O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi alvo de uma incomum onda de críticas por parte da imprensa de seu país, que chegou a pedir a renúncia do ministro da Defesa, Ehud Barak, pelas trágicas consequências do ataque a uma frota de ajuda humanitária na segunda-feira (31/5).
Nove pessoas morreram e quase 40 ficaram feridas no ataque aos seis navios que formavam a “Frota da Liberdade”, que levava ajuda humanitária a Gaza e foi abordada pelo Exército israelense em águas internacionais.
“Onde estavam com a cabeça?”, “Punho de força”, “Os desaforos como método de ação”, “Completa estupidez”, “Liderança de tolos”, “O preço de uma política deficiente” e “Fiasco em alto-mar”, são alguns dos títulos de artigos de opinião e editoriais dos principais jornais de Israel hoje (01/6).
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É a primeira vez que Netanyahu, que chegou ao poder em março de 2009 após a formação de uma coalizão de direita, enfrenta uma onda de críticas desta magnitude da opinião pública de seu país, após uma de menor intensidade em março após a pior crise diplomática com os EUA em décadas.
“Quase tudo o que fazemos nos últimos anos é afetado por alguma deficiência, por falta de inteligência… para incorrer na negligência”, escreve a colunista Sima Kadmon em seu artigo diário no Yedioth Ahronoth, o jornal de maior tiragem.
No jornal Haartez, artigos com os títulos “Fiasco em alto mar”, “Sete idiotas no gabinete” e Um fracasso, de qualquer forma”
Por sua parte, com algum cinismo, seu colega de redação Amnon Abramovich lembra que “cada vez que há algo relacionado com o Exército e a segurança, o primeiro-ministro tem azar, sofre mal olhado ou é vítima de algum mau agouro”.
O jornalista Eitan Haver, ex-chefe de gabinete do assassinado primeiro-ministro Yitzhak Rabin, assegura que o problema que representava a frota para Israel “podia ser resolvido de forma pacífica”, mas novamente o Exército se deixou levar pela crença de que “na força está a solução”.
Ben Dror Yamini, do jornal Maariv, cita em seu artigo “Uma liderança de tolos”. Para ele, é normal que líderes cometam erros, mas “é preciso saber diferenciar erros cometidos ingenuamente e erros cometidos quando o resultado é previsível de antemão”.
“Se esta é a liderança israelense nos dias atuais, não acho que nenhum israelense pode dormir tranquilo frente à ameaça maior que enfrentamos (em alusão ao programa nuclear Irã)”, afirma.
O escritor David Grossman argumenta no jornal Haaretz que “nenhuma explicação pode justificar o crime que foi cometido, nem há desculpa para a estupidez com que o governo e o Exército atuaram”.
Renúncia
Grande parte da responsabilidade, para os comentaristas, recai sobre o ministro da Defesa, o trabalhista Ehud Barak, a quem outro influente colunista, Sver Ploztker, do jornal Yedioth, exige sua renúncia.
“Não importa como foi tomada a decisão de cair na armadilha, na provocação do Hamas, e não importa que outras alternativas havia. A única coisa que importa é que Barak fracassou e deve renunciar”, escreveu.
No mesmo sentido, Nahum Barnea, outro dos pilares da imprensa israelense, lembra que o titular da Defesa costuma dizer aos quatro ventos que seu lema de vida é “o resultado é a única prova da eficácia” e que “se este é o resultado, o ataque à frota… abre muitas dúvidas”.
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