Durou pouco a euforia da comunidade arqueológica na Rússia com o anúncio de que teriam sido descobertos os restos do tsar-mirim Ivã IV, que reinou por alguns meses entre 1740 e 1741, mesmo sendo recém-nascido. Menos de 24 horas depois, a informação foi contestada e desmentida por historiadores do país.
Na segunda-feira (13/9), arqueólogos divulgaram ter encontrado a ossada de um homem de 25 anos com lesões e enterrado há mais de 200 anos, o que corresponderia à descrição do jovem monarca. De acordo com a agência de notícias russa Interfaks, os restos teriam sido encontrados no povoado de Kholmogori (em russo, “alto do monte”), perto da cidade de Arkhangelsk, no extremo norte do país, durante escavações realizadas no local onde fora enterrado o pai do tsar, o príncipe alemão Antônio de Brunswick (1714-1774). Para a surpresa dos pesquisadores, outro corpo foi encontrado, que agora acreditam ser do tsar.
“Durante escavações em Kholmogori, conseguimos encontrar os restos do imperador russo Ivã VI. Até este momento, seu local de sepultamento permanecia desconhecidos”, disse o empresário Anatóli Karanin, chefe da equipe de escavação.
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Ivã Antonóvitch Romanov nasceu em 1740, filho de um príncipe alemão e bisneto do tsar Ivã V. Quando sua tia Ana virou imperatriz, o menino tinha um mês e meio de vida e foi adotado como herdeiro do trono. Ana morreu poucos dias depois e Ivã foi proclamado tsar, com um grão-duque como regente.
Confirmação
Entretanto, no ano seguinte, a grã-duquesa Elizabete, irmã mais nova de Ana, liderou um golpe palaciano para usurpar o trono e o imperador-criança acabou preso e exilado. O ex-tsar passou 23 anos na fortaleza de Shlisselburg, perto de São Petersburgo.
Em 1764, quando a imperatriz já era Catarina II, a Grande, nora de Elizabete, uma rebelião tentou libertar Ivã VI e restaurá-lo. Seguindo ordens secretas para impedir a revolta, o comandante da fortaleza executou o príncipe e seu corpo foi escondido.
Segundo Karanin, há uma possibilidade “extremamente alta” de que os restos sejam genuínos, principalmente por causa do tipo de lesão encontrada, mas eles ainda serão encaminhados para testes para a confirmação.
Farsa e violação
No entanto, a rádio oficial Voz da Rússia (antiga Rádio Moscou) divulgou nesta terça-feira (14/9) que o historiador Andrei Sakharov – sem parentesco com o dissidente soviético homônimo – desmentiu publicamente a veracidade do achado. De acordo com ele, Karanin é um “caçador de recompensas”, não tem experiência em escavações e a descoberta não passa de uma “farsa”. Outros historiadores russos ainda temem que a escavação amadora possa ter danificado irremediavelmente o sítio arqueológico.
Segundo o canal de notícias russo RT, outras dúvidas que pairam sobre a credibilidade da descoberta dizem respeito à legalidade da escavação, que teria “violado os procedimentos oficiais”.
“Essencialmente, ele [Karanin] está violando a lei”, disse Isabella Sadirova, do órgão regulador de escavações históricas. Para ela, Karanin não está acreditado para realizar pesquisas arqueológicas e não está ligado a nenhuma instituição com a experiência necessária para isso.
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