O presidente do Equador, Rafael Correa, reeleito para mais quatro anos de mandato neste domingo, elogiou nesta quarta-feira (20/02) o governo brasileiro e argumentou em favor da exploração de recursos naturais para o desenvolvimento da população.
“Muitos identificam a esquerda com a recusa à mineração e ao petróleo. Mas esse discurso faria fracassar qualquer projeto de esquerda porque para superar a pobreza a curto prazo precisamos usar responsavelmente os nossos recursos naturais”, defendeu Correa.
Agência Efe
Rafael Correa também sinalizou que pretende incorporar o Equador como membro permanente do Mercosul
Para a realização de projetos de mineração, exploração de petróleo e abertura de estradas, o presidente equatoriano é contra o consentimento prévio das comunidades. “Basta que um diga não para inviabilizar o projeto”, ponderou o presidente. Segundo Correa, seria o fim da democracia das maiorias e o início da democracia da unanimidade, o que tornaria “ingovernável” qualquer país.
Correa ainda reiterou que levou o argumento ao conhecimento do Fórum de São Paulo. Ele deixou claro que não pretende assumir o papel de líder da esquerda na região, exercido pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que se recupera de cirurgia contra um câncer.
“Se posso servir como motorista de Hugo, com certeza o farei”, declarou pouco antes de dizer que deve fazer uma visita a Chávez nas próximas semanas.
Brasil
Um dos assuntos da entrevista coletiva de hoje, o Brasil foi definido pelo presidente equatoriano como um país “chave na arbitragem regional, assim como em uma nova arquitetura financeira”. Além de parabenizar o PT (Partido dos Trabalhadores) pelos dez anos de governo no Brasil, Correa classificou a chegada de Lula à presidência como “a consolidação de uma mudança de época na América Latina”.
O mandatário ainda anunciou que a presidente Dilma Rousseff aceitou seu convite para visitar o Equador, embora ainda não tenha marcado a data. No encontro, segundo o presidente, serão abordados temas como financiamento e propostas comuns para a integração regional.
Pelo menos três grandes empresas brasileiras participam de obras de infraestrutura no país andino (OAS, Andrade Gutierrez e Odebrecht) e, segundo o presidente, elas vão “super bem”. Correa destacou que a construtora Odebrecht, com quem chegou a romper o contrato para construção e administração da usina San Francisco, em 2008, voltou a atuar no país porque foram resolvidos os problemas do passado.
A construtora tem atualmente contratos de 680 milhões de dólares no Equador. Um deles para fazer a obra da Central Hidrelétrica Manduriacu, de 60 MW, na província de Pichincha. Em novembro do ano passado o BNDES aprovou o financiamento de 90 milhões de dólares para a construção.
Multinacionais
O Equador enfrenta batalhas em cortes internacionais por conta de tratados de proteção de investimentos assinados por governos anteriores. Com estes instrumentos, as multinacionais que se sentem prejudicadas nas relações com os governos levam seus questionamentos à arbitragem externa, que, segundo Correa, age em defesa do capital transnacional e “está destroçando” nossos países.
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Um dos embates é contra a petroleira Chevron, processada por moradores da região do Lago Agrio, na Amazônia equatoriana, devido a danos ambientais e à saúde da população. A companhia foi condenada pela justiça local a pagar multas de 19 bilhões de dólares, mas reagiu processando o Estado equatoriano na corte das Nações Unidas, tendo obtido uma sentença a seu favor.
Para Correa, a situação é absurda porque a petroleira deixou o país em 1992, mas tem o respaldo dos árbitros internacionais com base num tratado assinado em 1998. Como forma de se defender contra o capital transnacional, o presidente defende a criação de uma arbitragem regional.
Mercosul
Correa, por fim, reafirmou o interesse em inserir o Equador no quadro de membros permanentes do Mercosul, mas ponderou que seria necessário negociar um esquema de compensações porque o país não tem moeda própria e usa o dólar desde a crise econômica do início do século, o que poderia tornar as relações comerciais desiguais.
O presidente declarou ainda que o país tem muito mais afinidade com o Mercosul do que com a Aliança do Pacífico, “que segue uma linha neoliberal”, na sua avaliação. O bloco econômico formado recentemente por México, Peru, Colômbia e Chile começa as atividades a partir de março.