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Entre os itens para venda estão 34 carros e mais de 300 joias, roupas e pinturas
O Ministério das Finanças tunisiano abrirá para leilão neste sábado (22/12) os bens confiscados do ex-presidente Zine Ben Ali e de sua família. Entre os itens que irão para a chamada “venda de ganhos sujos” estão 34 carros de luxo e mais de 300 joias, roupas e pinturas, no total de R$27 bilhões.
A liquidação será realizada em Gammarth, no norte da capital Tunis, e incluirá ações de um banco, duas importadoras de carro e uma fábrica de cimento. Autoridades afirmaram que o dinheiro arrecadado será investido em ônibus escolares para crianças de áreas rurais e novas estradas.
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As vendas em Gammarth vem em tempos difíceis para a Tunísia. Protestos em regiões pobres desestimulam investimentos, desemprego bate recordes em algumas cidades, falta leite nos supermercados e continuam as críticas que acusam o governo islamita de incompetência econômica. A crise financeira do país está intimamente ligada à zona do euro, uma vez que a União Europeia é seu maior sócio comercial.
Um novo ministro das finanças, Elyes Fakhfakh, do partido de centro-esquerda Ettakatol, foi anunciado nesta quinta-feira (20/12). Fakhfakh afirmou que talvez seja necessário que o país recorra a uma linha de crédito de US$2,5 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI). O orçamento deste ano, de R$ 35,5 bilhões, inclui ajuda financeira de Banco Mundial, União Europeia, Catar, e Líbia – este último como retribuição ao fato de a Tunísia em receber refugiados líbios ano passado.
O ministro substituiu Hussein Dimassi, que se demitiu em julho deste ano por acreditar que seria insustentável o gasto em pensões para desempregados e compensações para 20 mil ex-prisioneiros políticos islamistas. Dimassi tinha discordâncias com o governo, e pelo mesmo motivo, o chefe do Banco Central havia sido demitido pelo presidente.
Além das dificuldades econômicas, a questão religiosa-política está longe de ser resolvida. Nesta segunda-feira (17/12), o presidente do país, Monsef Mazuki, foi apedrejado enquanto discursava na cidade de Sidi Buzid. O evento marcava a comemoração do segundo aniversário do estopim da Primavera Árabe, quando o jovem Mohamed Bouazizi se autoimolou em protesto contra a força policial repressiva.
Ozmán Uneis, membro da coalizão da Frente Popular da cidade, afirmou que o ataque foi em protesto contra “a incapacidade do governo de relançar o país e de aplicar os programas de desenvolvimento que melhorem a vida dos cidadãos”. Adicionou que “desde 2010, nenhum dos governos transitórios foi capaz de melhorar as condições de vida da população nem de acabar com a corrupção”.
O partido Ennahda, eleito em outubro de 2011, e o grupo salafista, de orientação fundamentalista sunita, querem dar um peso político e social maior ao Islã. Isso preocupa forças laicas, representadas por vários partidos e pela poderosa Seguidores da Organização Sindical da Tunísia (UGTT). Desde o final de novembro, as ruas tunisianas são sacudidas por confrontos entre policiais e sindicalistas, que protestam contra os problemas sociais e a arbitrariedade da polícia.
Ben Ali, sua mulher Leila Trabelsi e os dois filhos começarão o terceiro ano de exílio na Arábia Saudita, que recusou a extradição da família para a Tunísia. O ex-ditador, que comandou o país por 23 anos, foi condenado in absentia à prisão perpétua por acusações como abuso de dinheiro público. E, por R$ 40, o público poderá amanhã apreciar suas exageradas riquezas.
* Com informações de The Guardian, Reuters e Deutsche Welle