O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, sofreu nesta terça-feira (05/07) um novo revés com a renúncia de seu recém-nomeado ministro de Reconstrução, Ryu Matsumoto, após polêmicas declarações que indignaram as vítimas do terremoto de março.
Matsumoto deixou o cargo só nove dias após ser designado para uma pasta criada por Kan, que buscava com isso agilizar a reabilitação do devastado nordeste japonês.
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A renúncia do ministro representa um novo buraco ao plano de reconstrução ao que se aferra o chefe de governo há semanas para manter-se no poder, apesar dos crescentes chamados para que deixe o cargo imediatamente.
No início de junho, Kan, assediado pelas críticas pela sua gestão do desastre, comprometeu-se a renunciar uma vez “canalizada” a reconstrução das áreas assoladas pelo terremoto e o posterior tsunami.
A saída de Matsumoto ocorreu após uma visita no domingo às províncias de Miyagi e Iwate, devastadas pela catástrofe, nas quais empregou um tom duro para dirigir-se às autoridades locais e fez declarações tachadas como frias e arrogantes.
Em imagens feitas pela televisão na ocasião, vê-se um Matsumoto contrariado porque o governador de Miyagi, Yoshihiro Murai, chega atrasado à reunião.
Depois, o ministro se nega a apertar a mão do político local e usa de um tom seco: “Quando um convidado chega, o anfitrião deve estar presente”, disse diante das câmeras ao governador de Miyagi, onde o tsunami deixou quase 14 mil mortos e desaparecidos, para concluir com um nada diplomático “Você entendeu?”.
No mesmo dia, Matsumoto explicou ao governador de Iwate, segunda província mais afetada pela tragédia, que não pode ir pedindo “isto e aquele outro” e que o governo “ajudará (aos municípios) com ideias, mas não aqueles sem elas”, detalhou a agência local Kyodo.
As declarações e o tom do ministro, que também disse desconhecer a localização dos povoados afetados pelo tsunami, suscitaram duras críticas em um Japão comovido ainda pela catástrofe, enquanto membros de seu próprio partido pediram “mais humildade”.
A renúncia de Matsumoto, que será substituído pelo vice-ministro Tatsuo Hirano, foi criticada pela prefeita de Sendai (capital de Miyagi), Emiko Okuyama, que considerou que se refletirá em uma perda de impulso na reconstrução.
Por sua vez, a oposição voltou a pedir a saída imediata de Kan, algo que, segundo o secretário-geral do opositor Partido Liberal -Democrata, Nobuteru Ishihara, “será uma maior contribuição à reconstrução”.
No entanto, o primeiro-ministro colheu hoje um avanço ao conseguir que seu gabinete aprovasse um segundo orçamento extraordinário para a reconstrução avaliado em 2 trilhões de ienes (17 bilhões de euros), que ainda deve receber o sinal verde do Parlamento.
O orçamento inclui uma partida de 120 bilhões de ienes (1,021 bilhão de euros) para compensar aos desabrigados pela crise na usina nuclear de Fukushima e outra de 78,2 bilhões de ienes (666 milhões de euros) para financiar exames de saúde aos habitantes desta província durante os próximos 30 anos.
O Executivo planeja apresentá-lo na Câmara no próximo dia 15 de julho com a ideia que receba o sinal verde este mesmo mês.
A aprovação do orçamento extra é uma das três condições que Kan pôs para deixar o poder.
Antes de sua saída, o premiê quer aprovar outras duas leis, uma para agilizar a reabilitação das áreas afetadas pelo tsunami e outra para promover energias alternativas.
À margem da renúncia de Matsumoto, a popularidade de Naoto Kan, que chegou ao poder pouco mais de um ano atrás, segue ladeira abaixo.
Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal local Yomiuri no fim de semana passado, 72% dos japoneses querem que o primeiro-ministro apresente sua renúncia, mais tardar, no fim de agosto.
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