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A caça esportiva na África do Sul é uma prática legalizada há mais de 80 anos, porém, ainda gera polêmica e preocupação entre defensores dos animais. Recentemente, o assunto voltou à tona após fotos dos filhos do bilionário midiático norte-americano Donald Trump com animais mortos após uma caça em território africano caírem na internet. À esquerda, Donald Trump Jr. posa com o rabo de um elefante.
Atualmente, há cerca de 50 safáris de caça legalizados na África do Sul, de acordo com o veterinário Riaan Caetzee, que cuida dos animais no safári Fairy Glen Game Reserve, próximo à Cidade do Cabo. Segundo ele, o abate dos animais é necessário. “Parece estranho para muitos países, mas a África do Sul concentra uma das maiores faunas do mundo. É preciso controlar a população para evitar problemas. Não sejamos hipócritas, a caça legal não é um problema, pois são animais que hoje temos em abundância e sem perigo de extinção”, afirma.
De acordo com a lei, os animais disponibilizados nos safáris de caça muitas vezes estão debilitados, sem grandes chances de cura ou são definidos por causa do controle populacional. A atividade também só é permitida por um curto período: entre março e junho. Já os animais ameaçados de extinção não podem ser caçados. Existem órgãos governamentais de defesa e preservação do meio ambiente, além de associações de caça que asseguram que a legislação está sendo cumprida nesses lugares. Tanto o proprietário do safári de caça quanto o caçador precisam passar por um criterioso processo de avaliação e apresentar documentos, licenças, participar de cursos preparatórios, inclusive de tiro e utilização de equipamentos, formação da equipe.
O esporte é uma atividade realizada principalmente por pessoas com alto poder aquisitivo. O abate de um elefante chega a custar 40 mil reais, e o de um leão, 7,5 mil reais. Um iniciante que decide caçar um elefante na África do Sul, por exemplo, irá gastar no mínimo 55 mil reais, entre transporte aéreo, taxas de licenças de caça e do animal que são pagas às entidades governamentais competentes, preparação do animal para embalagem e importação para outro país. Além disso, taxas aduaneiras de importação temporária de armas, de aeroportos locais, alojamentos e todos os profissionais necessários para auxiliá-lo na caçada.
“Muitos pensam que a caça legalizada é um ato terrível, porém, discordo. É algo muito sério. Eu fiz curso, pago todas as taxas e não vejo problema. Na África do Sul é comum, cultural. Sem falar que é um esporte caro e traz benefícios econômicos para o país, pois gera um alto faturamento para empresários e governo”, opina Salim Mahmmod, praticante do esporte de caça. Ele conta ainda que, após uma expedição de caça, todos comem a carne e o que sobra é doado para comunidades carentes. No entanto, a cabeça do animal é levada pelo caçador, pois é considerada um prêmio.
Caça ilegal
Mas a grande preocupação das organizações de proteção aos animais, ambientalistas e até órgãos do governo é em relação à caça ilegal, que é considerada crime hediondo no país com penalidades que variam entre cinco e 25 anos de reclusão.
“Infelizmente, os jornais locais mostram muitos safáris de caça ilegais, profissionais como veterinários, biólogos e até mesmo as autoridades policiais e políticas que recebem propina para liberar ou facilitar a caça em grandes áreas. Sem falar na utilização de tecnologia e equipamentos modernos que são mais precisos e contribuem para a matança em grande quantidade”, lamenta Mahmmod.
Rinoceronte
O rinoceronte é um dos animais mais procurados pelos caçadores ilegais. O chifre do animal vale cerca de 120 mil dólares no mercado asiático. Muitos acreditam que ele é um afrodisíaco natural. “Este mito absurdo foi criado após um Sangoma ter dito que isso aumenta o desejo sexual. Os caçadores retiram a parte do animal e depois chupam o chifre, especialmente, os vietnamitas e chineses”, explica Caetzee.
Gleyma Lima/Opera Mundi
O chifre de rinocerontes sul-africanos é retirado ilegalmente e vendido por cerca de 120 mil dólares no mercado asiático
Tudo isso só contribui para a crescente morte de rinocerontes. Segundo autoridades locais, nos primeiros três meses do ano já foram mortos 135, a maioria (75) no perímetro do Parque Nacional Kruger – um dos maiores safáris do mundo e o maior da África do Sul. Em 2011, 449 rinocerontes foram abatidos ilegalmente e nos últimos quatro anos mais de mil animais. Os números assustam os ambientalistas que temem uma provável extinção do rinoceronte em 2015.
Conforme afirmou Caetzee, que também cuida de rinocerontes que tiveram o chifre arrancado por caçadores, o animal não sobrevive muito porque o sofrimento é grande. “O animal precisa ser medicado rapidamente ou morrerá agonizando. Além disso, quando um adulto morre, a vida das crias é comprometida, pois não conseguem sobreviver sem as mães. Não se pode confundir a prática da caça de animais com maus-tratos”, acrescenta. O profissional também comenta que os leões e elefantes também são grandes vítimas da caça ilegal.
Os dados do Ministério do Meio Ambiente da África do Sul mostram que nas primeiras semanas deste ano, 89 suspeitos foram presos, um número bem maior em relações às detenções realizadas nos anos anteriores. Vários grupos organizados que caçavam rinocerontes e contrabandeavam para Ásia foram descobertos. Inclusive, organizações moçambicanas que são treinadas para abater animais no Parque Nacional Kruger, devido à área de fronteira com Moçambique.
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