Atualizada às 12h20
O Parlamento de Israel aprovou nesta terça feira (11/03) a chamada “Lei da Governabilidade”, que aumenta o número mínimo de votos necessários para que um partido participe do jogo politico no país. A lei prejudica principalmente as três organizações que representam os cidadãos árabes de Israel, que, se não se unirem, poderão ser eliminados do Parlamento.
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O projeto de lei é de autoria do chanceler Avigdor Lieberman (foto ao lado), do partido de extrema-direita Israel Beitenu (“Israel é nosso lar”, em tradução livre).
“Não precisamos de fragmentos de partido, a nova lei irá contribuir para a governabilidade do país”, afirmou Lieberman após a aprovação da lei, com 67 votos a favor e 0 (zero) votos contra.
Todos os partidos de oposição se uniram em boicote ao projeto e se ausentaram do recinto, esvaziando a discussão que estava planejada antes da votação.
Dos 120 deputados do Parlamento de Israel, atualmente há 53 que integram sete partidos de oposição ao governo de direita liderado pelo premiê Benjamin Netanyahu – o Partido Trabalhista, que lidera a oposição, o social-democrata Meretz, dois partidos ultraortodoxos (Shas e Yahadut Hatorah) e três que representam os cidadãos árabes, que compõem 20% da população do país.
Situação sem precedentes
O aumento do limiar eleitoral, de 2% para 3,25% dos votos válidos, como condição de entrada no Parlamento, coloca os líderes desses partidos em uma situação sem precedentes desde a fundação do Estado.
Os partidos Hadash, Raam-Taal e Balad terão que escolher entre duas opções que parecem impensáveis: desaparecer do mapa politico ou se unir apesar das profundas diferenças ideológicas entre eles.
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O Hadash é um partido árabe-judaico e socialista que inclui o Partido Comunista. O Raam-Taal tem um componente importante de islamistas e o Balad é um partido nacionalista e secular.
De acordo com Camil Fuchs, diretor do Instituto Dialog, um dos maiores institutos de pesquisa de opinião em Israel, a lei tem uma “lógica racista”.
“Para Lieberman, todos os árabes são a mesma coisa e podem se unir ou desaparecer”, disse Fuchs a Opera Mundi.
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Segundo a avaliação do especialista, a lei pode surpreender os políticos de direita que desejam diminuir a força política dos partidos árabes. “Todas as pesquisas indicam que o público árabe gostaria de ver seus partidos unificados. Se eles conseguirem se unir, o índice de participação dos cidadãos árabes nas eleições poderá aumentar e o partido unificado poderá obter mais votos do que os três separados”.
Repercussões
Atualmente, os três partidos possuem 11 cadeiras no Parlamento e, de acordo com Mohamed Darawshe, pesquisador do instituto Givat Haviva, uma unificação poderá aumentar sua força para 15 cadeiras.
Para Darawshe, “o mais difícil será criar uma união entre os socialistas do Hadash (4 cadeiras) e os islamistas do Raam-Taal (4 cadeiras)”.
“Em vez de um partido, acho que se criarão dois. O Balad (3 cadeiras) se unirá com o Raam-Taal, mas o Hadash não entrará nessa aliança”, disse Darawshe.
Segundo o deputado do Hadash Dov Hanin, do Partido Comunista, “Lieberman venceu na batalha de hoje, mas a luta continua. Esta lei tem dois objetivos: aprofundar a separação entre judeus e árabes e construir muralhas altas ao redor do Parlamento para barrar a entrada de forças de mudança”.
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O líder do Balad, Jamal Zahalka (imagem à esq.), prometeu fazer todos os esforços para unificar os partidos. “Um partido unido poderá obter 15 cadeiras e a lei funcionará como bumerangue para os partidos de direita, que promoveram o aumento do limiar para nos expulsar do Parlamento”, disse Zahalka.
De acordo com o chanceler Lieberman, o deputado Zahalka, que defende a ideia de transformação de Israel em um Estado de todos os cidadãos, é um “agente terrorista”.
Lieberman acusou a oposição de “se arrastar atrás dos partidos árabes que incluem representantes do terrorismo, como Zahalka”, para boicotar a discussão e a votação no Parlamento.
Em resposta, o líder da oposição, o deputado Itzhak Herzog, do Partido Trabalhista, afirmou que “Lieberman construiu toda a sua carreira com discursos de ódio”.
(*) Guila Flint cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro Miragem de Paz, da editora Civilização Brasileira.