O primeiro-ministro britânico, David Cameron, um dos personagens do escândalo em torno da compra da emissora britânica de televisão BSkyB por Rupert Murdoch, falou neste domingo (29/04) a um dos canais da BBC que não fez acordo com o magnata australiano das telecomunicações em troca de apoio nas eleições parlamentares, em maio de 2010.
“A ideia de que houve uma grande negócio entre eu e Rupert Murdoch – não é verdadeira”, disse o premiê à BBC1, um dos canais da emissora britânica. Cameron se disse arrependido por ter comparecido a uma festa na casa da ex-diretora executiva do extinto jornal News of the World Rebekah Brooks, no Natal de 2010, e admitiu ter conversado com James Murdoch — filho do magnata australiano e vice-diretor da gigante News Corp. –, mas institiu que “não manteve diálogos inapropriados com ninguém”.
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Desde a publicação do inquérito Leveson, que detalhou a ligação entre os Murdoch, seus funcionários, o Ministro da Cultura, James Hunt, e seu assessor especial, Adam Smith, Cameron vem defendendo as ações de seu governo. Smith se demitiu por conta de seu envolvimento na tentativa de aquisição da BSkyB pela News Corp. Smith disse que renunciou porque criou uma percepção de que a News Corp. teve “uma relação muito próxima” com o ministério.
Cameron disse que não acreditava que Hunt quebrou o decoro, mas assinalou que o ministro seria demitido se evidências sobre o inquérito Leveson “apresentassem um cenário diferente do que ele imaginava”. O premiê britânico rejeitou a acusação de que havia alterado suas políticas para beneficiar alguém e afirmou que pretendia dizê-lo sob juramento.
“O que as pessoas estão se perguntando é se houve algum problema, algum grande acordo entre eu e Rupert Murdoch ou James Murdoch, em troca de apoio para o Partido Conservador, que eu auxiliaria os interesses de sua companhia ou permitiria que isso acontecesse. Isso não é verdade”, disse Cameron.
“Rupert Murdoch disse sob juramento no inquérito Leveson. James Murdoch também. Eu também o farei. Eu almejava o apoio de muitos jornais e comentaristas políticos, pois queria levar o país em uma direção diferente. Sobre os jornais de Murdoch, eu estava tentando convencer um grupo de publicações com uma visão majoritariamente de centro-direita, conservadora, que eles iriam preferir estar com o Partido Conservador liderando o país. Não há um grande mistério sobre isso”, explicou o premiê.
Cameron disse que não se lembrava de detalhes da conversa com Murdoch na festa dada por Brooks em 2010, mas que o diálogo girou em torno da controvérsia sobre comentários do Ministro das Empresas, Vince Cable, que havia “declarado guerra” cotra a News Corporation.
“O que me lembro de dizer, apesar de não em detalhes, foi algo como: claramente aquilo era inaceitável, vergonhoso para o governo e que aquela questão, dali em diante, seria tratada com imparcialidade, corretamente, mas que eu obviamente não tinha nada a ver com aquilo”, afirmou à BBC1. Perguntando pelo entrevistador se ele se sentia envergonhado por ter comparecido à festa, Cameron disse: “Claro, depois de tudo o que foi escrito e dito, é preciso fazer as coisas de forma diferente.”
Começo do escândalo
O estopim para o desenrolar de um dos maiores escândalos no Reino Unido aconteceu após denúncias de que o News of the World grampeou os telefone de centenas de celebridades e cidadãos comuns. Na época, Rupert Murdoch fechou o tabloide, o quedeu início a três investigações policiais, um inquérito judicial e mais de cem processos.
Uma das primeiras peças do jogo a cair foi Rebekah Brooks. Pressionado, James Murdoch renunciou à presidência executiva da News International, bem como à direção da BSkyB. Dona de 39,1% da operadora, a News Corporation fez uma oferta para comprar as ações restantes da empresa, abandonada em julho de 2011 por causa do escândalo.
Chamado a depor, James Murdoch disse que discutiu a compra da BSkyB durante um jantar privado do qual participou Cameron. Segundo James, o propósito das reuniões com Cameron era discutir vários assuntos, como política externa. Ele também contou que um executivo da News Corp precisou de apenas sete minutos para checar uma informação sobre a venda da BSkyB com uma autoridade do Ministério da Cultura.
A informação, postada em um blog da BBC em setembro de 2010, era a de que a Ofcom, órgão regulador da mídia britânica, iria rever a oferta da News Corp pela operadora.