Crítico do governo de Mahmoud Ahmadinejad, o jornalista e escritor iraniano Hooman Madj, que já trabalhou como intérprete do presidente durante suas visitas à sede da ONU (Organização das Nações Unidas) nos Estados Unidos, avaliou positivamente o acordo firmado entre Irã, Brasil e Turquia hoje (17/5), em Teerã.
Para ele, as alegações – principalmente do governo israelense – de que Ahmadinejad estaria “manipulando” os colegas Luiz Inácio Lula da Silva e Tayyip Erdogan, para ganhar tempo e impedir mais sanções, não têm fundamento. “Se o Irã voltar atrás, ficará isolado politicamente”, explicou.
“O Irã não pode recuar agora, precisa manter sua postura de negociação. O acordo não é a solução, mas é um bom primeiro passo. Abre espaço para o Irã, tira o país do isolamento e, principalmente, propicia tempo para futuras negociações”, afirmou Madj ao Opera Mundi. Logo após o anúncio do acordo, fontes francesas e israelenses colocaram em dúvidas as intenções de Teerã.
Leia também:
Brasil confirma assinatura de acordo nuclear com Irã e Turquia
Acordo é positivo e descrença “não tem sentido”, diz consultor da AIEA
Sarkozy agradece Lula pela ajuda na libertação de Clotilde Reiss
Opinião: Lula está errado sobre o Irã?
Opositor do atual governo da república islâmica, Madj – autor do livro The ayatollah begs to differ (O aiatolá pede para discordar) – apoiou o candidato reformista Mir Hossein Mousavi nas eleições de 12 de junho de 2009 e endossou os protestos que sucederam a divulgação do resultado, que revelou a vitória de Ahmadinejad.
O iraniano, que vive em Nova York desde a infância, disse que a participação do Brasil foi fundamental na conquista de uma proposta comum, porém, afirmou que há obstáculos que vão além da questão nuclear. “Será difícil para os EUA cederem, porque o enriquecimento de urânio pelo Irã é um ponto forte da política externa norte-americana e ocidental”, analisou.
Atualmente os EUA, ao lado de Reino Unido e França, tentam convencer os outros dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, China e Rússia, a formularem novas sanções contra o Irã, que, segundo Washington, esconde em seu programa nuclear a produção de armas atômicas.
Artigos:
O Brasil deve produzir a bomba atômica?
A criação do novo inimigo muçulmano
A inútil guerra que destruiu o Iraque
A política de desarmamento do governo Obama
O documento assinado hoje determina que o Irã enviará à Turquia 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 1,2 mil quilos de urânio enriquecido a 20%. O governo do presidente iraniano se comprometeu a informar sobre o processo à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e a negociar com o Conselho de Segurança.
“O acordo vai beneficiar o governo de Ahmadinejad. Mas no Irã, as pessoas não pensam todos os dias em acordo nuclear. Estão preocupados com a economia, mas também não querem mais sanções, por isso, o acordo vai soar positivamente. É uma porta aberta para as negociações”, concluiu o iraniano.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL