O ex-militar venezuelano Cliver Alcalá Cordones afirmou nesta quinta-feira (26/03) ter assinado um contrato com o deputado opositor e autoproclamado presidente do país, Juan Guaidó, para matar o presidente Nicolás Maduro, em uma operação com o aval de agentes de segurança dos EUA.
O plano consistia em assassinar Maduro, matando em uma “operação cirúrgica” ele e os principais ministros de Estado e dirigentes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
“O objetivo era eliminar cirurgicamente os responsáveis pelo desastre que transformaram o país”, revelou Alcalá. Depois disso, seria conformado um governo de coalizão, com “sete personalidades” do setor da direita venezuelana. “Um governo que surgiria das cinzas”, disse o major-general.
“Tenho as assinaturas no contrato. O povo venezuelano vai ver as assinaturas. Guaidó não tem como negar”, diz. Ele conta ainda quem foram as demais pessoas que teriam assinado o acordo. “Não somente Juan Guaidó, mas também do [assessor político] Juan José Rendón, do deputado [venezuelano] Sérgio Vergara e os assessores militares dos Estados Unidos.”
J.J. Rendón, como é conhecido, foi assessor da campanha política do presidente colombiano Ivan Duque e atualmente é consultor e estrategista político de Guaidó. No entanto, Alcalá nega a participação de autoridades colombianas.
Acordo
Sobre o conteúdo do acordo, o ex-militar afirma que se referia “aos detalhes da cooperação para a execução da ação militar e para envio de ajuda humanitária depois da operação”.
Disse ainda que ele é o comandante da operação. “Quando assinamos o contrato não estava claro quem seria o comandante da operação, porque ainda não sabíamos quem iria fazer para dessa unidade militar “Liberdade Venezuela”. Então montamos esse grupo, o treinamos e me correspondeu o comando devido às circunstâncias.”
Alcalá afirmou que um arsenal de 26 fuzis de assalto, apreendido nesta semana na Colômbia, pertence a ele e ao grupo de ex-militares, treinados para invadir a Venezuela, e que foram compradas com recursos enviados por opositores Os fuzis, que estavam equipados com silenciadores e visores noturnos, foram detectados pelas autoridades colombianas em uma barreira policial de uma rodovia, semana passada, quando eram transportadas por um cidadão colombiano que se dirigia à zona de fronteira com o país vizinho.
“Essas armas apreendidas na Colômbia pertenciam ao povo venezuelano, no âmbito do acordo assinado por nós”. O arsenal foi comprado com o “dinheiro do Estado venezuelano”, fornecido pelo “presidente legítimo da Venezuela, Juan Guaidó através do contrato que assinamos”.
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Cliver Alcalá Cordones diz ter assinado com Guaidó plano para matar Maduro
Maduro
Maduro cobrou do governo da Colômbia a prisão de Alcalá. “Por que depois de 48h de Cliver informar às autoridades colombianas que essas armas eram dele, ele não foi preso por tráfico de armas e por promover o terrorismo na Venezuela?”, questionou o chefe de Estado. E disse que a existência dos acampamentos, onde se realizavam os treinamentos militares clandestinos, em território colombiano, já havia sido denunciada pelo governo venezuelano. “Denunciamos a existência desses acampamentos que contam com a participação de paramilitares colombianos”, disse Maduro.
Depois das revelações, o Ministério Público da Venezuela vai investigar Guaidó, o dirigente do partido Voluntad Popular, Leopoldo López, Alcalá e outros envolvidos. Alcalá afirma que López, que está na embaixada da Espanha de abril do ano passado, sabia e contribuiu com o plano para assassinar Maduro.
O presidente da Venezuela solicitou ao ministro de Relações Exteriores, Jorge Arreaza, abrir diálogo com o governo espanhol. “Já pedi ao chanceler para comunicar a chancelaria espanhola que desde a embaixada estão conspirando para assassinar-me. Leopoldo López está usando às instalações da diplomática para conspirar”, enfatizou Maduro.
Guaidó não se pronunciou sobre o tema e comentou apenas as sanções dos Estados Unidos contra dirigentes chavistas, elogiando a iniciativa.
Alcalá é considerado terrorista pelos EUA
As revelações de Alcalá foram feitas a meios de comunicação colombianos e internacionais, nesta quinta-feira (26/03), minutos depois de o governo dos Estados Unidos o declararem narcoterrorista e anunciarem uma recompensa de 10 milhões de dólares por sua captura.
O processo, movido pela Administração para Controle de Drogas (DEA, na sigla em inglês), também inclui oferta de recompensa contra Nicolás Maduro, Diosdado Cabello e aos outros 12 funcionários, acusados de supostos crimes de narcoterrorismo.
Alcalá, no entanto, disse que não é fugitivo. “As autoridades colombianas sabem onde eu moro. Não estou fugindo”. E disse temer uma queima de arquivo. “Que não se atrevam a montar um ‘falso positivo’ [como são chamadas na Colômbia as execuções extra-judiciais.]”
Não é primeira vez que o ex militar é incluído em uma lista de criminosos dos Estados Unidos. Quando era oficial ativo das Forças Armadas da Venezuela, também teve problemas com o governo norte-americano. “Em sete oportunidades me reuni com agentes dos Estados Unidos [na Colômbia] para discutir porque meu nome estava em uma lista de procurados. Só porque um dia fui chavista?”
Em 2013, quando Maduro assumiu o governo, o militar saiu do exército venezuelano. Em agosto de 2018, passou a ser investigado pela Justiça venezuelana por possível participação no atentado com drones contra o presidente. Os integrantes do grupo que planejou o ataque afirmaram que Alcalá auxiliou no treinamento da pilotagem dos drones em território colombiano e na logística de transporte até Caracas.
Alcalá também é acusado de participar nas ações armadas na fronteira com a Colômbia no dia 30 de abril do ano passado, durante a tentativa de golpe contra o presidente Maduro. Além disso, é investigado por suposta participação em outro plano de golpe, que foi desmontado pelos serviços de inteligência venezuelanos, em junho de 2019.