Neste domingo (22/04), 43,2 milhões de franceses serão convocados às urnas para escolher seu novo presidente. Menos numerosos que em 2007 ou 2002, quando eles eram 12 e 16 respectivamente, este ano apenas dez candidatos disputam o mais alto cargo do país. E a disputa promete ser acirrada, especialmente pelo terceiro lugar.
A dois dias do primeiro turno da eleição presidencial na França, o candidato socialista François Hollande tem vantagem sobre o presidente Nicolas Sarkozy, segundo cinco pesquisas de opinião divulgadas nesta sexta-feira (20/04).
O levantamento da BVA indica que Hollande receberá 30% dos votos este domingo e Sarkozy, 26,5%. Na última sondagem da CSA, Hollande e Sarkozy aparecem com 28% e 25% dos votos. A Ipsos coloca Hollande com 29% e Sarkozy 25,5%. Já a terceira pesquisa, da Harris Interactive, amplia a dianteira de Hollande para 27,5%, ao mesmo tempo em que mostra o apoio a Sarkozy cair 1,5 ponto porcentual, para 26.5%. A Ifop coloca os dois empatados com 27%.
Apontado como candidato com a “melhor dinâmica de campanha”, lotando espaços e locais públicos por onde passa, Jean-Luc Mélenchon, da Frente de Esquerda, trabalha para passar a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas desta sexta. Com um discurso amparado na construção de uma “República Social”, Mélenchon tem 13% na Ifop e BVA, 14% na Ipsos, 14,5% na CSA e 12% na Harris Interactive. Marine tem, 17% na Ifop, 14% na BVA, e 16% nas outras três.
O quinto colocado, François Bayrou, tem entre 10% e 11% das preferências.
Veja abaixo as propostas dos cinco primeiros nas pesquisas:
Nicolas Sarkozy
Com o apoio de líderes europeus, como a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente-candidato tenta tirar vantagem de sua imagem internacional nessas eleições. O menos popular dos dirigentes do bloco, segundo a sondagem BVA realizada em março em cinco países, anunciou seu programa de governo 2012-2017 apenas em 5 de abril.
Efe
Para conquistar o eleitorado de direita e o grande número de indecisos, Sarkozy se apresenta como o defensor dos valores da França, da responsabilidade e do trabalho. Criticado pelo balanço negativo de seus últimos cinco anos no Palácio do Eliseu, ele viu sua popularidade ficar abaixo dos 30% ao longo do mandato, enquanto o desemprego no país beirava os 10%.
Com o lema “França Forte”, Sarkozy pretende dar continuidade à política de cortes para equilibrar as contas públicas e relançar a economia diante do cenário de crise no continente. Para aumentar a competitividade das empresas francesas ele aposta na redução de custos para os empregadores.
Se reeleito, irá reduzir pela metade a imigração legal – limitando-a a 100 mil pessoas por ano – e rever o acordo de Schengen, que autoriza a livre circulação dentro da União Europeia. Pretende consultar a população sobre a restrição ao acesso a benefícios sociais, como o seguro-desemprego.
Para proteger o mercado francês e europeu da “concorrência desleal” de potências emergentes, Sarkozy quer adotar o “Buy European Act”. Inspirado no “Buy American Act”, que existe há 80 anos nos Estados Unidos, o mecanismo protecionista reservaria às empresas europeias o direito de participar das licitações públicas do continente.
François Hollande
Principal adversário do atual presidente, Hollande se tornou o candidato do PS ao derrotar em outubro nas primárias sua ex-mulher e candidata à Presidência pelo partido em 2007, Ségolène Royal. Com mais de 30 anos de vida política, essa é a primeira vez que ele concorre ao cargo.
Efe
Em seu livro Mudar o destino(Changer de destin), lançado esse ano, ele mistura biografia e programa de governo para ganhar a confiança dos franceses. Cercado por uma equipe jovem, o candidato visa fortemente esse eleitorado e possui um núcleo forte de campanha online.
De acordo com os prognósticos de France Télévisions, Radio France e do jornal Le Monde, no segundo turno o socialista vai atrair mais partidários de candidatos derrotados e pode vencer com 55% dos votos contra 45% para Sarkozy.
O apelo pelo chamado “voto útil” anti-sarkozysta vem provocando a perda de pontos do quinto colocado, o centrista François Bayrou, para favorecer Hollande, que tem chances reais de impedir a reeleição do candidato do UMP.
Culpa da crise, nenhum programa de governo deixou de fora a alteração do sistema fiscal. São justamente o emprego, o poder de compra e a crise da dívida os temas que mais preocupam os franceses atualmente. Nos “60 compromissos” de seu programa, Hollande quer criar 150 mil novos empregos no setor de novas tecnologias e mais 60 mil no campo da educação, uma das prioridades de seu projeto.
Contrário a proposta de Sarkozy de reduzir o custo do trabalho, Hollande defende uma reforma fiscal que aumente a contribuição dos mais ricos. Essa medida também foi parcialmente influenciada pelo crescimento de Mélenchon, ex-integrante do PS e crítico dos socialistas.
Jean-Luc Mélenchon
Presidente do Partido de Esquerda (PG, na sigla em francês) e deputado europeu, Mélenchon é candidato pela Frente de Esquerda, uma aliança entre o PCF (Partido Comunista Francês) e o próprio PG.
Efe
Em entrevista exclusiva ao Opera Mundi, Mélenchon ressaltou o desejo de incentivar uma “insurreição cívica” no país, com o objetivo de estabelecer uma “sexta república”. Ele disse se inspirar nas transformações populares na América do Sul, como no Equador, Venezuela e Bolívia, para propor sua “revolução cidadã” na França.
Com o slogan “O povo toma o poder”, seu programa defende o combate à desigualdade e aos privilégios das elites. Nele, a democracia participativa passa a ser um direito garantido pela Constituição e o financiamento público de empresas fica condicionado a critérios ecológicos e sociais. Um de seus grandes lemas é diminuir a influência dos mercados financeiros sobre o governo e refundar as missões do Banco Central Europeu.
O candidato de esquerda quer uma reforma fiscal, que criaria nove novas faixas de impostos. Ele defende um aumento do salário mínimo de 1398 euros para 1700 e a limitação nas empresas de que a diferença entre a menor e a maior remuneração seja superior a 20 vezes.
No plano europeu, ele quer estabelecer visas ecológicos e sociais sobre as importações e reformar o Tratado de Lisboa sobre a União Europeia, submetendo-o a um referendo. Mélenchon pretende nacionalizar o setor energético e organizar uma consulta popular sobre o uso da energia nuclear, além de combater a desigualdade, através do investimento no setor da educação.
A imigração não é vista como um problema. Para organizações muçulmanas, Mélenchon foi o único candidato que advogou pela união e não o da divisão na França.
Outra proposta da Frente de Esquerda é limitar o poder do chefe de Estado, aumentando o papel da Assembleia Nacional. A coalizão de esquerda propõem ainda a supressão do Senado. Em relação a segurança, ele quer desenvolver a polícia de proximidade e o aumento do efetivo.
Marine Le Pen
Oradora habilidosa que cresceu atrás dos palanques, mas com um discurso altamente xenófobo e conservador, Marine Le Pen é a herdeira política da Frente Nacional, sucedendo seu pai, Jean-Marie, candidato à Presidência em 2002. Imigração zero e a saída da França da zona do euro são suas principais bandeiras. Uma economia centralizada exigiria a separação da Europa e o reestabelecimento das fronteiras da França são outros pontos.
Efe
Em seu programa, estão medidas como o aumento direto de 200 euros sobre salários inferiores a 1500 euros, a redução do preço do gás ou a valorização de pensões e aposentadorias seduzem as classes populares. Nacionalista, ela quer um retorno da escola à moda antiga, para reforçar a disciplina e os valores da França, o que chama de fim da “aventura pedagogista”. Protecionismo é a palavra de ordem e o “Made in France” uma exigência. Em seu governo, as empresas que não aderirem serão penalizadas.
Para remediar o alto índice de desemprego no país, ela pretende obrigar a agência nacional de empregos a propor cargos apenas para cidadão de nacionalidade francesa e reformar os sindicatos.
A segurança também tem um espaço importante em sua campanha: para “proteger os franceses”, o FN propõe um verdadeiro arsenal de novas leis, como a prisão perpetua real e o restabelecimento da pena de morte, abolida há mais de 30 anos.
François Bayrou
Em sua terceira participação na corrida eleitoral, Bayrou é um velho conhecido do eleitorado e se apresenta como o caminho do centro, que, segundo ele, irá “salvar” a França. O candidato defende uma aliança entre a Europa e os países emergentes. Ele quer apoiar novos investimentos na economia e inscrever na Constituição uma “regra de ouro”, que estabelece um teto para a dívida pública do país, a qual ele pretende equilibrar até 2016.
Efe
A energia nuclear é vista como um modelo de transição – o candidato pretende fechar algumas centrais e desenvolver energias alternativas, além de pregar a redução do consumo.
Bayrou defende uma política econômica comum para o bloco e quer que os 27 membros tenham um presidente eleito por voto direto ou, em um primeiro tempo, por um congresso representando de maneira partidária os parlamentos nacionais.
Nanicos
Os demais candidatos não tem qualquer chance de obter uma votação de destaque, segundo as pesquisas. Dentre eles, a melhor colocada é a franco-norueguesa Eva Joly (Europa Ecologia- Os Verdes). Ela começou bem nas pesquisas, chegando a somar mais de dez pontos antes da virada do ano, e ocupava o tradicional quinto lugar reservado aos verdes. Mas não conseguiu passar sua mensagem e, nos últimos meses, seu melhor desempenho apresentou 2,5% das preferências.
Na “luta pelo sétimo lugar” estão mais dois representantes da extrema-esquerda, Nathalie Arthaud (Luta Operária) e Philipe Poutou (Novo Partido Anticapitalista); o franco-argentino Jacques Cheminade (Solidariedade e Progresso) apresenta uma plataforma que se diz ao mesmo “nacionalista, progressista e cristã”; e, por fim, Nicolas Dupont-Aignan (Viva a República!) tenta ressuscitar o gaulismo.
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