O Congresso do Peru aprovou nesta sexta-feira (27/08) o gabinete de ministros do presidente recém-empossado Pedro Castillo. Foram 73 votos a favor e 50 contrários à moção de confiança apresentada pelo governo, procedimento obrigatório a todo presidente eleito no país.
Logo após o resultado, Castillo agradeceu a decisão do Legislativo e disse que “a busca por consensos nos permitirá governar junto com o povo e pelo desenvolvimento de políticas públicas com caráter social”.
“É o momento de incentivar o profundo diálogo entre todas as raízes políticas, sobretudo com setores mais esquecidos da nossa sociedade. Vamos construir juntos um Peru mais justo e sem discriminação entre os cidadãos”, afirmou o mandatário.
Em sua intervenção final no Congresso, que ocorreu nesta sexta-feira, o primeiro-ministro Guido Bellido voltou a falar em “construir pontes” com os deputados e garantiu que o Executivo quer “realizar mudanças com democracia e paz”.
Em nota, o Conselho de Ministros, órgão presidido por Bellido, afirmou que a votação possibilita alcançar “consensos e novas oportunidades que o povo necessita”. “Cumprimentamos o Congresso do Peru por nos ajudar a impulsionar o progresso, a justiça e a igualdade que o país precisa”, afirmou.
A vitória alcançada pelo governo nesta sexta atende às expectativas do presidente e de seus ministros, que temiam a imposição de um rearranjo ostensivo no gabinete caso o Parlamento negasse o voto de confiança.
Além disso, a aprovação do gabinete chega para acalmar um momento conturbado para o governo, que vinha enfrentando pressões da direita e da extrema direita pedindo a troca de ministros que consideravam “radicais” e “não abertos ao diálogo”. A renúncia do agora ex-chanceler Héctor Béjar, sociólogo e ex-guerrilheiro de esquerda, no último dia 17 de agosto, quando havia completado apenas 20 dias no cargo, inaugurou a primeira onda de instabilidade da gestão de Castillo, que agora o Executivo espera superar.
A sessão, que começou na quinta-feira (26/08), foi marcada por hostilidades por parte da oposição de direita ao governo, principalmente de parlamentares do partido Força Popular, liderado pela ultradireitista Keiko Fujimori.
Logo no início de seu discurso, ainda na quinta, Bellido, que chefia o gabinete de Catillo, foi interrompido por vaias e protestos após começar o pronunciamento em quéchua e aymara, línguas faladas por povos indígenas do Peru.
Reprodução/Pedro Castillo
Premiê Guido Bellido chefia gabinete do presidente Pedro Castillo
O premiê chegou a ser interrompido inclusive pela presidente do Congresso, María del Carmen Alva, que pediu que ele traduzisse tudo o que havia falado e passasse a realizar o pronunciamento em espanhol. “Os demais não entendemos”, justificou a parlamentar.
Diversos parlamentares insistiram em acusar o primeiro-ministro por supostos “vínculos com terrorismo”, alegação que vem sendo ventilada por setores da direita e da imprensa. O premiê nega.
Derrotada na votação, a direita buscava negar o gabinete se utilizando de argumentos que classificavam os ministros de Castillo como “radicais” e não abertos ao diálogo.
Respondendo tais críticas, Bellido afirmou que são “respeitosos à estrita separação dos Poderes” e garantiu que o governo buscará “construir pontes” com o Congresso. “Ao nos conceder esse voto de confiança, não vamos decepcionar, nem a vocês nem aos nossos compatriotas, pois sabemos e conhecemos as consequências de uma mau governo”, concluiu o premiê.
Como votaram os partidos?
Apenas os deputados de três legendas votaram integralmente contra o gabinete do presidente. Além do ultradireitista Força Popular, os partidos Renovação Popular e Avança País se posicionaram totalmente contrários à aprovação.
Dois deputados dos 15 do partido Aliança para o progresso, quatro dos nove do Somos Peru e um dos cinco do Podemos Peru se colocaram contra a maioria de suas bancadas e votaram contra.
Além do Peru Livre, partido do presidente, os partidos Juntos pelo Peru e Ação Popular votaram integralmente pela aprovação.