A polícia alemã prendeu nesta quinta-feira (30/09) a ex-secretária do campo de concentração nazista Stutthof, Imgard Furchner, 96 anos, ao tentar fugir de um julgamento no norte da Alemanha que a acusa de cumplicidade. Aos 18 anos, a fugitiva começou a trabalhar no campo de concentração de Stutthof, na ocupação nazista da Polônia.
O julgamento então teve de ser remarcado para o dia 19 de outubro, já que as acusações não podem ser lidas sem a presença da intimada. A ex-secretária é acusada de ter cumplicidade em mais de 11 mil casos de homicídio e 18 tentativas de assassinato. Ela é a primeira mulher em décadas a ser julgada em crimes do período nazista na Alemanha.
Ao não comparecer no tribunal de Itzehoe, um mandado de prisão foi emitido contra ela. De acordo com o porta-voz do fórum, Frederike Milhoffer, a idosa teria saído de táxi do asilo onde mora, em Quickbornde, em direção a uma estação de metrô. Horas mais tarde, ele anunciou que ela havia sido detida.
Sobreviventes do Holocausto deveriam comparecer ao tribunal nesta quinta como testemunhas de suas experiências em campos de concentração. O Comitê Internacional Auschwitz, composto de sobreviventes e familiares de vítimas, criticou as autoridades alemãs por não terem prevenido a fuga de Furchner.
Na acusação de Furchner, os promotores afirmam que, entre junho de 1943 e abril de 1945, ela teria ajudado os responsáveis pelo assassinato de prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos da Rússia. Furchner foi datilógrafa e secretária do comandante Paul Werner Hoppe. Ao todo, cerca de 65 mil pessoas morreram em Stutthof durante o nazismo.
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Ao todo, cerca de 65 mil pessoas morreram em Stutthof durante o regime nazista
Em outros testemunhos a respeito de sua função, ela chegou a dizer que não sabia nada sobre a máquina assassina nazista. Dessa vez, sua defesa deve argumentar que seu papel era restrito a uma mesa, fazendo leitura, escrevendo cartas e telegramas em nome do chefe, que, por sua vez, era responsável por ordenar a execução de milhares de prisioneiros.
Por ser menor de idade na época dos crimes aos quais é acusada, ela será julgada pela Justiça juvenil alemã.
O julgamento também ocorre em um momento simbólico, quando se lembram os 75 anos do enforcamento dos 12 principais dirigentes do Terceiro Reich de Adolf Hitler que foram julgados, os demais fugiram ou cometeram suicídio.
O processo contra ela foi aberto após o julgamento de um ex-guarda do campo de concentração de Sobibor John Demjanjuk, que foi condenado em 2011 por auxiliar e incitar o assassinato de 28 mil pessoas.
Sua condenação abriu um precedente para o julgamento de outros trabalhadores da estrutura nazista. O juiz disse à época que mesmo pessoas que tenham tido “pequenos papéis” na execução dos crimes devem ser responsabilizadas.
(*) Com Ansa.