O governo dos EUA expressou apoio nesta terça-feira (28/05) à decisão da UE (União Europeia) de levantar o embargo de armas a insurgentes sírios e de continuar com as sanções ao governo de Bashar Al Assad. Por outro lado, Ministério das Relações Exteriores sírio consideraram a ação como um “obstáculo à solução política”, enquanto Rússia, Canadá e Irã desaprovaram a medida.
Efe
Foto de arquivo de março de 2013 mostra membro do Exército Livre Sírio na cidade de Menag
Perante a falta de consenso sobre a medida durante a longa reunião desta segunda-feira (27/05), o embargo europeu à Síria ficará sem efeito no dia 31 de maio, quando vence a última prorrogação adotada há três meses. De qualquer modo, os países europeus se comprometeram a não armar a oposição até agosto, para abrir espaço às conversas de paz preparadas pelos EUA e a Rússia no próximo mês, em Genebra, na Suíça.
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O porta-voz da Casa Branca afirmou também que sabia da viagem do senador republicano John McCain à Síria, o primeiro funcionário de alta categoria dos EUA que visita esse país desde o início do conflito em março de 2011. Uma das vozes do Congresso que mais milita por uma maior intervenção norte-americana no país árabe, McCain cruzou nesta segunda-feira (27/05) a fronteira entre Turquia e Síria acompanhado do líder do Conselho Militar Supremo do ELS (Exército Livre Sírio), Salem Idris, após ter se reunido com líderes de várias unidades opositoras.
Dentro da Síria
O porta-voz do comando do ELS, Qasem Saadedin, elogiou essa decisão e disse que ela deveria ter sido tomada “há meses”. “Esperamos que seja um passo efetivo e sério, e não se limite só a um anúncio”, disse. E prometeu que “as armas recebidas da UE não vão chegar aonde não devem chegar” – em referência ao receio de países ocidentais de que as armas caiam nas mãos de “grupos extremistas”.
Mais especificamente, Saadedin se comprometeu a documentar com vídeos o lançamento de cada um dos mísseis recebidos, assim como a devolver as armas que não forem usadas quando acabar a guerra. “Precisamos de mísseis antiaéreos e antitanques”, disse, garantindo ter listas completas de todas as brigadas do ELS e de suas respectivas armas.
Na mesma linha, Abdel Basit Seida, integrante da principal aliança de grupos opositores CNFROS (Coalizão Nacional Síria), e ex-presidente do opositor CNS (Conselho Nacional Sírio), destacou que a suspensão do embargo é “muito importante” e tem um “sentido simbólico”, já que demonstra que “a comunidade internacional começou a tomar uma postura séria e firme”.
Idris, porém, disse à AFP que estava “muito desapontado” com o fato de o levantamento de embargo não levar ao envio imediato de equipamentos. Além disso, destacou a entrada de milhares de soldados do grupo libanês Hezbollah (fiéis a Assad) como a maior ameaça para o ELS.
Os líderes opositores teriam pedido a McCain para os EUA aumentarem o apoio à oposição armada, proporcionando armamento pesado, uma zona de exclusão aérea e bombardeios aéreos seletivos sobre alvos do governo e do Hezbollah.
Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores sírio indicou que “a decisão da União Europeia constitui um obstáculo aos esforços internacionais para obter uma solução política para a crise na Síria”, em comunicado publicado pela agência de notícias Sana. A nota acusa a UE de “apoiar e encorajar os terroristas, fornecendo-lhes armas em violação ao direito internacional e à Carta das Nações Unidas”.
Rússia
As atenções voltaram-se também à postura da Rússia sobre a decisão da UE. O vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Riabkov, declarou nesta terça-feira que a decisão da União Europeia evidencia uma ação de “dois pesos e duas medidas” e poderia prejudicar a conferência internacional sobre a Síria em Genebra.
Os mísseis antiaéreos S-300 que o país fornece ao governo “são em grande medida um fator de contenção para impedir que algumas cabeças quentes deem a este conflito (…) um caráter internacional com participação de forças externas”, afirmou Riabkov.
O país alega que seu armamento não desestabiliza a situação no país árabe nem altera o equilíbrio estratégico no Oriente Médio, e põe em dúvida que suas armas tenham sido utilizadas para reprimir os opositores de Assad.
“Não podemos comparecer a esta reunião (conferência sobre a Síria) quando os membros e potenciais participantes tratam de impor ao povo sírio decisões vindas de fora, incluindo a determinação a priori do resultado do processo de transição cujos parâmetros ainda devem ser decididos”, apontou o número dois da diplomacia russa.
O país insiste em que os opositores sírios devem levar a Genebra “uma delegação representativa, capaz de tomar decisões em nome de toda a oposição”. Ao mesmo tempo os opositores devem renunciar “às tentativas de usar a própria conferência como instrumento para retirar (o presidente sírio) Bashar al Assad do poder”, assinalou Riabkov.
Além disso, Moscou pressiona para que a conferência também conte com a participação de Irã, Egito e Arábia Saudita, países da região que não estiveram em outra reunião similar realizada em Genebra há um ano, no final de junho de 2012. “Nossos parceiros, infelizmente, adotaram uma rígida postura e não querem permitir a presença dos iranianos, o que consideramos um erro se for levar em conta a influência de Teerã sobre a situação síria e, em geral, a influência na região”, assegurou o vice-ministro russo.
Por outro lado, o ex-presidente da CNS, Abdel Basit Seida, criticou a postura da Rússia, que “protagoniza uma guerra midiática e nunca parou de fornecer armas ao regime”. Quanto à defesa feita pela Rússia sobre a venda de mísseis ao regime sírio, sob o argumento de que são “um fator estabilizador” contra a intervenção estrangeira, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, sustentou que isso não contribui para levar a Síria “mais próxima à desejada transição política”.
Canadá
As visões da UE, EUA e opositores sírios estão sendo contrariadas também por Canadá e Irã. O ministro de Assuntos Exteriores canadense, John Baird, disse nesta terça-feira (28/05) que “encher a Síria com mais armas levará a mais violência, mais morte e mais destruição, então certamente o Canadá não tem a intenção se seguir a proposta”. “Minha visão é de que o único modo de dar fim ao sofrimento do povo sírio é política”, afirmou.
Enquanto isso, o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores, Seyyed Abbas Araqchi, afirmou que a atitude da UE foi “precipitada e perigosa”, acrescentando que o bloco “definitivamente aumentou ameaças contra si próprio”.
* Com informações de Efe e AFP