Lisboa foi a quarta cidade no exterior com maior número de votantes nas eleições para presidente em 2010. Dilma conseguiu a maioria dos votos no primeiro turno, alcançando 53%. No Porto, a então candidata chegou a 58%. No segundo-turno, não foi diferente, a petista conseguiu 58% dos votos nas duas cidades. Neste domingo (31) foi dia de comemoração para os membros do partido, que desde o primeiro semestre vinham tentando angariar votos.
Lula e o PT são lembrados pelo acordo que regularizou a situação de 20 mil brasileiros que vivem em Portugal entre 2005 e 2008. Mas o que pode ter sido decisivo na grande quantidade de votos para a presidente eleita Dilma Roussef, foi a grande campanha do partido, no núcleo na capital portuguesa. Em abril, começou o movimento de cadastramento dos eleitores para viabilizar os votos. As noticias dos jornais locais e internacionais sobre a melhoria da situação econômica e social do Brasil, também teve grande importância.
“Agora, os brasileiros não precisarão mais emigrar para viver melhor, vamos poder voltar”, comemorava o mineiro Patrick Campos, de 24 anos, na festa do núcleo petista em Lisboa. Os gritos e pulos que ele dedicava à Dilma, enrolado na bandeira do PT, tinham uma grande explicação. Não conseguiu pagar a faculdade de Geografia, perdeu o posto de professor universitário estadual, por não conseguir que o diploma fosse emitido, e ficou endividado. “Fui obrigado a emigrar para pagar a dívida”, conta.
Em Portugal desde 2001, diz que sua vida teria sido outra se já houvesse o ProUni, programa de concessão de bolsas para o ensino superior, criado em 2005. Ele está refazendo o curso superior e quer voltar assim que terminar, no ano que vem. Para ele, Lula é um Robin Hood que está mudando o país e Dilma vai continuar seu trabalho. É o mesmo argumento dado pelo técnico em mecânica, Flavio Dias, 54 anos, ao sair da votação. “Lula fez um trabalho muito bom e penso que Dilma vai dar continuidade, quem sabe até colocando-o em um ministério.”
Já Anita Cavalcanti, assistente social de 50 anos, considera que Dilma deixa a desejar e é desconhecida, por isso votou em Serra. “É preferível votar em quem já conhecemos e Serra fez um bom trabalho como governador.” Sonia Barros, psicóloga de 43 anos, trocou o voto do primeiro turno em Marina Silva por Dilma, também apostando na continuidade. A advogada Claudia Vieira foi até o local da votação, mas não votou. Optou por Marina no primeiro turno e não queria nenhum dos dois candidatos. “O PT está grande demais, se achando maior que o país e isso é perigoso.”
CAMPANHA
Maior grupo estrangeiro em Portugal, com 116 mil em situação legal, os brasileiros enfrentam dificuldades no mercado de trabalho do país, de acordo com estudo realizado pela Universidade de Lisboa. Mais de um quinto dos trabalhadores não qualificados (21% dos entrevistados) tem nível de escolaridade acima do ensino médio e quase um quarto tem contrato de curta duração (de 3 a 12 meses), trabalham acima de 40 horas semanais e recebem menos de 900 euros mensais – o equivalente a dois salários mínimos de Portugal.
“Muitas pessoas nos contam que ligam para as famílias e amigos e ouvem o quanto está boa a situação no país”, conta Alcione Scarpin, uma das mais ativas do núcleo do PT em Portugal, que tem 18 anos. Para fazer com que esse sentimento se traduzisse nas urnas em favor de Dilma, os militantes realizaram uma campanha para que os brasileiros transferissem os títulos de eleitor para votar no exterior. Foram às ruas com panfletos informativos. “Em março e abril distribuímos 20 mil”, diz Edmilson Pires da Cruz, um dos poucos do núcleo que era filiado ao PT no Brasil. O trabalho contribuiu para o cadastramento de mais de 15 mil eleitores entre a eleição de 2006 e a deste ano, totalizando 23.182. No mesmo período, o número de brasileiros vivendo legalmente em Portugal quase dobrou, de 65 mil para 116 mil, segundo o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras).
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“Certamente que a intencionalidade dos partidos políticos, um deles com representação em Lisboa, e do governo contribuíram para aumentar o número de eleitores”, afirma o Cônsul do Brasil em Lisboa, Renan Paes Barreto. Segundo ele, os brasileiros que procuraram o consulado para outros serviços foram orientados sobre o cadastramento, que ocorreu até 5 de maio.
Entretanto, a taxa de abstenção em Portugal foi de 65%. Paes Barreto considera que a distância do período de cadastramento é um dos fatores que explica a fraca ida às urnas. “Esses números refletem uma realidade de abril, pessoas que achavam que estariam em Portugal em outubro.” O fato da votação ocorrer somente em Lisboa e no Porto também influencia a adesão, mesmo em um país pequeno como Portugal. De 1989 para hoje, não houve participação acima dos 50%, de acordo com o cônsul.
Com cerca de 50 membros, os petistas fizeram o que Alcione chama de campanha “light”: alem dos panfletos nos locais frequentados por brasileiros em Portugal, fizeram palestras para informar sobre os programas do governo Lula e a situação do país. “Fizemos até em salão de cabeleireiro”, conta Patrick. Entraram com um consentimento desconfiado e saíram de lá com uma boa adesão, acrescenta.
Muitos que trabalharam voluntariamente por Dilma não tinham vida política ativa nem eram filiados no Brasil. “Eu penso nisso sempre. Acho que estar fora nos faz olhar de outra forma para o país, vemos com maior distância, lemos a imprensa internacional e ganhamos um poder de análise mais claro”, diz Nober Sanders, 38 anos, há dez no núcleo petista lisboeta.
Apesar da campanha, assim como ele, outros militantes dizem estar pouco informados sobre o que realmente acontece no Brasil e têm no partido a ligação com a situação local. “Fazemos reuniões mensais, uma forma de manter viva a ligação com o Brasil”, diz Alcione.
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