A crise econômica que afeta o mundo desde 2009 – e a Europa em particular – coloca em risco avanços que vêm sendo obtidos em relação ao consumo e aos danos causados pelas drogas. Além do aperto nos orçamentos nacionais voltados ao problema, o temor é que os ex-dependentes sejam os primeiros da fila em ondas de demissões.
“Os empregos dedicados a usuários de drogas são muito vulneráveis. Vemos a primeira linha do desemprego atingir exatamente os nossos clientes”, explicou João Goulão, presidente do IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência) de Portugal – órgão equivalente à Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) do Brasil.
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Em 2010, 4.700 consumidores de drogas atendidos em programas de reinserção em Portugal estavam em busca de emprego. Desses, 43% foram integrados em ações de recolocação e metade deles conseguiu empregos no mercado de trabalho normal. Além disso, 639 empresas que mantêm convênio com o IDT contrataram funcionários por meio do programa.
“Esse é um desafio, é uma realidade que também nos preocupa porque as pessoas tinham estabilizado as suas vidas e são os primeiros a serem atingidos pelas dificuldade”, afirmou Goulão.
Existe também possibilidade de que a piora nas condições econômicas levem os indivíduos a traficarem e consumirem mais drogas, como aponta um estudo ainda não publicado por Jeremy Arkes, do think-tank Rand e professor da Escola Naval de Pós-graduação da Califórnia. Nele, o autor identifica uma maior disposição dos jovens para consumirem e traficarem drogas leves em momentos de restrição no mercado de trabalho. No terceiro trimestre de 2011, o desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos em Portugal, por exemplo, era de 30% (12,4% na população em geral), segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do país.
O texto de Arkes faz parte de uma edição especial, de setembro de 2011, do International Journal of Drug Policy – uma das publicações acadêmicas mais relevantes sobre o tema – dedicada a analisar as possíveis relações entre os baixos da economia formal e o fenômeno da droga.
No campo das políticas de Estado, a austeridade aplicada pelos governos europeus tem afetado o orçamento voltado ao fenômeno da droga. De 19 países que responderam a uma pesquisa do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, 17 informaram que vinham fazendo cortes desde 2008. As percentagens variam entre 2% e 44% e, segundo o Observatório, a reinserção está entre um dos principais serviços atingidos pelos cortes na despesa direta.
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