Menos de uma semana depois de ter recebido pessoalmente do presidente Vladimir Putin o passaporte russo, o ator francês Gérard Depardieu foi convidado pelo Partido Comunista do país para se filiar à sigla. O primeiro secretário do partido, Valery Rashkin, escreveu uma carta oficial a Depardieu formalizando o convite. “Se você realmente ama e aprecia este país, deve entender que a Rússia corre perigo. Eu lhe convido a seguir os passos do seu pai, um comunista, e se unir ao Partido Comunista da Rússia para defender os ideais dele”, diz a carta.
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Depardieu provocou a revolta dos compatriotas e foi alvo de críticas e piadas no país de origem nas últimas semanas por ter ameaçado renunciar à cidadania francesa caso uma proposta para aumentar a taxação dos mais ricos a até 75% da renda fosse aprovada. A proposta foi rejeitada pela Corte Constitucional da França, mas Depardieu manteve as críticas e visitou a Rússia durante o Natal ortodoxo (07/01), quando ganhou um apartamento na região de Saransk e aproveitou a oportunidade para elogiar a “grande democracia russa”. Em carta aberta, Depardieu declarou sua admiração por Putin e revelou que seu pai escutava a Rádio Moscou na época soviética. “Esta também é a minha cultura”, contou o ator.
O convite de filiação do Partido Comunista começa mencionando que “na terra da grande democracia”, centenas de milhares de pessoas protestaram e continuam protestando contra as fraudes e o resultado das eleições legislativas e presidenciais de dezembro de 2011 e março de 2012, respectivamente. “As autoridades respondem (aos protestos) com leis mais rígidas para dificultar a realização das manifestações”.
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O texto volta a falar com ironia sobre a “grande democracia” e relembra ainda o recente caso do ministro de Defesa, Anatoli Serdyukov, destituído em novembro sob acusação de envolvimento no desvio de quatro bilhões de rublos (267 milhões de reais). E cita ainda que na terra da grande democracia, “médicos e professores ganham menos do que profissionais não-qualificados” e que “os aposentados não conseguem sobreviver com a pensão que recebem e têm que mendigar ou recolher garrafas, para completar a renda”.
A carta termina com a afirmação de que todas as pesquisas independentes apontam que as ideias socialistas estão recebendo cada vez mais apoio popular. “O país está rapidamente virando ‘de esquerda’ e os membros do nosso partido estão prontos para se encontrar com você e discutir o programa do nosso partido – um grande programa para reconstruir o país”. No documento oficial, Rashkin diz ainda que todos amam o seu país, sua história e a sua cultura, mas isso não é suficiente. “O amor ao país deve ser ativo ou, em breve, o perderemos”.
O Partido Comunista da Rússia, que completa 20 anos no próximo mês e conta com 156 mil filiados, informou a jornalistas que ainda espera uma resposta do ator francês.
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