A escolha do peruano Mario Vargas Llosa, último ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, para inaugurar a 37ª. Feira do Livro de Buenos Aires, foi alvo de muitas críticas na Argentina. Um grupo de intelectuais do país prepara uma solicitação formal ao presidente da Câmara Argentina do Livro (CAL), Carlos De Santos, para que a escolha seja reconsiderada.
Em entrevista ao jornal Tiempo Argentino, o diretor da Biblioteca Nacional, Horacio González, afirmou que “o convite a Vargas Llosa é uma ofensa à cultura argentina”. Entre os demais filósofos, escritores e intelectuais que devem assinar a carta estão José Pablo Feinmann, Aurelio Narvaja, Vicente Battista, Mario Goloboff e Liliana Hecker.
González já enviou um e-mail a Santos onde afirmou considerar “sumamente inoportuno o lugar concedido a ele [Llosa] para inaugurar uma feira que nunca deixou de ser um termômetro da política e das correntes de ideias da sociedade argentina”. Segundo ele, intelectuais e escritores que não apoiam a decisão escreverão uma solicitação formal para que a mesma seja revertida.
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Mesmo após ter afirmado ser um apreciador da literatura do peruano, González afirma que “existem dois Vargas Llosa: o grande escritor que todos festejamos e o militante que não pestaneja nem um segundo para atacar os governos populares da região”. Em seu e-mail, ele afirma acreditar que muitos autores argentinos podem representar “um horizonte comum de ideias, sem o messianismo autoritário” do Llosa “dos círculos mundiais da direita mais agressiva”.
Ao Tiempo Argentino, o diretor disse que sua intenção não é a de silenciar o Nobel. “Quero escutá-lo, é necessário um debate com Vargas Llosa. O problema é que, na inauguração, teria uma conotação inconveniente neste momento”, afirmou, em referência às críticas de Llosa ao governo Kirchner.
O filósofo e professor da Universidade de Buenos Aires, Ricardo Foster, afirmou à rádio El Mundo que certamente assinará a carta. Segundo ele, a opção por Llosa “é um problema” que lhe produz uma “sensação de tristeza”. “É razoável que Llosa venha à Feira”, afirmou, garantindo que não questiona o Nobel do escritor.
O professor rechaça, no entanto, o convite para que o peruano abra a feira literária. “Não acho que tenha sido a melhor das decisões a escolha para que ele inaugure o evento no contexto político do país” porque “é alguém que vem ofendendo profundamente os que não pensam como ele”, pontuou.
Gustavo Canevaro, representante da Fundação El Libro, que organiza o evento, afirmou ao jornal argentino Clarín não ter conhecimento do e-mail, nem recebido “pressões”. “Queremos uma apresentação que gire em torno do cultural. Convidamos Vargas Llosa por seu currículo como autor”, garantiu. Segundo ele, a Feira do Livro aposta em uma nova etapa de internacionalização e profissionalização, com o objetivo de causar um impacto global. “Por isso, pensamos em Llosa”, explica.
A Feira do Livro de Buenos Aires é um dos eventos culturais mais importantes do país e reúne anualmente mais de um milhão de pessoas. Será realizada de 21 de abril a 9 de maio. Entre os autores estrangeiros confirmados para a edição de 2011 estão, além de Vargas Llosa, o zambiano Wilbur Smith, os espanhóis Juan José Millás, Rosa Montero, Adolfo García Ortega e Antonio Muñoz Molina, o francês François Dubet, a mexicana Margo Glantz e o uruguaio Carlos Páez Vilaró.
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