Começou hoje, em um tribunal federal argentino, o julgamento de 19 pessoas acusadas de colaborar com a repressão militar no país (1976-1983). Os réus prestarão contas pelos crimes cometidos na Esma (Escola de Mecânica da Marinha), a principal prisão clandestina da ditadura argentina –, em Buenos Aires. Se calcula que tenham passado mais de 5 mil pessoas detidas de forma ilegal neste centro.
Esse é o primeiro grande julgamento feito sobre os atos ilegais cometidos na Escola, onde constam três crimes contra os direitos humanos: seqüestro, tortura e desaparecimento.
O processo que deve durar cerca de seis meses, pretende julgar assassinatos (desaparecimentos) como do jornalista Rodolfo Walsh, das freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet, além do caso de três das fundadoras do movimento “Mães da Praça de Maio”, Mary Bianco, Esther de Careaga e Azucena Villaflor.
Entre os réus estão alguns dos ex-dirigentes da Escola, como o capitão da Marinha Alfredo Astiz, Ricardo Cavallo (que esteve preso na Espanha entre 2003 e 2008) e Juan Carlos Rolón. O secretário de Estado de Direitos Humanos, Luis Alem, pediu a cadeia perpétua para os envolvidos.
O caso de Astiz é famoso na Argentina. O ex-coronel, que era conhecido como da morte anjo ou anjo loiro (devido a cor de seus cabelos e seus olhos azuis), ficou encarregado durante a década de 70, a trabalhar infiltrado como espião em grupos de diretos humanos, especialmente no movimento das Mães da Praça de Maio.
Acredita-se que foi o responsável por muitos dos desaparecimentos registrados, inclusive o das freiras francesas. Na França, inclusive, Astiz foi condenado à cadeia perpétua pelo crime.
Quase 300 testemunhas darão seus depoimentos no julgamento, muitos deles sobreviventes da prisão da Esma.
Histórico
Instruída pelo juiz Sergio Torres, a causa foi reaberta na Argentina após a derrogação parlamentar em 2003 das “leis do perdão”, que livravam mais de mil repressores de suas responsabilidades.
De acordo com dados oficiais, 18 mil pessoas desapareceram na Argentina durante a ditadura, embora organismos de direitos humanos elevem esse número para 30 mil pessoas.
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