O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu nesta terça-feira (3/8) a presidência do Mercosul com o desafio de contribuir para o processo de integração regional com sua liderança, enquanto lida com uma apertada campanha eleitoral no Brasil, cujo resultado também afetará os rumos do bloco.
“Devemos avançar até que o Mercosul seja algo do qual ninguém tenha a menor dúvida: que somos amigos na construção de um bloco político, econômico, social e cultural”, disse Lula, ao assumir o comando do Mercosul das mãos da presidente argentina, Cristina Kirchner.
Os históricos acordos alcançados na cúpula, realizada na cidade argentina de San Juan, em matéria de aperfeiçoamento da união aduaneira – cuja lenta negociação deu uma sensação interna de estagnação e frustração durante anos -, permitirão ao presidente brasileiro concentrar-se em elevar o nível do processo de integração.
Lula, que deixará o governo em janeiro de 2011, lembrou em mais de uma oportunidade que é o presidente mais veterano do bloco, uma condição que seguramente fará valer nos cinco meses que ainda tem de poder.
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Cristina o qualificou, junto a seu marido e antecessor na presidência da Argentina, Néstor Kirchner, como o responsável por uma nova fundação do Mercosul, e o uruguaio José Mujica destacou a atitude de ambos para “deixar para trás o chauvinismo, no qual cada país se achava o centro do universo” e apostar pela integração.
Seguindo sua política conciliadora para lidar com temas complexos de alcance global, como a questão do Irã, Lula disse que um de seus maiores objetivos será alcançar um acordo de associação política e comercial entre o Mercosul e a UE (União Europeia), para o qual, segundo ele, terá que vencer as reservas da França.
Eleições brasileiras
Paralelamente, Lula terá que evitar que a agenda eleitoral em seu país atrapalhe os ambiciosos desafios de sua Presidência no bloco.
O Mercosul se transformou em tema de campanha desde que o candidato pelo PSDB, José Serra, criticou o organismo e assegurou que suas cúpulas “se transformaram em um espetáculo” e que não apresentam “avanços concretos”, algo que hoje, à luz dos acordos alcançados, é discutível.
Serra é partidário de flexibilizar as regras do bloco para negociar acordos com terceiros países, já que entende que esta estratégia constitui uma “barreira” para que o Brasil assine novos tratados comerciais.
A ideia é compartilhada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), convencida de que Brasília chegaria mais rápido a um acordo com a UE se negociasse bilateralmente.
Pelo contrário, a candidata petista à presidência, Dilma Rousseff, defende a integração e considera que ela daria maior capacidade de negociação aos membros do Mercosul frente a terceiros.
A discussão se desenvolve enquanto o Brasil, único membro do Mercosul com uma aliança estratégica com a UE, deve assumir o papel negociador com os 27 países-membro do bloco europeu após a reabertura das conversas, congeladas desde 2004.
“Alguns dizem que o Brasil deveria ter um acordo bilateral com a UE e isso, do ponto de vista da solidez do Mercosul, é preocupante”, disse à Agência de notícias espanhola Efe o economista argentino Félix Peña, especialista em temas de integração.
Se a ideia chegasse a avançar, levaria a uma forte divisão interna do bloco sul-americano, dado que, desde sua criação, em 1991, o Mercosul se propôs a ser uma união aduaneira, algo que representa, entre outros fatores, a gestão conjunta de suas negociações comerciais.
“O que Serra está colocando em sua plataforma eleitoral é modificar o tratado constitutivo do Mercosul e retroceder a uma zona de livre-comércio. E eu o qualifiquei de retrocesso histórico”, disse há duas semanas o vice-chanceler uruguaio, Roberto Conde.
Em certo sentido, os eleitores brasileiros têm em suas mãos o destino do Mercosul, mas Lula buscará despedir-se de seus parceiros com garantias de que este processo de integração seja irreversível.
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