Enquanto o Occupy Wall Street sofria nas mãos do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, o movimento-irmão inglês Occupy LSX (Ocupe a Bolsa de Londres), conseguiu uma proeza mais do que simbólica. Os manifestantes tomaram há cerca de uma semana três prédios desocupados do maior banco da Suíça, o UBS, no coração financeiro londrino. Logo estenderam uma faixa e fundaram ali o Bank of Ideas, um quartel general para o movimento e um projeto de centro comunitário.
O Bank of Ideas fica no número 29 da Sun Street, um antigo prédio de quatro andares no coração financeiro da cidade. Ele contrasta com a fachada suntuosa da sede do UBS em Londres, que funciona normalmente do outro lado da rua. O prédio ocupado tem eletricidade em alguns andares e internet wi-fi, mas as salas do térreo ainda estão sendo adaptadas.
Roberto Almeida
“Temos esse direito, está na lei”. Manifestantes se dizem “squatters” para driblar polícia e ocupar prédio sem uso.
Uma delas é para o credenciamento de imprensa e a outra é um pequeno auditório para receber palestrantes. Já discursaram para o Occupy LSX teóricos como o economista Massimo De Angelis, da University of East London, e o antropólogo David Harvey, da City University of New York. A ideia é atrair outros nomes da academia para palestras. Segundo os ocupantes, há ainda um projeto para abrigar o Centro da Juventude de Hackney, distrito mais pobre de Londres, além de outros projetos na mesma linha.
“Hoje, após uma ação direta, nós somos os moradores desse prédio. Não arrombamos. A porta estava aberta e entramos. Aliás, seria uma grande bobagem se não entrássemos. Temos esse direito, está na lei”, afirma Bryn Phillips, que trabalhou durante anos como relações públicas e hoje é porta-voz do Bank of Ideas.
Os ocupantes do prédio, como Phillips, não se definem como ocupantes. Mais do que isso, rejeitam o termo e tentam se descolar do Occupy LSX. Eles se autodenominam “squatters”, termo jurídico que os protege de uma ação da polícia ou de um despejo. A base para o “squatting” é que a propriedade esteja desocupada e em desuso – caso do prédio do UBS.
“O que nós temos não é uma questão política. Nós temos um problema civil com o banco suiço”, anota o porta-voz. Um projeto de lei que tramita no parlamento inglês tenta criminalizar o “squatting”, mas ainda está longe de ser aprovado. Por isso, o Bank of Ideas comemora uma possível vida longa. E avisa, em um cartaz colado em uma das janelas do prédio: “Nós moramos nessa propriedade, ela é nossa casa e pretendemos ficar aqui”; “Há sempre uma pessoa dentro do edifício”; e “Se você tentar entrar com violência iremos processá-lo em até 5 mil libras esterlinas”.
Ao todo, 19 pessoas se revezam vigiando o prédio recém-ocupado. Há um porteiro a postos, com um olho na TV, que recebe o sinal de uma câmera de segurança. O edifício fica aberto ao público das 9h30 às 10h. Pelo menos duas pessoas dormem ali, para garantir o “squatting”.
Vai-e-vém
Ed Greens, estudante de artes plásticas, e Kyle Winters, formado em Teatro Comunitário, estão desempregados e fazem parte do Occupy LSX desde seu primeiro dia, 15 de outubro, data do protesto que reuniu 3.000 pessoas na praça em frente à Catedral de São Paulo. Ao lado deles caminha B.T., 16 anos, também parte do movimento, menino calado que não quis se identificar além das iniciais.
Greens, barba comprida e loira, empurra um barulhento carrinho de supermercado pelas calçadas de Londres. Ali dentro, amplificador de som, casacos e comida. Os três saíram do Bank of Ideas em direção à Catedral de São Paulo no trânsito entre acampamentos – uma novidade no centro financeiro de Londres.
Winters, um negro de pelo menos 1,90m, toma a frente no discurso e avisa: o Bank of Ideas é a chance que o movimento queria para unificar todas as frentes de protesto. “Quem não sonha em colocar ali sindicatos e outros movimentos sociais? É o nosso QG de mudança. Chega de sublinhar problema. Agora o que a gente quer é criar solução”, discursa, empolgado.
Trabalho, para eles, é o problema chave, seguido de distribuição de renda e oportunidades. “A gente não vê mais porque ir para a universidade”, emenda Greens, empurrando o carrinho. “Eu me formei em teatro comunitário e só consegui trabalho em pub”, explica Winters. “Adianta alguma coisa?”
O garoto B.T., quieto, assiste a tudo embaixo de seu moletom com gorro. Perguntado sobre o que achava do movimento, foi breve, mas claro. “O que eu aprendi aqui com esses caras foi ótimo. O problema é que agora eu não tenho assunto com meus amigos do bairro. Eles não se interessam pelo que eu tenho a dizer. Mas eu vou ficar aqui (no Occupy LSX em frente à Catedral de São Paulo) até o fim”, contou.
O fim, porém, pode estar próximo. Além do frio, que pode levar os acampamentos para o Bank of Ideas, o Occupy LSX já foi notificado pela polícia britânica que deve executar uma remoção do acampamento nos próximos dias. Se vai ser como a ação de retirada do Occupy Wall Street? “A polícia vai agir como polícia: mas com sutileza britânica”, diverte-se Winters.
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