Com domínio de idiomas, refugiados lecionam em escola onde aprenderam português em SP
Há seis meses no Brasil, sírio Ammanuel Ouba ensina inglês e senegalês Papa Ba é professor de francês na escola de idiomas do centro de pesquisas BibliASPA
Sírio Ammanuel Ouba ministra curso de inglês no centro de SP
As aulas de idiomas começam pontualmente às 19h30 na BibliASPA (Bibilioteca e Centro de Pesquisa América do Sul – Países Árabes), na região central de SP. Na língua inglesa, quem ministra a atividade é o professor Ammanuel Ouba. O jovem sírio, 21 anos, veio ao Brasil em agosto de 2015 para escapar da guerra. Ainda aprendendo a falar português, conseguiu emprego como professor.
“As aulas são ótimas e gosto muito de ser professor. Já tive essa experiência antes de vir ao Brasil. Sempre estudei a língua inglesa enquanto morava na Síria, me envolvendo na cultura, na TV, na música inglesa, lendo muito no idioma. Quero fazer o mesmo com o português”, explica o refugiado.
No segundo andar da BibliASPA, o senegalês Papa Ba conduz a aula de francês. Formado em Letras no Senegal, o professor de 28 anos já ensinava a língua francesa para crianças e adolescentes antes de chegar ao Brasil. Em São Paulo, pretende dar continuidade à carreira, interrompida pelos conflitos no país de origem.
“Além da língua francesa, pretendo ensinar história e cultura africana aqui no Brasil. Não importa se você é refugiado ou estrangeiro, o que importa é trazer conhecimento. Vim em busca do desafio”, afirma Papa Ba.
Refugiados no Brasil, Papa Ba e Ammanuel foram contratados para ministrar cursos intensivos de férias. Três vezes por semana até o fim de fevereiro, serão os responsáveis por turmas de até 10 alunos.
Em comum, recordam a chance que tiveram em 2015 de estudar português na BibliASPA, o que garantiu mais tarde a oportunidade como professores.
“Foi muito bom estudar português, pois sem o idioma é difícil conseguir trabalho. Como sou formado em Letras, sei o quanto a linguagem faz diferença”, afirma Papa Ba.
Agora professores, Papa Ba e Ammanuel fazem parte do grupo de estrangeiros que chegam ao Brasil com bagagem acadêmica e experiência profissional, mas enfrentam dificuldades para encontrar empregos.
Com a falta de domínio da língua portuguesa e dificuldade em comprovar a equivalência de diploma, os refugiados demoram meses até conseguir a primeira oportunidade profissional.
Para Papa Ba e Ammanuel, o emprego na BibliASPA é o primeiro em seis meses no país.
“Esse tipo de oportunidade beneficia os dois lados, brasileiros e refugiados. Em situação de crise, como a que vivemos no Brasil, é muito difícil para o estrangeiro conseguir emprego. Parte dos que chegam ao país vai trabalhar em posições que não correspondem com a formação que eles possuem. Com as vagas para professor, temos geração de renda para esses refugiados e proporcionamos um curso de idioma rico, com a bagagem cultural de cada um”, afirma Paulo Daniel Farah, professor da USP e presidente da BibliASPA.
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Opera Mundi TV
Senegalês Papa Ba é formado em Letras e já trabalhava com língua francesa antes de chegar ao Brasil
Falar o idioma é apenas um dos requisitos para trabalhar como professor na BibliASPA. Papa Ba e Ammanuel passaram por treinamentos e processo seletivo para comprovar que podiam ministrar os cursos.
“Temos um trabalho de 14 anos com estrangeiros e refugiados, preparando cursos de idiomas e cultura africana e árabe. Asseguramos que ninguém chega à sala de aula sem preparo. Buscamos um bom plano, separação do material, vídeos e músicas, etc. Nesse sentido, criamos uma metodologia própria, com ênfase na comunicação e na cultura. A língua é algo e vivo e usamos a experiência cultural desses refugiados para proporcionar esses cursos de idioma. Todos são beneficiados”, explica Farah.
“Vejo que não são muitos brasileiros que buscam aprender a língua francesa. Fico muito feliz de saber que as pessoas querem estudar aqui com a gente”, diz Papa Ba.
“O Brasil nos recebeu muito bem. Queremos retribuir”, conclui Ammanuel.