Lua-de-mel. É dessa forma que a imprensa colombiana e venezuelana define a nova fase das relações diplomáticas entre as duas nações sul-americanas. E não é por menos: essa semana o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, classificou Hugo Chávez como “seu novo melhor amigo”, elogio retribuído pelo venezuelano, e em 2 de novembro Santos foi a Caracas e assinou acordos em diferentes áreas, com o intuito de resgatar o intercâmbio comercial, rompido durante a presidência de Álvaro Uribe.
Em 2008, antes da crise, o comércio bilateral chegou a 7,2 bilhões de dólares, e despencou quando se romperam as relações comerciais. Em 2010, não deve superar 1,2 bilhão de dólares.
Efe
Santos e Chávez em Caracas: tema das bases norte-americanas ficou de fora, mas diversos acordos foram firmados
O resultado do encontro foi considerado muito positivo por ambos os presidentes. “Passamos das boas intenções para os acordos concretos. […] Faremos o possível para continuar fortalecendo esta relação”, comentou o presidente colombiano. Chávez, por sua vez, declarou em entrevista coletiva que “o mundo deve saber que Santos e Chávez não permitirão que nada nem ninguém nos afaste. Nada nem ninguém nos afastará”.
Mas nem todos acreditam que o reatamento avança tão bem quanto parece. Na fronteira, a situação continua difícil, tanto que Alexis Balza, membro do governo do estado de Táchira, declarou à imprensa: “Passaram-se três meses desde a retomada das relações diplomáticas com a Colômbia e os habitantes dos municípios fronteiriços da região ocidental continuam sofrendo os efeitos e as consequências das rupturas do comércio e social, produtos do bloqueio econômico criado pelo governo central”. Segundo o funcionário, os dois presidentes evitaram abordar temas que poderiam causar incômodo um ao outro.
Efetivamente, não se falou no assunto das bases norte-americanas na Colômbia, que foram a razão da crise entre os dois países e envolveram toda a América do Sul. Segundo o ministro da Defesa colombiano, Rodrigo Rivera, trata-se de um assunto delicado demais para tratar num momento em que “Chávez e Santos tentam uma aproximação”.
O ex-ministro da Saúde Camilo González Posso, especialista em política internacional e diretor do think tank Indepaz , afirmou ao Opera Mundi que Santos deu sinais em relação às bases e adiou a solução do problema para depois que a Corte Constitucional invalidou o acordo. “Isso esfriou esse foco de tensão com a Venezuela. Não faz sentido o tema voltar a integrar a agenda pública. Posso acreditar que Chávez também fez sua parte ao declarar explicitamente que condena a luta armada na Colômbia.”
Segundo ele, além disso, o fato é que houve uma mudança de agenda. “O estilo de diplomacia apresentado por Santos e seu chanceler é diferente do estilo de diplomacia antiterrorista do governo Uribe. Alguns canais diplomáticos estão sendo recuperados e alguns temas críticos perdem força. Por isso, a agenda volta-se para os assuntos de cooperação econômica e energética. Para Santos, no momento, o tema da diplomacia são os negócios”.
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González aponta, porém, que a figura Uribe pode criar novos inconvenientes na relação bilateral. “Uribe é um perigo para as relações entre os dois países, pois maneja a diplomacia com ideologia e é especialista na polarização, sobretudo aquela movida por motivos ideológicos.”
Na semana passada, ao receber um prêmio em Madri, o ex-presidente colombiano declarou que “a escalada armamentista da Venezuela é extremamente perigosa para a segurança de seus cidadãos e seus vizinhos” e acrescentou que seus “anúncios de desenvolvimento nuclear” são uma “perigosa ameaça” para a segurança da região.
Pontos definidos
No começo deste mês os dois presidentes revisaram o trabalho das cinco comissões bilaterais criadas durante o encontro em agosto (comercial, social, segurança, fronteiras e infraestrutura) para resolver problemas do passado. No encontro foi decidida a construção de uma nova ponte internacional na região de Tienditas para unir a cidade colombiana de Ureña a San Antonio, na Venezuela. Falou-se também na possibilidade de ampliar o gasoduto Colombiano-Venezuelano até a América Central e construir outro na região da planície de Orinoquia.
Santos e Chávez ainda falaram da possibilidade de firmar um acordo de livre comércio em 2011. Desde a saída da Venezuela da CAN (Comunidade Andina de Nações), os dois países ficaram sem um acordo que permita a livre circulação dos bens, inclusive os complementares.
Os presidentes concordaram em criar o Comitê Binacional Econômico Produtivo para impulsionar os compromissos econômicos e as alianças intersetoriais da indústria têxtil, de alimentos, café, cacau, gado, habitação, materiais de construção, automotiva e energética.
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Segurança
Finalmente, Santos e Chávez assinaram com um acordo para facilitar o combate do narcotráfico. Os ministros de Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín, e da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiram “criar um grupo de trabalho de caráter binacional na luta contra o problema mundial das drogas”. Além disso, a Venezuela decidiu mobilizar mais 15 mil homens para as forças que vigiam a longa fronteira.
Para o lado venezuelano, isso foi um reconhecimento da luta contra o narcotráfico promovida no país. O especialista em relações internacionais venezuelano Carlos Maregatti, simpatizante do governo, declarou que, “ao firmar um convênio com o país para a colaboração na luta contra as drogas, a Colômbia reconhece os avanços do Governo Bolivariano nesta matéria”.
O tema da suposta infiltração de grupos guerrilheiros colombianos em território venezuelano motivou o último confronto entre os países vizinhos, quando o então presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, a poucos dias de encerrar o mandato, denunciou à OEA (Organização dos Estados Americanos) a presença de acampamentos da guerrilha na Venezuela.
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