população. Além de problemas mais imediatos, como a falta de vacinas, de insumos ou a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país”, diz o documento.
Gustavo Magalhães/MRE
Segundo Folha de S. Paulo e TV Globo, demissão já foi apresentada por Araújo a Bolsonaro
Ernesto Araújo
Araújo coleciona uma série de polêmicas à frente do Itamaraty desde o início do governo Bolsonaro, em problemas que se agravaram durante a pandemia da covid-19.
Defensor de teorias da conspiração e de práticas ultradireitistas, o ex-ministro chegou a publicar um texto em que classificava o coronavírus como “comunavírus”, hostilizando a China, e atacou por diversas vezes o maior parceiro econômico do país. Araújo também ganhou destaque quando afirmou que o nazismo era “de esquerda”.
Além disso, idolatrava o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e chegou a fazer campanha para o republicano. Quando Joe Biden foi eleito, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a parabenizar o democrata.
Nas últimas semanas, porém, a situação foi ficando cada vez mais grave por conta da demora do governo Bolsonaro em comprar vacinas contra a covid-19, além da lentidão em demonstrar interesse em receber as vacinas excedentes dos EUA.
Outro fator importante da gestão Araújo é ter alterado a dinâmica das relações internacionais brasileiras. Por tradição, o Brasil sempre atuou como mediador em diversas questões importantes, com bastante pragmatismo, sem ter um alinhamento automático com nenhum país.
Durante o período em que o chanceler ficou à frente do Itamaraty, isso mudou. O país passou a se alinhar com os Estados Unidos automaticamente e minou diversas posturas como no caso dos palestinos, do fim das patentes para as vacinas contra a covid com a Índia ou ainda de atacar os países vizinhos, como nos casos da Venezuela e Argentina.
Ainda sob a gestão de Araújo, o Brasil votou, pela primeira vez na história, contra a resolução na ONU que condena o bloqueio norte-americano contra Cuba.
(*) Com Ansa.