Duas crianças temporariamente retiradas de seus pais ciganos foram devolvidas a eles depois que testes de DNA comprovaram o parentesco, informou nesta quarta-feira (23/10) o Ministro da Justiça da Irlanda, Alan Shatter.
Shatter disse também que ordenou o comandante da polícia irlandesa, chamada de Garda, a produzir um relatório sobre a razão que levou os agentes a levar as duas crianças – um menino de dois anos de idade e uma menina de sete – para longe das famílias. Nos dois casos, os policiais suspeitaram que elas podiam ter sido sequestradas, porque eram loiras e tinham olhos azuis, diferentemente de seus pais.
A ministra da Infância e da Juventude, Frances Fitzgerald, afirmou que, quando a polícia ou outros órgãos tomam a decisão de colocar crianças sob a tutela do Estado, a ação é sempre feita almejando seu “bem-estar e proteção” e de acordo com as normas vigentes. Nos dois casos, as visitas dos agentes policiais às casas das famílias foram feitas após denúncias de vizinhos.
Agência Efe
Foto de “Maria”, criança encontrada em acampamento cigano na Grécia. Não se sabe ainda quem são seus pais verdadeiros
Para o diretor-executivo do Centro Europeu de Direitos Roma (subgrupo de ciganos romani), Dezideriu Gergely, isso demonstra um excesso de zelo. Gergely afirmou que está preocupado com a repercussão dos casos na Grécia – onde uma menina loira, cuja família se desconhece, foi encontrada em um acampamento de ciganos – e na Irlanda, o que levou, em sua opinião, a generalizações e associações perigosas.
Em entrevista à rede de televisão IRTE, ele assegurou que as notícias jornalísticas devem se ater aos “fatos” e não em “presunções” sobre a comunidade cigana. Ressaltou ainda que a ênfase recai frequentemente sobre supostas criminalidades. O diretor lembrou ainda que não se pode esquecer que alguns membros desta etnia têm a pele clara e o cabelo loiro.
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O Conselho de Imigrantes da Irlanda, por sua vez, pediu hoje que o governo forneça detalhes de quais são as medidas adotadas para que as autoridades não caiam no erro da discriminação racial. Para sua diretora-executiva, Denise Charlton, os dois casos ocorridos na Irlanda sugerem que a Garda talvez dê atenção excessiva a certos grupos minoritários.
“A Irlanda já foi advertida em um relatório do Conselho da Europa sobre a necessidade de prevenir a discriminação racial e os eventos da semana passada não tranquilizaram os imigrantes”, disse Charlton. Ela lamentou que estes dois casos tenham acontecido “uma semana depois” do Executivo informar que os “estrangeiros” eram responsáveis por mais de 50% das fraudes cometidas contra a seguridade social.
A ministra Frances Fitzgerald disse encorajar as pessoas a denunciar “se estão preocupadas com a situação de algum menor”. Ela fez referência ao grande número de menores que chegou à Irlanda sem a companhia de adultos nos últimos dez anos, classificado como “alarmante”.
“Isso é reflexo de um problema global. O tráfico de mulheres e crianças é uma questão muito séria e a Irlanda não é imune a isso. Obviamente, se deve fazer todo o possível para investigar todas as circunstâncias quando surgem casos assim”, concluiu.
Existem cerca de cinco mil imigrantes ciganos vivendo na Irlanda, a maioria deles em Dublin. A Comissão Europeia já criticou o país pela falha em integrar plenamente os ciganos à sociedade irlandesa. Ainda assim, esses imigrantes têm enfrentado mais hostilidade ao norte da fronteira, já em território do Reino Unido.