Neste sábado (28/02), duas manifestações realizadas em Roma opuseram forças de extrema-direita – inclusive grupos neofascistas – e movimentos sociais e ativistas de esquerda italianos. De um lado, o comício do europarlamentar e secretário federal do partido de direita Liga Norte, Matteo Salvini, que lançava a campanha “Noi con Salvini” (“Nós com Salvini”) na capital em direção ao sul da Itália. De outro, a marcha “Mai con Salvini” (“Nunca com Salvini”), organizada por movimentos sociais de esquerda em repúdio ao evento do político italiano e às bandeiras xenófobas e racistas de seu partido.
Reprodução / Facebook
Matteo Salvini e simpatizantes durante comício realizado em Roma neste sábado
O europarlamentar tem despontado como o novo líder da extrema-direita italiana e tem se colocado como alternativa conservadora ao primeiro-ministro Matteo Renzi, a quem criticou veementemente ontem. No palanque que ostentava o cartaz “Renzi a casa” (“Vá para casa, Renzi”), Salvini classificou o primeiro-ministro italiano como “peão e servo tolo da União Europeia”. Discursou também contra os imigrantes, afirmando que está em curso uma “substituição étnica” dos italianos por não-europeus. Ele criticou a política de imigração do governo italiano e afirmou que o país deveria impedir o desembarque de refugiados da África e do Oriente Médio que atravessam o mar Mediterrâneo.
Entre as cerca de 25 mil pessoas estimadas pela organização do comício que ocupava a Piazza del Popolo na capital italiana, estavam representantes de movimentos de extrema-direita de países como França, com militantes do Bloc Identitaire, e Alemanha, representada por membros do Pegida. Marine Le Pen, líder da Front National, partido francês de extrema-direita, participou através de mensagem em vídeo em que chamava os italianos a “confiarem na força e na visão de Salvini para dar a início a nossa reviravolta”.
Contateli. A dir tanto, ieri a #Roma erano cinquemila. 44 *atti in fila per 6 col resto di 2. #MaiconSalvini pic.twitter.com/hgeqSUKYl4
— Wu Ming Foundation (@Wu_Ming_Foundt) 1 março 2015
NULL
NULL
Também entre o público estavam militantes da organização neofascista Casa Pound, que chegaram fazendo a saudação romana, um dos símbolos do regime de Benito Mussolini. A aliança com os neofascistas é um dos pontos de tensão entre Salvini e os dirigentes de seu próprio partido, como o presidente da Liga, Umberto Bossi, que repetiu a jornalistas que cobriam o comício ontem que “não há nenhuma aliança com a Casa Pound”.
Reação à esquerda
A poucos metros da manifestação da Liga Norte, cerca de 35 mil pessoas marcharam pelas ruas do centro de Roma em repúdio às posições racistas e anti-imigração do europarlamentar e seu partido. A chamada para o ato foi lançada por representantes de diversos movimentos sociais italianos há cerca de um mês para fazer frente ao comício da Liga Norte, sob o slogan “Mai con Salvini” (“Nunca com Salvini”).
#Italy: 30,000 people marched yesterday in #Rome against racism and fascism #MaiConSalvini #antifa pic.twitter.com/pfUEwZeZju
— th anonymous (@ori_no_co) 1 março 2015
O protesto reuniu centros sociais e movimentos por moradia, organizações de estudantes e grupos ativistas como os No-Tav, além de membros do partido Esquerda, Ecologia e Liberdade (SEL, na sigla em italiano).
Os organizadores consideraram a marcha um sucesso, enquanto muitos meios de comunicação italianos classificaram o comício de Salvini como um “fracasso”.
Reprodução / Facebook
Marcha #MaiConSalvini; ao fundo o Coliseu
“Aqui em Roma não permitimos que se vá à praça com a Casa Pound e com entulhos políticos da direita ex-berlusconiana. Nossa resposta ficou além de todas as expectativas. É um dia histórico para a cidade, há anos não se via uma participação tão sólida”, declarou um dos ativistas ao jornal italiano il manifesto.“A presença de neofascistas nas periferias e nas cidades não foi apagada hoje, temos que continuar presentes e nos comprometer com uma longa batalha”, completou.
*Com informações de Internazionale, Il Fatto Quotidiano e il manifesto