Depois de rever a previsão de crescimento da economia brasileira neste ano, de 4% para algo em torno de zero, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi questionado sobre esse tema durante sua visita aos Estados Unidos. Ele ironizou previsões pessimistas de bancos estrangeiros, mostrando-se animado e otimista.
“Estes bancos não acertam nem sobre a situação deles, que dirá [sobre] a do Brasil?”, afirmou o presidente hoje (16), em entrevista coletiva em Nova York, ao ser questionado sobre a previsão do banco de investimentos Morgan Stanley de uma retração de 4% do PIB brasileiro em 2009. Lula garantiu que o setor automotivo do país será fortalecido em 2009, ao contrário do que tem ocorrido no mercado norte-americano, e que “a agricultura brasileira está segura”.
O presidente falou com jornalistas após almoçar com investidores norte-americanos em um evento patrocinado pelo Wall Street Journal, em parceria com a mineradora Vale. Objetivo: promover o Brasil como um país em situação privilegiada neste momento de crise mundial.
Lula disse também que no encontro de ontem com Barack Obama, em Washington, tentou convencer o presidente dos Estados Unidos a dialogar com o governo cubano. Mas não garantiu que foi ouvido. “Não sei se o Obama vai falar com Cuba, mas que devia falar, devia”.
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Protecionismo
A questão do protecionismo também foi debatida durante a visita à Casa Branca. Lula disse que os países ricos precisam entender que, embora a situação deles não seja boa, a dos países pobres é ainda pior, pois dependem das exportações para as nações desenvolvidas.
Sobre a cláusula Buy American do pacote de recuperação econômica de Obama, que incentiva os norte-americanos a comprar produtos nacionais, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ao Opera Mundi que envolve um assunto complexo e certamente “precisa ser reavaliada”.
O diretor executivo do Centro para Estudos Brasileiros da Universidade de Colúmbia, Thomas J. Trebat, disse que não deve ter sido fácil vender aos investidores a imagem do Brasil como um país praticamente imune à crise. “A verdade é que o PIB brasileiro está com um desempenho muito ruim”, afirmou. A economia brasileira fechou 2009 com um crescimento de 5,1%, mas houve queda de 3,6% no último trimestre.
Trebat disse também que o presidente Lula tem muito a oferecer a Obama em termos de orientação e experiência. “Mas Obama só quer ouvir Lula falar sobre etanol, etanol e etanol”.
Nada definido
Em Washington, Lula teve a oportunidade de discutir o tema dos biocombustíveis e a abertura do mercado norte-americano para o etanol brasileiro, mas nada ficou definido. Obama demonstrou grande interesse em combustíveis alternativos, mas ainda pensa em proteger os produtores de etanol de milho em seu país.
O presidente brasileiro conta que explicou que seu objetivo não é “brigar com os produtores de milho dos Estados Unidos”, mas fazer uma parceria destes com os empresários brasileiros. E que a parceria poderia, a longo prazo, resultar também na produção de biocombustíveis juntamente com países africanos.
O presidente Lula estará de volta a Brasília amanhã. Durante a estada de quase três dias em Nova York, não saiu do hotel – segundo ele, porque trouxe um casaco errado e não tinha condições de enfrentar o frio. “Sou nacionalista, não ia comprar um casaco daqui”, brincou.
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