O “G-20 da crise” acabou sem uma saída para a crise. Como tem sido a praxe nas últimas reuniões de cúpula de autoridades internacionais, o encontro dos chefes de governo e de Estado das 20 maiores economias do mundo terminou nesta sexta-feira (04/11) sem apontar medidas concretas para reativar a economia nos países desenvolvidos e combater a crise de confiança que atinge a União Europeia.
O Brasil já havia declarado sua intenção de contribuir financeiramente com a instituição, mas sem precisar valores. Os chefes de estado do G20, através do Conselho de Estabilidade Financeira, listaram 29 grandes bancos transnacionais, cuja falência poderia ameaçar o sistema financeiro internacional.
No extenso comunicado final do encontro, realizado no balneário de Cannes, no sul da França, o principal destaque foi o compromisso de aumentar os recursos à disposição do FMI (Fundo Monetário Internacional). No entanto, não ficou definido como se daria esse fortalecimento do Fundo; se por meio de uma injeção pura e simples de recursos ou pela criação de uma moeda de reserva para o auxílio de países em dificuldades.
Em outro trecho, o comunicado detalha o “plano de Ação para o Crescimento e o Emprego”, que incentiva os países com situação fiscal confortável —caso da Alemanha e de países emergentes, como China e Brasil — a adotar medidas de fortalecimento do mercado interno, de modo a tornar suas economias menos dependentes das exportações. Por outro lado, receita ajustes fiscais para nações com contas públicas desequilibradas, como Itália, Grécia e Irlanda, que ao mesmo tempo precisariam incentivar a geração de empregos.
Apesar de defender a adoção desses princípios de forma coordenada, não foram assumidos compromissos concretos, o que aumenta o ceticismo e a decepção de analistas com os resultados práticos da cúpula.
“Em relação à economia europeia não há nada que o G20 possa fazer, é um problema da Europa e ela que terá que resolver”, retruca Francesco Saraceno, economista sênior da OFCE (Observatório Francês de Conjunturas Econômicas). No entanto, para ele, isso não quer dizer que a Europa recusaria os 100 bilhões de dólares em títulos da divida anunciados pela China, nem o investimento brasileiro através do FMI.
“Os problemas da zona euro não são uma questão de recursos, há uma maneira muito mais simples que pedir ao Brasil e a China: pedir ao Banco Central para imprimir mais moeda. Mas é uma questão de desajuste e de implantação de um sistema de governo mais eficaz, se não fizermos isso, será realmente necessário capitalizar esses fundos, e então por que não pedir dinheiro para quem tem?!” explica.
Taxa “Robin Hood”
Uma dezena de países se mostrou favorável à implantação de uma taxa sobre as transações financeiras que recolheria recursos para apoiar países em desenvolvimento, projeto defendido pela França e pela Alemanha, ao qual o Brasil se mostrou favorável. “Ela será baixa, mas importante de um ponto de vista simbólico. Eu acho importante considerar que há especulação demais e pegar um pouco do dinheiro desses especuladores”, desabafa Sandrine Fasseur, especialista em economia internacional do OFCE.
Também foram listados onze paraísos fiscais, incluindo Suíça e Liechtenstein, que devem realizar ajustes para corrigir furos em sua fiscalização bancária. O grupo promete colocar de lado os países que insistirem em não corrigir suas normais fiscais.
Crise grega
“A bola está no campo dos gregos e de seu povo”, disse Sandrine Fasseur. “Há dois anos, pedimos a eles muitos esforços, e há uma semana o plano de anulação de 50 bilhões de euros da dívida da Grécia foi recusado. Fizemos esforços dentro da zona euro, bancos franceses e alemães sofreram perdas. Era um acordo forte, aprovado de forma unânime, apesar disso, a Grécia, governo ou população, não parecem se dar conta da gravidade da situação”, criticou.
A economista endossa o comunicado global do G20, que felicita as decisões tomadas sobre o país na última semana pela união monetária e prometer criar barreiras para evitar o contágio em economias vulneráveis como Itália, Espanha e Portugal. Enquanto a esquerda grega defende que o problema da Grécia é o mesmo dessas outras economias do sul da Europa, que serão as próximas vítimas de uma política neoliberal que favorece os mercados financeiros.
“Há uma forma de ditadura dos mercados, eles se tornaram extremamente exigentes” diz. Apesar da afirmação, Fasseur repercute a posição do governo francês de que é preciso que os gregos digam se aceitam o acordo, mesmo se isso implique a implantação de um programa de privatizações, diminuir salários dos funcionários públicos, reduzir as aposentadorias. “Se eles não aceitarem, que saiam da zona euro, eu não vejo outra solução”, se exalta.
Fim da presidência francesa
Após o encontro, que custou 20 milhões de euros em infraestrutura e segurança, sob a presidência francesa do grupo, Sarkozy vai estabelecer neste final de semana as medidas de um segundo plano de austeridade na França, que pretende evitar a perda do triplo “A”, nota que conserva nas agências de classificação de risco. “A Europa fez tudo para trazer uma resposta de credibilidade para a crise”, garantiu o anfitrião do evento durante o encerramento do G20.
De acordo com o texto final, a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) será formalizada para desenvolver a regulação e supervisão do sistema bancário. Os dirigentes querem que o G20 permaneça sendo um grupo informal para buscar soluções globais. A idéia é envolver as Nações Unidas no processo decisório, abrindo espaços para não-membros, uma das reivindicações dos militantes do Contra-G20, que também acaba nesta sexta-feira em Nice. A próxima Cúpula do G20 acontece no México ,na cidade de Los Cabos, em junho de 2012.
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