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A sociedade civil organizada do Chile começa a se levantar como uma voz a favor de uma saída para o mar da Bolívia, ao considerar que a recuperação de parte de seu território é um direito dos cidadãos desse país.
Essa sociedade “tem, em geral, um pensamento favorável à demanda marítima do Estado boliviano, no entendimento de que os povos devem ser solidários entre si e que isso constitui um obstáculo para o desenvolvimento desse país”, afirma a coordenadora de comunicação do Observatorio Ciudadano, Paulina Acevedo.
A Bolívia, um dos países latino-americanos atualmente sem litoral (como o Paraguai), perdeu seu acesso aos oceanos na Guerra do Pacífico, de 1879 a 1884, contra o Chile, que também envolveu o Peru. La Paz e Santiago firmaram um Tratado de Paz, Amizade e Comércio em 1904, que definiu as fronteiras atuais e fez da Bolívia um país sem litoral.
Os cidadãos bolivianos consideram que o acordo limitou o desenvolvimento de seu país, colocou obstáculos ao comércio e representou uma ameaça à segurança nacional. A falta de saída para o mar da Bolívia, e a reivindicação por uma, marcaram as relações bilaterais, que desde 1978 se mantém limitadas a nível consular.
Entre 2006 e 2010, La Paz e Santiago aproximaram-se e trabalharam uma agenda de treze pontos, na qual, pela primeira vez, se abordou o tema marítimo. Nesse período, o Chile era governado pela socialista Michelle Bachelet (2006-2010) e a Bolívia pelo índio progressista Evo Morales, que começou seu primeiro mandato em 2006 e foi reeleito em 2011. No entanto, desde a chegada ao poder do conservador Sebastián Piñera no Chile, o diálogo bilateral foi congelado.
Em 23 de março deste ano, Morales tomou uma ação controversa, ao anunciar a decisão de levar aos tribunais internacionais a disputa pela saída para o mar com o Chile, diante da falta de propostas “concretas, úteis e factíveis” por parte de Santiago. Em junho último, deu novo passo adiante, ao se reunir em Haia com o presidente da Corte Internacional de Justiça, Peter Tomka, quando expôs a aspiração boliviana de resolver a disputa com ajuda do direito internacional. Também reuniu-se com representantes da Corte Penal Internacional.
Antes, durante a Assembleia Geral da OEA (Organização de Estados Americanos), realizada nos dias 4 e 5 deste mês, em Cochabamba (Bolívia), o chanceler anfitrião, David Choquehuanca, pediu ao governo de Piñera a abertura de renegociação do Tratado de 1904. O chanceler do Chile, Alfredo Moreno, afirmou que Santiado não irá ceder parte de seu território “assim como nenhum país o faria”, e que o Tratado de 1904 já havia estabelecido as fronteiras.
Porém, a postura atual do Estado chileno “não representa a opinião de todos os cidadãos que o compõem”, diz Paulina Acevedo, cuja organização tem uma área de ação muito ampla e representa muitos setores sociais.
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Em abril de 2011, uma pesquisa do jornal chileno El Mercurio, o mais influente do país e de tendência conservadora, avaliou que 64,2% das pessoas que aceitariam facilitar uma saída para o mar para a Bolívia, ainda que sem concessão de soberania. Em novembro do ano passado, uma pesquisa da empresa Adimark e da Universidade Católica revelou que 40% dos entrevistados são a favor de dar benefícios compensatórios ao país vizinho.
Publicado no blog Outras Palavras. Tradução: Daniela Frabasile.