Um grupo de rapazes adolescentes iniciou uma campanha nas ruas de Quito para lutar pela igualdade de sexos no Equador. Os “capacetes rosas” (cascos rosas no original), que militam uniformizados com camisas da mesma cor, afirmam que o objetivo da ação é conscientizar, mudar os hábitos e combater o preconceito da sociedade equatoriana. Para isso, abordam pessoas nas ruas para propagar os princípios que chamam de 'neomasculinos'. As informações são do jornal espanhol El Mundo e da agência de notícias Efe.
Efe
Grupo de capacetes rosas aborda casal equatoriano em Quito
“Somos um grupo formado por homens que querem mudanças. Já conseguimos mudar a nós mesmos e a algumas pessoas. Estamos cansados de atitudes machistas, tanto por parte dos homens quanto pelas mulheres”, explicou Fredy Calderón, de 18 anos e um dos líderes dos 'Capacetes Rosas'.
Na abordagem aos transeuntes, os jovens procuram, através de conversas, tentar convencer os equatorianos a mudarem suas atitudes. Eles também distribuem materiais didáticos, como um livro denominado “manual neomasculino”.
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O grupo foi formado pela ativista Rocio Rosero, presidente da ONG Ação Cidadã pela Democracia e Desenvolvimento. “A opção por lutar contra o machismo desde a adolescência é fundamental. É uma nova situação em um mundo onde há uma população que geralmente não tem voz”, afirma.
Efe
Reunião dos capacetes rosas equatorianos
Segundo a organização, o grupo, formado em maio, afirma já ter abordado cerca de 700 jovens em todo o país. Seus ativistas têm, em média, de 15 a 18 anos.
Retaliações
A iniciativa e o ativismo dos adolescentes, no entanto, lhes causaram problemas de relacionamento com amigos, famílias e até desconhecidos que os criticam durante as abordagens. “Muitos amigos cortaram a amizade. Diziam que não podiam compartilhar segredos (…) Me viam como uma mulher fofoqueira que iria revelar os segredos íntimos deles para suas parceiras”, diz Cristian Arias, 22 anos e roqueiro.
Efe
Membro do capacete rosa sentado ao lado do manual 'neomasculino'
“Um homem dentro de casa, se não lava ou cozinha, é machista. Essas atividades não te fazem menos homem, ao contrário, te fazem mais homem, pois você ajuda sua família”, diz Damián Valencia, que critica seu pai por não colaborar com os deveres de casa.
Todos eles contam que, no Equador, a “masculinidade” é forjada a partir de práticas que consideram machistas. “Sempre dizem: comporte-se com um homem, você tem que maltratá-las”, afirma Calderón. “Aos 14 anos, o pai costuma levar o filho ao prostíbulo e quando sai de lá 'um rapazinho', tem dois copos de cerveja lhe esperando”, diz Valencia, em tom de reprovação. Ele confessa que, aos 16 anos, se negou a ir com os irmãos a um bordel.
Outro problema que enfrentam é que se sentem discriminados mesmo quando recebem apoio: “As meninas ficam super felizes e impressionadas por saberem que existem meninos como nós. Mas ainda seguem sendo machistas e dizem: 'Você é tão lindo, mas quero você como um amigo'”, protesta Calderón.
Preocupação procedente
De acordo com o Plano Nacional de Erradicação da Violência de Gênero, promovido pelo governo equatoriano, oito a cada dez mulheres no país já sofreram algum tipo de violência. E 21% de crianças e adolescentes, homens ou mulheres, foram vítimas de algum tipo de abuso sexual.
“A cada 10 mil denúncias à promotoria por abuso sexual, apenas 300 casos foram concluídos. Existe uma situação gravíssima de impunidade judicial”, denunciou à Efe a representante das Nações Unidas para as mulheres, Lucía Salamea-Palacios.
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