O governo da Argentina recebeu o apoio dos 33 países da América Latina e do Caribe que participam da chamada “Cúpula da Unidade”, em Cancún, no México, para sua reivindicação de soberania sobre as Ilhas Malvinas, dependência britânica. A resolução foi tomada no âmbito da tensão diplomática entre a Argentina e Reino Unido, provocada pelo começo da exploração de petróleo por parte da empresa britânica Desire Petroleum, ao norte das ilhas.
Leia mais:
Empresa britânica inicia exploração de petróleo nas Malvinas
Dias atrás, o governo argentino decretou que todas as embarcações que passarem por suas águas territoriais com destino ao arquipélago deverão pedir autorização prévia. Analistas, contudo, consideraram a decisão como de pouco efeito prático – já que não é indispensável passar por pelo mar argentino para chegar às Malvinas –, mas de forte conteúdo diplomático.
“A Argentina vai insistir em sua reivindicação, sempre na vocação democrática e do direito internacional”, declarou a presidente Cristina Kirchner em seu discurso na cúpula.
Um dos dados mais significativos é o forte apoio dado à Argentina por parte das nações caribenhas que se tornaram independentes do Reino Unido há poucas décadas e com quem ainda mantêm fortes laços comerciais.
As Ilhas Malvinas – ou Falklands, segundo Londres – são objeto de litígio entre os dos países desde 1833. Seu domínio territorial foi a causa do conflito armado de 1982, a Guerra das Malvinas, perdida pela Argentina.
“Ainda não pensamos em ações legais, mas tomaremos uma ampla série de medidas diplomáticas, já que o Reino Unido não está cumprindo os acordos”, disse em comunicado o deputado Ruperto Godoy, integrante da comitiva argentina em Cancún. Os acordos aos quais ele se refere são resoluções tomadas pela ONU, nas quais é expressamente afirmado que “as partes em conflito estão obrigadas a não inovar e não realizar ações unilaterais”. Segundo a Argentina, a exploração pesqueira ou de hidrocarbonetos (como o petróleo) na área seria uma delas e violaria a resolução.
“O ponto é que, para a Inglaterra, não são ações unilaterais, já que eles consideram que não há nenhum conflito pelo território”, explica o especialista em geopolítica e energia Federico Bernal ao Opera Mundi.
A escalada promete aumentar, pois já está confirmada a reunião do chanceler argentino Jorge Taiana na quarta-feira com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Taiana deve exigir a abertura de diálogo com o Reino Unido para voltar a discutir a soberania sobre as ilhas.
Perfurações
A busca por petróleo está a cargo da plataforma Ocean Guardian, contratada pela Desire Petroleum. Espera-se que a empresa conduza o trabalho em oito dos 15 poços na região. Segundo o plan do governo inglês, nas próximas semanas outras três empresas devem se juntar à exploração: Falkland Oil & Gas, Rockhopper e Borders & Southern Petroleum.
Até pouco tempo atrás, pensava-se que o potencial petrolífero dos leitos marítimos das ilhas era muito fraco. No entanto, especialistas argentinos consideram que lá pode haver pelo menos 7,9 bilhões de barris de petróleo.
“Trata-se de quatro vezes mais a quantidade de reservas totais da Argentina, tanto continentais quanto insulares, e o dobro das reservas do Reino Unido”, assegura Bernal.
As decisões do governo de Cristina significam uma clara mudança de rumo com relação à política exterior argentina dos últimos anos. Na década de 1980, ela era orientada pela chamada “diplomacia do guarda-chuva”, pela qual se deixava de lado o debate sobre a soberania das ilhas mas se mantinham todas as relações diplomáticas e comerciais. Já nos 1990 levou adiante a denominada “política de sedução”, baseada em levar em conta os desejos dos habitantes das ilhas e tratá-los como a terceira parte nas negociações. Mas esta política se mostrou estéril, já que a maior parte da população das Malvinas quer continuar súdita da coroa britânica.
NULL
NULL
NULL