Se você fica perdido quando ouve falar em ativos podres, não se sinta ignorante. Tampouco tenha a esperança de chegar ao fim desse texto entendendo tudo do assunto. Ninguém sabe direito o que é isso, nem o que significa ou para que serve. Nem sequer os economistas.
“É o grande problema deste imbróglio todo. Ninguém tem a mínima ideia do que os jornais e a televisão estão falando. Nem eu”, confessa, despreocupadamente, o economista Jaime Sanguinetti, presidente da consultora financeira DuvTech Systems.
Em termos meramente econômicos, os ativos tóxicos são pacotes de investimento de valor desconhecido. Ou seja, tiveram seu valor inicial quando foram adquiridos, mas devido a um superdimensionamento do mercado, esse montante caiu, sem que se saiba quanto, porque o mercado que os criou desapareceu.
Quando, em meados do ano passado, o mercado imobiliário norte-americano ruiu, a generalidade dos economistas e analistas descobriram que as grandes empresas financeiras tinham ido além da intervenção tradicional no mercado. Tinham se lançado de barriga nas imobiliárias, uma espécie de quintal privado dos bancos.
A intervenção foi tão grande que as financeiras passaram a depender exclusivamente do mercado imobiliário, explica Sanguinetti ao Opera Mundi. “Abandonaram outras carteiras de investimentos. Em muitos casos, dependiam de um só produto”.
Oferta e procura
Durante quase 10 anos, essas empresas compraram residências, edifícios, propriedades a um determinado preço e, em seguida, vendiam por outro mais alto, baseando-se apenas na velha lei da oferta e da procura. “Não olhavam para mais nada. Criaram empresas só para isso”, recorda o experiente economista.
Indicadores de mercado como Standard&Poors e Moody’s começaram a valorizar essas empresas, dando-lhes uma aparência saudável que não tinham. “Muitas dessas notas, para lhes chamar de algum modo, acabaram por incentivar o mercado. As pessoas investiam porque esses dois indicadores eram bons”, explica Sanguinetti.
Assim, as imobiliárias foram adquirindo valores em função dos ativos de que dispunham. Fossem ativos físicos, como as propriedades, ou financeiros, como ações e investimentos. Por isso, quando o mercado veio abaixo, ficaram como uma casca de ovo oca, com os ativos sem valor definido. São os ativos podres.
Por isso é que Sanguinetti admite que não sabe o que é isso. “A essa altura dos acontecimentos, ninguém sabe exatamente o que é um ativo podre porque desconhece seu valor. Como atribuir um valor a uma ação se o mercado que criou essa ação, que criou as condições para que essa ação aumentasse, agora não existe? Ninguém sabe. Nem eu”.
Subsídio
Os ativos podres são neste momento uma marca da administração de Barack Obama, porque ele – apesar da oposição de vários setores econômicos – propôs o relançamento econômico do país, baseado na recuperação das empresas que faliram e criaram o pandemônio imobiliário.
A ideia, explicou o analista financeiro da CNN, Allan Shertoff, consiste em atribuir a cada um desses ativos um valor determinado, muito inferior ao inicial, de forma a tornar a sua compra atrativa para todos. E para que essa atração seja ainda maior, o governo vai subsidiar a esmagadora maioria desse valor atribuído.
Por exemplo, se a ação de uma empresa em apuros custou originalmente 800 dólares, agora será vendida a 80. Quando um investidor decidir comprá-la, o governo federal paga diretamente 60 dólares, o FED (Banco Central americano) aporta 10 e o comprador, apenas o resto. Uma ação originalmente avaliada em 800 sai por 10. “É um risco porque não se sabe como o mercado vai funcionar, ou reagir”, afirma Shertoff.
Obama acha que a tentativa vale a pena. “A recuperação do mercado tem de começar por baixo. As pessoas não vão ter os lucros que querem, mas o mercado vai reativar”.
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