O conflito gerado pela demanda territorial do povo mapuche, grupo indígena do sul do Chile, vem se acentuando nos últimos días. A morte de um índio na zona da Araucânia – onde se localizam majoritariamente as comunidades mapuches – foi seguida por violência policial, pela exigência de uma nação autônoma e por uma dura resposta do governo chileno.
O objetivo do governo é reduzir a ação, especialmente policial, em certas comunidades para em seguida não dar conta do problema que é muito mais global. O professor Alejandro Herrera, do Instituto de Assuntos Indígenas da Universidade de La Frontera, afirma que a resposta governista é equivocada, já que prejudica os integrantes das comunidades ao agir só através da repressão e não atacando a razão do conflito, que é a demanda territorial e política da etnia mapuche.
“O conflito se transferiu para as comunidades. Já não são organizações de alcance nacional, mas comunidades específicas, o que é grave do ponto de vista dos efeitos sobre seus membros, a propósito da ação policial”, afirma o acadêmico.
Reação dura
Um comunicado emitido pela entidade de representação mapuche Coordenação Arauco Malleco, assumindo ter incendiado dois caminhões da guarda florestal chilena na provincia de Malleco, foi rapidamente respondido pelo governo.
O ministro do Interior, Edmundo Pérez Yoma, afirmou que embora as responsabilidades penais sejam individuais, “se for determinado que há comunidades que estejam amparando este tipo de criminosos, elas não terão nenhuma possibilidade de manter conversações com as autoridades para possíveis entregas de terras.”
A tensão na região da Araucânia obrigou o governo chileno a declarar a lei antiterrorismo como válida para as comunidades responsáveis pelos ataques, tanto contra caminhões quanto contra policiais. Mesmo assim, foi aberta uma investigação para esclarecer os fatos sobre a morte de um mapuche, fato ainda não confirmado pelas comunidades locais.
Pancadas
“A lei antiterrorismo, invocada mais uma vez pelo governo para combater a violência na Araucânia, foi concebida sob um regime ditatorial. Esta é uma lei vaga e confusa”, afirma o analista chileno Raúl Sohr.
Para ele, a maioria dos chilenos admite que as raízes das reivindicações do povo mapuche são profundas. A dívida histórica do Estado com seus primeiros habitantes não foi nem remotamente paga.
“A rigor, são mapuches os que morrem cravados de bala, não policiais nem agricultores. São eles os que recebem as pancadas, eles são vítimas de sequestros e intimidações que inclusive atingem menores. Mas é só contra eles que se acusa como únicos responsáveis pelo conflito da Araucânia”, diz.
Segundo Sohr, o Estado chileno tem uma infinita bateria de leis e recursos para manter a ordem. “Aplicar a lei antiterrorismo, que triplica as penas de forma automática, representa um ato discriminatório que só agravará o conflito”.
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