Efe
Atual prefeito, Boris Johnson, chega para a votação; Político do Partido Conservador disse achar pouco salário de 250 mil libras anuais
A eleição para a Prefeitura de Londres, que ocorre nesta quinta-feira (03/05), é o primeiro grande teste de popularidade do Partido Conservador britânico após o país ter entrado em recessão. O atual prefeito Boris Johnson, aliado do premiê David Cameron, liderou as últimas pesquisas de intenção de voto, com pequena vantagem sobre o trabalhista Ken Livingstone. As sondagens, porém, foram feitas antes do anúncio dos indicadores econômicos, o que deixa incerto o resultado da eleição até o último voto.
Segundo dados da Secretaria Nacional de Estatísticas do governo britânico, divulgados no dia 25 de abril, o PIB da ilha encolheu pelo segundo trimestre seguido. Nos últimos três meses de 2011, a economia britânica teve retração de 0,3% e, para o primeiro período de 2012, novo resultado negativo, agora de -0,2%. Os números foram considerados “muito, muito decepcionantes” por Cameron e abasteceram a oposição trabalhista com mais uma rodada de munição pré-eleitoral.
De acordo com pesquisa de intenção de votos feita pelo instituto ComRes, entre 24 e 25 de abril, Boris Johnson tem vantagem de oito pontos percentuais sobre Ken Livingstone. Brian Paddick, do Partido Liberal Democrata, tem 5% das intenções de voto. Os três outros candidatos, entre eles o representante do British National Party, de extrema-direita, e do Partido Verde britânico, receberam 13% das intenções de voto. A margem de erro é de 0,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Livingstone só esteve à frente nas pesquisas durante o mês de janeiro. Desde então, Johnson manteve a dianteira e Paddick estacionou no mesmo patamar, em terceiro lugar. Curiosamente, os três candidatos são os mesmos que concorreram na última eleição, de 2008, com vitória de Johnson – reflexo de um ano de grandes derrotas trabalhistas em todo o Reino Unido.
Na tentativa de reverter o quadro negativo, os ataques da oposição foram pesados, com foco nos indicadores e no recente pacote fiscal anunciado pelo governo britânico. No final de fevereiro, George Osborne, ministro das Finanças e braço direito de Cameron, decidiu baixar impostos para os mais ricos e criar uma controversa taxa para aposentados, criticada e apelidada em todo espectro da imprensa do Reino Unido como “granny tax” – a “taxa da vovó”.
O líder trabalhista no Parlamento, Ed Milliband, trata os Conservadores como “posh boys”, ou “garotos riquinhos” que “simplesmente não entendem o que está acontecendo com a economia britânica”.
Bicicletas e protestos
O atual prefeito de Londres, Boris Johnson, deu uma emblemática largada para a campanha eleitoral no começo de fevereiro. Em uma cartada, ampliou o sistema de aluguel de bicicletas – uma de suas marcas de governo, em parceria com o banco Barclays, que ganhou a alcunha de “Boris bikes” – para a empobrecida zona leste da capital britânica.
A área vem sofrendo enormes transformações e tem canalizado investimentos em virtude da construção do Parque Olímpico, em Stratford. Apesar de visíveis melhorias em infra-estrutura, movimentos sociais e ONGs têm acusado prefeitura e subprefeituras de impor um processo de especulação imobiliária e gentrificação, com políticas controversas para retirar moradores antigos da área, hoje supervalorizada.
A região, quase que totalmente remodelada, foi um dos palcos dos protestos do verão passado, que puseram Londres em alerta para a crise do desemprego entre os jovens. Quase um ano após os acontecimentos, que revelaram enorme insatisfação com a falta de oportunidades e carência de serviços públicos, os trabalhistas mantêm as acusações de que a convulsão foi fruto da política de austeridade do governo britânico.
As manifestações, de fato, seriam um ponto crucial para troca de guarda na prefeitura de Londres, mas Livingstone foi o antecessor de Boris Johnson no comando da capital do Reino Unido e a implosão social foi creditada, em partes, à falta de sintonia do movimento dos Novos Trabalhistas, do ex-premiê Tony Blair, com as necessidades da população. Seu retorno ao cargo, por esse e outros motivos, continua incerto.
Língua solta
Entre analistas, Livingstone, mais à esquerda de seu partido, um autodeclarado socialista, tem tido grandes dificuldades em passar sua mensagem de apoio aos desprivilegiados de Londres por ser vítima de sua própria língua. Por isso, avaliam, o trabalhista não cresceu nas intenções de voto como esperado, mesmo diante de um adversário milionário formado em Eton, o colégio mais caro e exclusivo do Reino Unido, e que declarou recentemente que um salário anual de 250 mil libras esterlinas (cerca de R$ 750.000) é “chickenfeed” – ou “quirerinha”.
Arredio aos treinamentos de mídia, os quais considera equivocados e artificiais, Livingstone caiu em diversas armadilhas, transformadas em gafes pela imprensa mais à direita, superpopulares entre os britânicos de todas as classes sociais.
Perguntado, por exemplo, por que tinha poucas intenções de voto entre judeus londrinos, com quem tem uma rixa que já dura décadas, o candidato trabalhista respondeu que o voto tinha relação direta com a faixa de renda do grupo. As manchetes dos jornais no dia seguinte apontavam que o trabalhista considerava “judeus londrinos ricos demais para votar nele”.
Em entrevista publicada no dia 25 de abril ao jornal The Guardian, Livingstone culpou a “falta de escrutínio da imprensa” sobre as ações da atual gestão por ter ficado atrás nas pesquisas. Mas disse ter chances de virar o jogo nas urnas. Boris Johnson, por outro lado, expôs um plano de governo que pretende aumentar em 1.000 o número de policiais nas ruas, criar 200 mil empregos, cortar impostos locais e deixar um “verdadeiro legado Olímpico”.
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