Aos gritos de “G8, o terremoto são os senhores”, aconteceu hoje (10) uma pacífica manifestação no último dia de reuniões entre os membros do G8 (sete países mais industrializados mais a Rússia) em Áquila, Itália. Cerca de duas mil pessoas marcharam debaixo de sol quente ao longo de um percurso de seis quilômetros, que passou pelos campos que rodeiam a cidade e terminou na entrada do centro histórico de Áquila, abalada após um terremoto em abril passado.
Os manifestantes caminharam levando cartazes e gritando slogans. Eram jovens e adultos, movimentos sociais e sindicatos.
Muitos pararam, olharam as casas destruídas e tiraram fotos, com olhares emocionados. Quando a passeata alcançou o centro histórico, os destroços dos edifícios e um grande número de policiais impediram que as pessoas seguissem em frente. Todos então se sentaram, exaustos, nos jardins da praça da cidade e se recuperaram do cansaço.
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Alguns vestiam uma espécie de “uniforme” visto em outras manifestações: camisetas com frases como “para não esquecer, praça Giuliani”, em memória de Carlo Giuliani, o jovem italiano morto durante as manifestações da cúpula do G8 em 2001, em Gênova.
“Ainda estamos aqui, porque queremos construir um outro mundo possível, feito de equidade e respeito para todos os que estão fora do G8. Estamos aqui como há oito anos, para dizer que ainda acreditamos, que temos razão, e que todos os ‘Carlos’ no mundo seguem vivendo em nossas lutas, mas necessitam de uma justiça que ainda não chegou”, afirmou ao Opera Mundi Mario Voletto, da rede NoG8.
Habitantes de Áquila, ainda abalados pelo terremoto, saíram de suas barracas improvisadas para se unir à manifestação.
“Se as esposas dos presidentes vieram ver a minha cidade, pouco me interessa. Eu conheço esse desastre muito bem, vi minha casa cair aos pedaços na minha frente”, diz Michela Sforza, uma sobrevivente.
Uma jovem estudante comenta que teria sido maior o número de manifestantes se os tivessem deixado sair dos acampamentos. “Muitos amigos me disseram que os chefes de acampamento não os deixaram sair durante a cúpula, e que tampouco puderam se reunir, fazer assembléias e passar informações, estão muito controlados”.
Sua amiga, vestindo uma camiseta de Carlo Guliani, diz: “Minha vida mudou muito depois da reunião do G8 em Gênova. Naquela época, eu vivia com menos consciência. Não estou feliz com a marcha de hoje e tenho que dizer que [Silvio] Berlusconi conseguiu o que queria: reduzir nosso contingente fazendo pressão, realizando o evento em Áquila, uma cidade ferida”.
No entardecer, todos embarcam nos ônibus estacionados, que depois, regressam em direção às montanhas. A cúpula do G8 acaba e há quem diga que, pela primeira vez, a polícia não teve trabalho.
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