O funeral do chefe da Inteligência libanesa, general Wissam al Hassan, vítima de um atentado na última sexta-feira (19/10), terminou neste domingo (21) em confrontos entre a polícia e manifestantes próximos à sede do governo, em Beirute. Desde o meio-dia (local), dezenas de milhares de pessoas se reuniram na Praça dos Mártires, junto à mesquita Amin e ao mausoléu de Rafik Hariri (ex-primeiro-ministro morto em um atentado em 2005), onde Hassan foi enterrado ao lado de seu motorista.
O caixão do chefe da Inteligência, envolto em uma bandeira libanesa, foi carregado pelos companheiros das forças de segurança do general até o interior do templo, diante do olhar dos líderes políticos libaneses que foram ao funeral. Em discurso durante a cerimônia, o ex-primeiro-ministro e chefe do grupo opositor Futuro, Fouad Siniora, pediu a renúncia do atual premiê, Najib Mikati.
Agência Efe
Enterro de chefe da Inteligência libanesa teve tumultos e protestos contra o governo
Siniora acusou Mikati de ser “responsável” pela morte de Hassan no atentado com carro-bomba de sexta-feira, no qual morreram outras duas pessoas e 126 ficaram feridas. “Não podemos aceitar mais a cobertura política dos assassinos. Queremos um governo que proteja os libaneses e não só uma parte deles”, criticou. Logo após acabar o funeral, um grupo de jovens se dirigiu à sede do governo com a intenção de entrar para exigir a renúncia de Mikati, que ontem disse ter entregue o cargo à Presidência, mas teve o pedido de renúncia recusado.
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A polícia usou gás lacrimogêneo, jatos de água e tiros para o ar para dispersar os manifestantes, que responderam lançando pedras. Os choques acabaram perdendo a força sem que os manifestantes conseguissem entrar na sede governamental, em conflitos que deixaram vários feridos de ambos os lados, segundo a imprensa libanesa.
De acordo com fontes governamentais, entre os feridos estão 15 membros da forças de segurança. Frente a essa situação, o chefe da oposição Saad Hariri, filho de Rafik, de quem Hassan era aliado, pediu aos manifestantes para voltarem a suas casas, embora alguns tenham decidido ficar no lugar, com barracas. “O que aconteceu é inaceitável. Não honramos o general Hassan com atos de violência”, afirmou, em um pronunciamento. A atmosfera já estava tensa na Praça dos Mártires, onde o povo exibia bandeiras libanesas, dos grupos políticos Futuro e Forças Libanesas, assim como a insígnia da rebelião síria. “Mikati fora!”, “Basta!”, “Liberdade para sempre!” e “O sangue de Achrafieh (bairro do atentado) tem a cor da liberdade!”, eram algumas das palavras de ordem nos cartazes. Os manifestantes também mostravam fotos de Hassan e de Rafik Hariri, outras de Mikati com o lema “Vete!” e onde se via o primeiro-ministro com o chefe do grupo xiita Hezbollah, o xeque Hassan Nasrallah, com a inscrição “Têm sangue nas mãos”.
A estudante universitária Lin Abdelnur, apartidária, disse que foi à cerimônia para pedir o fim dos “assassinatos e dos atos terroristas”. “Quero viver em um país que seja livre e onde cada um possa expressar suas opiniões apesar das divergências”, ressaltou, em alusão à situação instável do Líbano, dividido entre confissões e entre partidários e opositores do regime sírio.
Nesse aspecto, Eblin Nasara, outra das presentes ao funeral, disse “O povo libanês rejeita a violência, só quer viver em paz”, afirmou, reconhecendo que o Líbano se encontra em uma “encruzilhada”. A ameaça de um contágio da crise síria paira sobre o país há meses, e o temor aumentou após o assassinato de Hassan, que revelou várias tramas de atentados contra personalidades antissírias. Uma das tramas é o caso do ex-ministro libanês Michel Samaha e do chefe da Segurança síria, Ali Mamluk, acusados em agosto pela Justiça libanesa de planejar atentados contra líderes políticos e religiosos no Líbano. Antes do funeral, houve uma cerimônia militar durante a qual o presidente, Michel Suleiman, fez uma homenagem póstuma a Hassan, dando-lhe a insígnia da Ordem Nacional do Cedro. “Seu assassinato foi voltado contra o Estado libanês e, por isso, todas as instituições de segurança, políticas e judiciais devem se unir para defender o Líbano”, disse Suleiman.
Enquanto isso, estradas e rotas seguem bloqueadas em várias regiões do país por grupos de manifestantes e houve incidentes na cidade de Trípoli, palco frequente de distúrbios.