Jornalistas na Itália realizam nesta sexta-feira (9/7) uma greve com um alto nível de adesão em protesto contra a chamada “lei da mordaça” do governo de Silvio Berlusconi, que limita o uso e difusão das escutas telefônicas nas investigações oficiais.
Jornais, canais de televisão, rádios e agências de notícias, convocados pela FNSI (Federação Nacional da Imprensa Italiana) se calam para mostrar insatisfação com uma norma que tramita atualmente no parlamento e com a qual, segundo eles, fica restrito o direito à informação dos cidadãos.
As bancas de jornal da Itália têm um número bastante reduzido de publicações nesta sexta-feira. Entre os poucos que foram publicados, está o Il Giornale, de propriedade família Berlusconi. Os dois principais diários do país, o milanês Corriere della Sera e o romano La Repubblica, decidiram se unir à greve e deixaram, inclusive, seus sites sem atualizações, com declarações públicas nas quais justificam o motivo da iniciativa.
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A greve “pode parecer uma contradição perante uma lei que limita a liberdade de informação, assinada por um primeiro-ministro que convida os leitores a fazerem greve contra os jornais”, afirma em seu manifesto o La Repubblica.
“Na realidade, é um gesto de responsabilidade dos jornalistas italianos para denunciar o governo e chamar a atenção de todos os cidadãos sobre a gravidade de uma norma que atenta contra a legalidade, a luta contra o crime e a livre e transparente circulação de notícias”, prossegue.
O jornal romano explica que a greve desta pretende também permitir que o público das televisões saiba o que realmente ocorre na Itália, um país no qual seu primeiro-ministro é proprietário dos canais privados mais importantes.
“Pedimos desculpas aos leitores. Os jornalistas do Corriere estão em greve e perdem parte de seu salário, não por um conflito econômico e também não para defender privilégios corporativos, mas por uma batalha civil que nos situa, contra nossa vontade, na linha de frente”, comenta o Conselho de Redação do jornal milanês em seu manifesto.
“Com a adesão à greve, esperamos contribuir para sensibilizar o país e sua classe política sobre o perigo que representam as normas propostas para os direitos democráticos e constitucionais de todos os cidadãos que querem ser conscientes do que ocorre em seu entorno”, acrescenta.
Os jornais não são os únicos que fazem greve: as principais agências de notícias do país, Ansa e Agi, deixaram de transmitir informações desde as 6h30 locais (1h30 em Brasília).
Mídia televisiva
Alguns canais televisivos também aderiram ao movimento, como a emissora via satélite Sky TG24, propriedade do grupo do magnata Rupert Murdoch, que transmite apenas programas previamente gravados e anuncia a seus telespectadores a greve em mensagens exibidas na tela.
A grande maioria dos jornalistas da corporação de televisão pública nacional RAI também decidiu participar da greve, embora o principal canal do grupo transmita, como em cada amanhã, o magazine matinal Uno Mattina, baseado principalmente no entretenimento.
O Canale 5, do grupo Mediaset (de propriedade de Berlusconi), não transmitiu seu habitual informativo matinal das 8h (3h em Brasília), embora não tenha deixado claro se a ausência se deve à adesão à greve.
A “jornada de silêncio”, como batizou a FNSI, chega precedida por manifestações e protestos, como os do último 1º de julho em 20 cidades italianas.
A chamada “lei da mordaça” prevê, entre outras, penas de até 30 dias de prisão ou sanções de até 10 mil euros para os jornalistas que publiquem escutas durante as investigações ou as atas sob segredo, enquanto fixa multas de entre 300 mil e 450 mil euros para os responsáveis dos veículos que o façam.
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