A violência doméstica é um dos fatores que está por trás das chacinas praticadas nos Estados Unidos, como a da madrugada de domingo (12/06), em Orlando, que deixou 49 mortos e 53 feridos da comunidade LGBT na boate Pulse. “O assassino nesse caso era violento com a mulher. Batia na mulher e chegou até a fazê-la de refém. Há um histórico de violência”, diz o professor de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Reginaldo Nasser sobre o autor do crime, Omar Mateen, 29. Mateen trabalhava para a empresa de segurança GS4. Essa empresa atua não só com segurança privada, mas também em conflitos armados como no Afeganistão e Iraque.
Agência Efe
Parte das vítimas atingidas por disparos na boate gay Pulse no domingo em Orlando foram atendidas fora do estabelecimento
Nasser diz que os Estados Unidos passam por um processo de radicalização de grupos de direita “cuja extremidade lógica é matar alguém”. O pesquisador também refuta a tese de que a pessoa se torne violenta por conta apenas de ideias. “As crenças e as ideologias articuladas por um grupo podem canalizar a violência, mas elas não criam a violência no sentido de instaurá-la”, afirma. Ele considera também que no caso dos Estados Unidos há uma estrutura social que induz à violência: “Você tem crimes de ódio, homofobia, racismo e centenas de grupos que propagam sistematicamente essa visão de mundo. Isso inclusive proliferou depois da eleição do Obama, como se sua eleição estivesse perturbando a sociedade norte-americana”.
Para o professor, é um erro que a discussão se dê em torno das possíveis motivações. “E em vez de as pessoas ficarem buscando o que a pessoa lê, o que é doutrinado, conta mais a história de vida da pessoa”, defende Nasser. “Neste caso, é uma ação isolada, mas na medida que outros praticam essa ação isolada há uma regularidade. Portanto, é um fato social.” O professor lembra que o país tem um histórico de grupos radicais de direita e cita a Ku Klux Klan, que surgiu em 1865 como uma fraternidade de armas voltada a aterrorizar os negros. “Nos Estados Unidos, historicamente você vai achar grupos de ódio, de extermínio, é um negócio impressionante, isso sempre tem”, diz Nasser.
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“Há uma cultura bélica nos Estados Unidos, alimentada por um imaginário, de ir ao mundo, atacar o mal, e você pega o histórico de envolvimento dos Estados Unidos nas guerras do mundo isso fica evidente. Tudo isso é muito ventilado na sociedade, como se fosse resolver o mal. É uma coisa meio missionária”, afirma o professor. Ele também diz que a pessoa que faz esses ataques assume uma posição de representar para si mesma e para a sociedade “o princípio moral absoluto”.
Um pesquisador norueguês chamado Johan Galtung estudou os conflitos sociais e concluiu que sob a violência visível, como a dos fatos criminosos por motivações de ódio, há uma violência invisível que pressiona a pessoa a tomar tais atitudes. “Nós só tomamos contato com a visível, mas a invisível tem duas variáveis, a estrutural e a cultural – essas são as que massacram a pessoa no dia a dia. E algumas pessoas diante disso reagem com violência física. É uma reação inadequada, claro, mas a pessoa está reagindo”, observa Nasser.