A chanceler alemã, Angela Merkel, iniciou nesta segunda-feira (28) as conversas para a formação de um novo governo de coalizão, após sair duplamente vitoriosa nas eleições federais de domingo. Além de renovar o mandato, ela poderá formar sua desejada parceria com o FDP (Partido Liberal), e encerrar a aliança com os rivais do SPD (Partido Social-Democrata).
Pela manhã, a chanceler se reuniu com colegas da CDU (União Democrata Cristã), para começar a estabelecer as bases do novo governo. Na parte da tarde, Merkel se encontrará com o líder do FDP (Partido Liberal), Guido Westerwelle, na sede da chancelaria, em Berlim.
Ronald Pofalla, secretário-geral da CDU, espera que a nova parceria seja oficializada dentro de no máximo 30 dias. “Queremos nos reunir com os representantes do FDP na próxima semana, para poder superar as divergências e acelerar a transição”, afirmou Pofalla à imprensa, na chegada para o encontro dos líderes do CDU, em Berlim.
Apesar de FDP e CDU terem deixado claro o desejo de uma aliança, os dois partidos ainda divergem em alguns pontos cruciais para resgatar a maior economia da Europa – quarta maior do mundo – da pior crise desde a Segunda Guerra Mundial. Os liberais querem um corte radical nos impostos, enquanto os conservadores defendem uma redução em menor escala.
Resultados oficiais
De acordo com os resultados oficiais do Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha (Statistisches Bundesamt), a CDU/CSU, de Angela Merkel, conquistou 33,8% dos votos, enquanto o FDP obteve 14,6%.
Aliviada e sorridente após a vitória, Merkel comemorou o fim da parceria com os rivais social-democratas. “O nosso principal objetivo foi alcançado. A mudança no governo é o que realmente importa na noite de hoje”, disse a chanceler.
Do outro lado, a frustração foi multiplicada. O SPD – do ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier – conquistou apenas 23% dos votos. É o pior desempenho do partido nas eleições parlamentares desde a Segunda Guerra Mundial. Além disso, pela primeira vez, em 11 anos, a legenda de centro-esquerda ficará fora do governo.
Steimeier declarou que o SPD sofreu um duro golpe. “Não há outra forma de dizer: é uma derrota amarga para os social-democratas”, declarou o ministro, prometendo liderar uma forte oposição ao governo de Merkel.
O Partido A Esquerda (Die Linke) confirmou a tendência de crescimento e teve a preferência de 11,9% do eleitorado, enquanto Os Verdes (Die Grüne) mantiveram a média das pesquisas de opinião, com 10,7% dos votos. As duas legendas tiveram recorde de votação, desde que foram criadas. Os demais partidos somaram 6%.
Com o resultado, a CDU conseguiu obter 239 cadeiras no Parlamento, contra 146 do rival SPD. Junto com os 93 assentos conquistados pelo FDP, Merkel ultrapassou os 50% necessários para formar a coalizão com os liberais de Guido Westerwelle – que deve ser nomeado ministro das Relações Exteriores do novo governo.
Verdadeiro vencedor
O Partido Liberal é considerado o grande vencedor das eleições. Nunca na história do país os liberais conseguiram tantos votos.
Se dependesse da CDU, uma nova edição da impopular Grande Coalizão seria necessária, já que a legenda de Merkel teve apenas 33,8% dos votos – o pior desempenho do partido desde 1953. Já o FDP obteve 5% a mais de votos, na comparação com a última eleição.
“Estamos prontos para aceitar o desafio”, afirmou Gudo Westerwelle, que comomorou a volta do FDP ao governo, após 11 anos de ausência.
Festa e expectativas
No comitê da CDU em Hamburgo, políticos, ativistas e simpatizantes do partido fizeram uma grande festa para comemorar o resultado da eleição.
A estudante de medicina Sarah Franck, de 23 anos, prestigiou a celebração dos governistas e disse estar satisfeita com o fim da Grande Coalizão. “Eu acredito que agora a Alemanha poderá evoluir com mais rapidez. As brigas entre SPD e CDU só atrasavam o país”, declarou.
Uma das propostas da CDU mais atraentes ao eleitorado foi a redução dos impostos no país. O designer gráfico Hans Hellmuth, 42 anos, também participou da festa e disse que vai ficar atento para ver se o governo realmente reduzirá a carga tributária. “Os impostos que pagamos aqui são absurdos. Estou ansioso para saber quando vai sobrar um pouco mais de dinheiro”, disse.
Para especialistas, a redução nos impostos proposta pelo governo é irreal. Se a promessa não for cumprida, o desgaste para o partido de Merkel será grande. A oposição já se prepara para o ataque.
Abstenções
As eleições de domingo tiveram o menor índice de participação desde 1949. Os dados oficiais apontam que 72,2% da população foram às urnas, contra 77,7% em 2004.
Em uma breve caminhada pela rua, é fácil encontrar alguém que não participou das eleições. “Eu não votei porque moro em outra cidade. Não vale a pena gastar tempo e dinheiro para viajar, sendo que nenhum dos políticos merece meu voto”, afirmou o estudante Malvin Musbah, de 23 anos.
O descontentamento com os políticos é uma tendência em crescimento na Alemanha. A falta de identificação dos eleitores com os partidos resulta tanto em um baixo índice de participação, quanto em um crescimento de partidos considerados “radicais”.
Jan van Arken, analista político e ex-candidato a deputado pelo partido A Esquerda, afirma que muitas pessoas votam na oposição como um sinal de protesto. “O crescimento dos esquerdistas reflete a insatisfação dos alemães. Muita gente vota na Esquerda não porque simpatiza com os ideais do partido, mas para pedir mudanças no atual sistema.
Medo
A divulgação do resultado das eleições fez crescer o clima de medo na Alemanha. Na última semana, pelo menos cinco vídeos com ameaças terroristas da al-Qaeda foram divulgados na internet – um deles com a narração de Osama Bin Laden, líder do grupo. Os insurgentes pedem o fim da missão alemã no Afeganistão.
Em uma das ameaças, os terroristas colocaram fotos de alguns dos lugares mais movimentados dos pais, como o Portal de Brandemburgo, em Berlim, a estação de trem central de Hamburgo e a Oktoberfest. No sábado, as autoridades de Munique fecharam o espaço aéreo nos arredores da maior festa da cerveja do mundo, para reduzir o risco de ataques.
Na estação de Hamburgo, depois de conhecido o resultado das eleições, houve atraso na partida e chegada de grande parte dos trens. Funcionários da estação afirmaram que a demora foi provocada por ameaças terroristas contra algumas linhas locais. No entanto, nenhum anúncio oficial foi feito.
A falta de informações provocou desconforto nos passageiros, que lotaram a estação às 10 horas da noite de domingo
“Eles deveriam nos dar uma justificativa para tantos atrasos, ainda em nesses tempos de ameaça. Se eu estiver em risco, tenho o direito de ser avisada”, declarou a Relações Públicas Annete Polls, de 47 anos, que viajava de Hamburgo para Munique.
As autoridades não confirmaram se houve ameaças contra a estação de Hamburgo na noite de domingo.
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