A questão palestina é assunto-chave das eleições legislativas de Israel, que devem levar 5,2 milhões de eleitores às urnas hoje (10). As principais forças partidárias – Likud, Kadima, Partido Trabalhista e Yisrael Beiteinu, que teve notável ascensão nas pesquisas eleitorais – fizeram das tensões na região da Faixa de Gaza sua principal plataforma de campanha.
O direitista Benjamin Netanyahu, do Likud, subiu nas pesquisas a partir de um endurecimento do discurso, ao afirmar que a recente investida em Gaza durou “pouco tempo”. A última tacada foi anteontem, quando disse, em visita às Colinas de Golã – território antes pertencente à Síria e anexado por Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967) –, que “Golã não voltará a cair”. Ele afirmou também que “Jerusalém não será dividida de novo”, em alusão à exigência dos palestinos de fixar no leste da cidade santa a capital de seu Estado.
Os dois principais objetivos de seu governo, se eleito, serão a “restauração da segurança no país” e o “cultivo de uma paz econômica com as forças moderadas palestinas”. Ou seja, com outros grupos que não o Hamas, que domina a Faixa de Gaza.
Mas sua principal oponente, a atual ministra de Relações Exteriores Tzipi Livni, recuperou terreno nos últimos dias. Segundo pesquisa publicada no fim de semana pelo jornal Haaretz, ambos estão empatados tecnicamente. Livni diz apoiar a criação de um Estado palestino em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, apesar de ter mantido uma posição dura com relação ao Hamas e outras lideranças palestinas durante o conflito em Gaza.
“Acabamos de sair da guerra e a palavra paz não é muito popular em plena campanha”, reconheceu Nachman Shai, representante do Kadima.
Tanto Netanyahu quanto Livni terão de formar uma coalizão com Avigdor Lieberman, candidato do Yisrael Beiteinu, partido de extrema direita, que foi a grande surpresa da campanha e deve obter entre 18 e 19 cadeiras no Parlamento.
Imigrante da antiga União Soviética, Lieberman, de 50 anos, nasceu na Moldávia e se mudou no final dos anos 1970 para Israel, onde levanta a bandeira dos imigrantes e por isso, conquistou grande apoio entre a comunidade russa no país – um em cada cinco israelenses é imigrante russo.
O índice de participação nas urnas este ano deve ser menor que 60%, inferior a outras eleições – em 2006, por exemplo, foi de 63,2%.
Qualquer resultado é ruim para os palestinos, dizem analistas
“A combinação de negociações frustradas com o aumento da violência resultaram na popularidade de partidos e figuras políticas contrários ao processo de paz, que promovem o uso da força para garantir seus objetivos”, afirmou Ghassan Khatib, co-editor do site Bitter Lemmons e PhD em Política do Oriente Médio pela Universidade Durham, no Reino Unido, em artigo publicado ontem (9).
Segundo ele, o endurecimento nos últimos anos da postura israelense, aliado à contínua construção de assentamentos israelenses em terra palestina e à esperança de um Estado palestino cada vez mais distante, enfraqueceu os líderes da ANP (Autoridade Nacional Palestina) e a figura de Yasser Arafat, o que consequentemente levou à vitória do Hamas nas eleições de 2006.
O professor de Direito Internacional e Constitucional da Universidade do Cairo, Hosam Issa, afirmou que as eleições israelenses não servirão “para nada” em relação à postura adotada por Israel para alcançar a paz com os palestinos.
“Desde que os territórios árabes foram ocupados, há 42 anos, nenhuma concessão foi feita no processo de paz. As negociações parecem uma comédia de humor negro dirigida pelos Estados Unidos e Israel”, disse.
O analista Nabil Zaki, editor-chefe do jornal egípcio Al Ahali, concorda com a visão de Issa e prevê que a situação pode piorar no Oriente Médio se o Likud vencer as eleições. “Se Netanyahu chegar ao poder, espero de Israel políticas mais agressivas e mais duras sobre o processo de paz, já que ele oferece pouco aos palestinos em troca do fim do conflito.”.
Leia sobre a negociação para a troca de prisioneiros aqui
NULL
NULL
NULL