Agência Efe
Nisman vivia no bairro Puerto Madero, em Buenos Aires, e tinha sofisticado aparato de segurança para garantir sua integridade física
Centenas de pessoas irão se reunir nesta quarta-feira (18/02) na Argentina para a “Marcha do Silêncio”, convocada por um grupo de promotores, em homenagem ao colega Alberto Nisman. Ele morreu há exatamente um mês, em circunstâncias ainda não esclarecidas pela Justiça.
Quatro dias antes, Nisman tinha acusado a presidenta Cristina Kirchner e seu chanceler, Hector Timerman, de terem conspirado com o Irã para, supostamente, acobertar os responsáveis pelo atentado de 1994 contra o Centro Comunitário Judaico Amia – o pior na história do país.
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A marcha – à qual se somaram políticos e sindicalistas de oposição – foi duramente criticada pelo governo, que acusa os organizadores de quererem tirar proveito político, faltando oito meses para as eleições presidenciais de outubro.
No começo do mês, Kirchner disse estar “convencida” de que a morte de Nisman “não foi um suicídio”. Em carta publicada em seu blog, a mandatária reforça a tese de alguns analistas de que foram apresentadas “pistas falsas” a Nisman, e diz que a morte dele é uma “operação contra o governo”.
Na semana passada, o promotor argentino Gerardo Pollicita levou adiante a denúncia feita por Alberto Nisman e indiciou a presidente Cristina Kirchner pelo suposto favorecimento ao Irã na investigação. Além da mandatária, foram indiciados o chanceler, Héctor Timerman, e os demais envolvidos no relatório de 300 páginas escrito pelo promotor Nisman.
A denúncia é a mesma que foi apresentada por Nisman em 14 de janeiro, quatro dias antes de morrer. Nela, o promotor dizia existir um “plano criminoso destinado a dar impunidade aos investigados iranianos acusados na causa Amia”. Tal decisão foi tomada, de acordo com Nisman, por Cristina Kirchner.
As primeiras investigações apontavam para a chamada “pista síria”. Os atentados seriam uma vingança do regime sírio contra o então presidente Carlos Menem (1989-1999), cuja candidatura teria sido financiada, em troca de tecnologia nuclear, que nunca recebeu. Menem – que é de origem síria – também enviou tropas ao Golfo, para apoiar os Estados Unidos na guerra contra o Iraque, apos a invasão iraquiana do Kuwait.
Os resultados das primeiras investigações tiveram que ser arquivados, quando se descobriu que o juiz responsável tinha comprado um testemunho falso. O próprio Menem está sendo processado por encobrir o crime. O caso Amia voltou a ganhar destaque no governo de Nestor Kirchner (2003-2007), que encarregou o promotor Alberto Nisman de retomar as investigações.
Nisman apostou na “pista iraniana”: ele acusou o Irã de planejar o atentado, que teria sido executado pelo grupo xiita libanês, e pediu a captura de ex-altos funcionários do regime iraniano para interrogá-los. Em 2007, a Interpol emitiu alertas vermelhos para cinco dos oito acusados, entre eles dois ex-ministros.
O Irã sempre negou qualquer participação e tanto Nestor Kirchner quanto de sua viúva e sucessora, Cristina Kirchner, acusaram os iranianos de não colaborar com a Justiça argentina para apurar um ato terrorista. Em 2013, a situação mudou: Cristina Kirchner e o regime iraniano tinha finalmente decidido colaborar, e os dois países acertaram criar uma comissão da verdade. O acordo foi criticado por organizações judaicas, a oposição e o próprio Nisman.
O promotor tinha sido convocado pela oposição para detalhar os motivos que o levaram a acusar a presidenta e o chanceler. Ele ia prestar depoimento ao Congresso no dia 19 de janeiro, mas na madrugada daquele dia foi encontrado morto com uma bala na cabeça. O tiro tinha sido disparado, no dia anterior, por um revólver calibre 22, emprestado por um colega de trabalho de Nisman.
Um mês depois, a Justiça ainda não pode afirmar se Nisman suicidou-se, se foi “induzido” a se matar, ou se foi assassinado.
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