A onda de calor que tem tomado a capital da Espanha chegou ao interior do Congresso dos Deputados de Madri. Ontem e hoje, no “Debate sobre o estado da nação”, evento que ocorre quase todos os anos no local, o clima esquentou entre o governo do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), do Presidente José Luis Rodríguez Zapatero, e a oposição, liderada pelo direitista Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), e também seu adversário nas últimas duas eleições. Tal fervor tem explicação: ambos querem garantir seu lugar nas eleições de 7 de junho ao Parlamento Europeu.
Zapatero discursa no Congresso – Fotos: Divulgação/Congreso de los Diputados
Zapatero, que já havia participado de seis debates pelo partido socialista, três como líder do governo, foi o primeiro a discursar e apresentou suas novas propostas para evitar a crise que colocou a Espanha no topo da lista de desempregos da União Europeia. O país tem mais de 17% da população economicamente ativa do país sem trabalho – o dobro da média da UE. E a situação pode piorar de acordo com o último relatório da Comissão Europeia, que prevê que a taxa suba para mais de 20%.
Rajoy discursou na sequencia, destrinchou os números da crise e lançou faíscas contra o presidente. Afirmou que nunca foi tão fácil definir a situação da nação: “São mais de quatro milhões de desempregados”. O líder da oposição também acusou Zapatero de mentir à população espanhola, escondendo a gravidade da situação. “Por um acaso (a crise) chegou de surpresa?”. E terminou seu discurso afirmando que o drama da nação espanhola é que Zapatero é o administrador da crise e o acusou de ser o peso que não permite que a economia se levante.
Zapatero devolveu as provocações. Com sarcasmo, afirmou que Rajoy não é um especialista em dar lições, mas sim em perder eleições. “Nisto eu reconheço sua superioridade, você já ganha de mim por dois a zero”. O presidente ainda acusou o líder da oposição de se aproveitar da crise para ganhar posições políticas e lançou outra provocação: “O PP também fez uma previsão de crescimento de 2%. Então todos fizemos um acordo para enganar os cidadãos?”, indagou.
Mariano Rajoy, no Congresso
O debate continuou provocativo por parte de Rajoy, mais leve por parte de Zapatero. Irônico, o líder da oposição chegou a se questionar se estava sendo injusto com Zapatero, que era uma bênção divina. Zapatero, por sua vez, seguiu apresentando justificativas para seus planos e cutucando a oposição para criar mais alternativas e criticar menos.
Propostas anti-crise
No debate, Zapatero apresentou uma série de medidas para combater a crise. No plano fiscal, o presidente prometeu diminuir os impostos para pequenas e médias empresas que mantenham ou aumentem o seu quadro de funcionários até o final do ano e afirmou que eliminará o recolhimento de impostos sobre o vale-transporte empresarial, o que reduzirá aproximadamente 24% o custo do transporte público.
Também se comprometeu a diminuir e até zerar a dedução de impostos de hipotecas cujo titular tenha renda maior que 24 mil euros, com o objetivo de incentivar a venda de 800.000 imóveis que estão parados, à venda.
Apesar de não ter um plano específico para os desempregados, Zapatero irá destinar 70 milhões de euros para a especialização de que está sem trabalho. A idéia é pagar a matrícula de pós-graduação ou mestrado para os desempregados entre 25 e 40 anos que já tenham curso superior.
O presidente também afirmou que o governo incentivará o transporte público e ajudará o setor automobilístico a se recuperar. O governo se comprometerá a conceder 500 euros para qualquer cidadão que quiser comprar um carro novo, sempre quando o governo da Comunidade Autônoma (no caso do Brasil, o estado), também der 500 euros e o setor automobilístico ajudar com mais mil. Neste caso, todos os automóveis novos custariam 2 mil euros menos.
Segundo especialistas espanhóis, propostas como esta última, de ajuda direta à compra de carros, chegaram a surpreender a oposição. O motivo era que assim como esta, outras idéias também eram semelhantes às do PP e teriam deixado o partido incomodado e sem reação. Um crítico do El País chegou a escrever que na hora do almoço, intervalo entre a primeira exposição de Zapatero e a de Rajoy, a direção do PP ficou sem comer para retocar o discurso do partido. Teria sido a fome o motivo para tantas alfinetadas?
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