O aposentado Michael Moorcroft, 65 anos, convive com uma dúvida desde o início desse ano. Após viver oito anos de estabilidade como pensionista da multinacional do ramo das telecomunicações Nortel, ele agora precisa replanejar suas finanças pessoais, porém, sem saber ao certo o quanto vai receber todo mês.
“Não posso mais sair de férias, não posso mais reformar minha casa, não posso mais comprar as coisas que pretendia”, conta Moorcroft, enumerando os planos adiados desde 14 de janeiro, o dia em que sua ex-companhia anunciou a falência.
“Nosso fundo de pensão tem déficit de 30%. Nós [os pensionistas] somos os últimos a receber o nosso dinheiro na fila dos credores”, explica. “Estamos esperando para saber em quanto a nossa aposentadoria será reduzida”.
Moorcroft trabalhou por 35 anos na Nortel e sempre contribuiu com seu plano de previdência. Hoje, ele é mais um dos trabalhadores do Canadá que teve sua aposentadoria comprometida pelos efeitos da crise econômica. É mais um que engrossa o coro por uma reforma no sistema previdenciário do país.
Fragilidades
Segundo Susan Eng, vice-presidente da Associação Canadense dos Aposentados (Carp, na sigla em inglês), o mau momento da economia expôs problemas previdenciários que há muito tempo ficaram esquecidos no país. “Há dois anos atrás, ninguém falava em reforma. Hoje, você vê protestos e discursos sobre mudança toda hora.”
Ela explica que, no Canadá, os aposentados dividem-se em três grupos. Nenhum tem garantia de uma aposentadoria razoável por toda a vida. O primeiro é onde está Moorcroft. Ele é composto por 25% dos trabalhadores que têm sua aposentadoria vinculada a sua empresa e, portanto, correm risco de perdê-la caso a companhia quebre.
O segundo é formado por outros 25% dos canadenses que têm um investimento especial para a aposentadoria. Estes estão suscetíveis a perdas dependendo do sobe e desce das bolsas de valores do mundo, e ainda podem já ter esgotado suas reservas no momento em que mais precisarem do dinheiro.
O restante, quase a metade dos canadenses, depende exclusivamente da aposentadoria governamental, o que os coloca no limite da linha da pobreza do país já que o sistema não foi desenhado para ser a única fonte de renda dos ex-trabalhadores.
“Nós precisamos de uma reforma [na previdência]. O sistema é insustentável e tem muitas brechas que prejudicam os aposentados”, complementa o professor Harry Arthurs, presidente da comissão de especialistas sobre pensões formada pelo governo da província de Ontario em 2008.
Propostas
Arthurs defende mudança na lei de falências do Canadá para que os aposentados tenham prioridade na lista de credores. Já Eng afirma que a aposentadoria oficial deveria ser fortalecida para atender mais e melhor os aposentados.
Em outubro, o ministro da Fazenda Jim Flaherty anunciou ao parlamento canadense que o governo federal estuda uma “reforma compreensiva” do sistema. Segundo ele, entre as mudanças, estarão novas formas de regulação do gerenciamento dos planos de previdência coorporativos, dando mais poder de gestão aos empregados.
Flaherty disse também que mais detalhes deverão ser anunciados ainda neste ano.E enquanto nada concreto acontece, Michael Moorcroft continua convivendo com sua dúvida, agora, há quase 11 meses.
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