O colecionador de artes alemão Cornelius Gurlitt, morto nesta terça-feira (06/05), deixou em testamento o polêmico acervo que possuía e foi mantido escondido por décadas para o Museu de Arte de Berna, na Suiça. Filho recluso do comerciante de artes Hildebrandt Gurlitt, que trabalhou para os nazistas, Cornelius acumulou obras com valor estimado de 1 bilhão de euros. Representantes do museu afirmaram que a notícia chegou “como um raio” e que ficaram encantados em saber que o local é o “herdeiro único, irrestrito e ilimitado” da coleção.
Agência Efe
Vista do apartamento do colecionador Cornelius Gurlitt, em Munique, onde foi encontrado grande parte do acervo
No testamento, Gurlitt leva a crer que não queria que o acervo permanecesse na Alemanha depois que ele morresse. No inicio de abril, o colecionador aceitou colaborar com o governo alemão para distinguir se cerca de 600 obras foram tomadas de seus proprietários judeus durante o regime nazista. Após a divulgação do testamento, o Ministério da Cultura da Baviera anunciou que irá averiguar se parte do acervo pode ser considerado patrimônio cultural alemão. Caso sejam classificadas assim, as obras precisarão de permissão especial para deixarem o país.
Em comunicado, o museu afirmou que não tinha nenhuma ligação com Gurlitt. “O Conselho de Curadores e diretores do Museu de Berna está surpreso e encantado, mas, ao mesmo tempo não queremos esconder o fato de que esta magnifica herança traz consigo uma carga considerável de responsabilidade, e uma grande variedade de questões difíceis e sensíveis”, afirmou.
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Reprodução
“Dois Cavaleiros na praia”, de Max Liebermann; a pintura faz parte do acervo de Cornelius
De acordo com o porta-voz de Gurlitt, Stephan Holzinger, o colecionador redigiu o testamento durante as últimas semanas de vida, pouco antes de ser submetido a uma cirurgia do coração. “Cabe agora ao tribunal determinar se a vontade dele é válida”, afirmou durante entrevista para BBC.
Em fevereiro de 2012, investigadores alemães encontraram mais de 1.400 obras no apartamento de Gurlitt, em Munique. Outras 60 obras foram encontradas em outra casa, localizada perto de Salzburgo, na Áustria, no início de 2014. Nomes como Picasso, Renoir, Chagall, Matisse e Max Liebermann fazem parte do acervo.
Depois que as obras foram confiscadas, o governo alemão se deparou com o problema de devolvê-las a seus herdeiros legítimos. Inicialmente, Gurlitt insistiu que o pai havia adquirido todas as obras legalmente. Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, o colecionador afirmou que queria apenas “viver em casa” com suas peças, e que elas eram o que mais amava na vida. Cornelius Gurlitt não foi obrigado a devolver as pinturas porque, de acordo com a Justiça alemã, as apropriações aconteceram há mais de 30 anos.