Apesar de possuir os maiores índices de desigualdade social do mundo, a América Latina vive um otimismo generalizado por ter sido umas das regiões que melhor se saiu da crise financeira e que hoje apresenta alto potencial de crescimento.
Esse foi o balanço do Fórum Econômico Mundial da América Latina (World Economic Forum on Latin America 2011, em inglês), encerrado na última sexta-feira (29/04), no Rio de Janeiro, que discutiu os rumos da economia regional. Alguns analistas avaliam que esta poderá ser a década da região.
Com uma população de cerca de 600 milhões de habitantes, aproximadamente 8% da população mundial, e um terço das reservas de água no planeta, há razões para o otimismo, afirma a subsecretária-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Rebecca Grynspan, que é também administradora associada do Pnud (Programa da ONU para o Desenvolvimento).
Em um balanço feito ao Opera Mundi pela economista costa-riquenha da edição regional do Fórum Econômico, a América Latina demonstrou que tem “melhores instituições econômicas para manejar dilemas complexos da economia internacional”.
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O fantasma da crise mundial que assombrou as edições anteriores do fórum deu lugar a projeções de cenários mais positivos para o continente menos afetado pelo abalo global.
“A região está começando a jogar um papel relevante no mundo por ser estável com democracias, não ter terrorismo ou guerras. É importante que a América Latina olhe para si mesma, mas também que tenha visibilidade”, analisa Grynspan.
Contudo, a desigualdade na América Latina continua sendo a pior do mundo, admite a subsecretária-geral ao destacar que um dos perigos para este otimismo demasiado pode ofuscar problemas por não haver melhorado na distribuição de renda e de benefícios sociais.
“O tema da desigualdade na América Latina é complexo porque há muitas desigualdades que se entrecruzam na região, que conta com um nível de pobreza excessiva para o seu estágio de desenvolvimento. Por ser um continente tão desigual, a elasticidade da pobreza com respeito ao crescimento é muito baixa. Os benefícios do crescimento se distribuem desigualmente”, discutiu.
Na avaliação da economista, o ponto de estrangulamento para o avanço do continente à tão esperada década da América Latina é o quesito investimento. Segundo Rebecca Grynspan, a região ainda tem uma das menores taxas de investimentos em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) dos países competitivos, com destaque para a China.
Ainda segundo Grynspan, os países latino-americanos padecem da péssima qualidade da educação. Na lista de gargalos que impedem o crescimento, a educação está no ranking de mais carente e necessária. “É preciso que sejamos capazes de educar melhor e não só educar mais. A educação também terciária nas universidades devem estar associadas à inovação e à tecnologia”.
A infraestrutura amarga o segundo lugar na série de obstáculos. “Se enfatiza muito esse tema para aumentar a produtividade da região. Temos aqui a desigualdade na área social, mas também entre as empresas privadas. Há um setor muito moderno ligado ao mercado internacional capaz de competir, as ‘multilatinas’ que são empresas multinacionais, e há também a desigualdade estrutural das pequenas e médias empresas que não tem acesso ao crédito e lhes custa muito inovar”, discute Grynspan.
Segundo a subsecretária-geral, manter a pauta da balança comercial exterior apenas nas commodities é um risco, mas que não deve ser encarada como uma “maldição”. Na sua opinião, é uma ameaça mas pode ser também uma oportunidade.
“Já se demonstrou que é possível ter uma economia baseada em recursos naturais incorporando valor agregado, inovação e tecnologia. Há um perigo da ‘reprimarização’ da economia latino-americana, o risco é real. Contudo, hoje existe a possibilidade de basear a competitividade dos recursos naturais com alta tecnologia, conhecimento e alto valor agregado”, afirmou.
G20
Assim como o Brasil, a Argentina e o México que integram o G20, grupo das maiores economias do mundo, estão a desempenhar um papel diferencial, destaca a economista. Os países do G20 tomaram a decisão de criar um mecanismo de indicadores para “reportar e discutir a coligação de políticas a nível mundial e os efeitos de uma economia sobre a outra para evitar a guerra cambial e o protecionismo”, acrescentou.
Este é um trunfo do grupo que reúne mais de 80% do PIB mundial e que carece de legitimidade, segundo Grynspan, mas que nem o FMI (Fundo Monetário Internacional ) “nunca havia conseguido ter uma monitoria dos países desenvolvidos”.
Caso o G20 consiga implementar este mecanismo, esta será a primeira vez em que haverá “uma maneira de ‘check & balance’ entre os países mais ricos e as economias mais importantes do mundo”.
A liderança do Brasil é muito bem vinda, mas não deve ser única liderança regional, argumenta. A subsecretária-geral reconhece que a reforma do Conselho de Segurança da ONU é um processo longo e defende que as instituições devem evoluir assim como a realidade, pois “evidentemente o mundo de hoje não é o mesmo de 1950”, período em que foi criado o organismo.
Neste sentido, o pleito do Brasil pela reforma do Conselho é bem vindo e caso alcance o assento permanente, há um grande anseio de que o Brasil represente as aspirações da região latino-americana.
No entanto, “não se deve colocar toda a pressão e todas as responsabilidades no Brasil, os países da região devem assumir uma responsabilidade conjunta sobre desenvolvimento regional”.
Assim como o Brasil, a Índia já manifestou o interesse em ascender a um status permanente. Para a subsecretária-geral da ONU, apesar das aspirações de ambos os países emergentes, não uma incompatibilidade de interesses. “Dos BRICs, o Brasil e a Índia representariam regiões diferentes no Conselho de Segurança. Há sim uma compatibilidade de interesses, não me parece que haja um conflito”, salientou.
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