Um dia após a Cúpula do Mercosul em Montevidéu, onde os chefes de Estado de Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela — atualmente na presidência do bloco sul-americano — uniram vozes contra a espionagem, o presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou neste sábado (13/07) que agentes de inteligência dos Estados Unidos têm acesso aos e-mails das “autoridades máximas” de seu país. Ele sublinhou que não usa esse tipo de comunicação.
Efe (06/07/2013)
Morales disse que está convencido de que a espionagem norte-americana serve controlar os recursos naturais da Bolívia
A informação sobre o suposto acesso aos e-mails das autoridades bolivianas, segundo Morales, foi obtida na sexta-feira “graças a alguns amigos presidentes”, com os quais se reuniu ontem. Na ocasião, também foi emitido comunicado repudiando o bloqueio aéreo imposto a Morales quando sobrevoava a Europa. “Eu, antes de ser presidente tinha e-mail. Alguns irmãos me recomendaram 'Evo, não use isso' e fechei, escutei suas palavras, felizmente”, disse o líder em seu discurso.
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O governante também afirmou que os EUA gastam todos os anos US$ 75 bilhões em inteligência e para ilustrar o tamanho desse número para sua audiência, formada por camponeses e indígenas, comparou o orçamento das agências de inteligência com os US$ 14 bilhões que a Bolívia tem no total de reservas em divisa estrangeira no Banco Central. “Sabem o quanto gastam com inteligência? A cada ano gastam US$ 75 bilhões para monitorarem todos, para grampear os telefones”, disse Morales, que, além disso, comparou esses gastos com espionagem com a pobreza que, segundo sua opinião, persiste nos EUA.
Snowden
Morales também falou sobre o caso Edward Snowden e sobre o apoio que obteve do Mercosul pela “ofensa” que sofreu na semana passada quando quatro países europeus, segundo denunciou, fecharam seus espaços aéreos durante o retorno de seu avião presidencial a La Paz, que saiu de Moscou, pela suspeita de que o ex-técnico da CIA estava a bordo da aeronave. Os chefes de Estado e de governo do Mercosul encerraram a cúpula em Montevidéu com uma declaração na qual reprovaram a suposta espionagem dos EUA na região e a “ofensa” a Morales.
Os países do Mercosul também concordaram em pedir consultas aos seus embaixadores na Espanha, França, Itália e Portugal para que informem sobre as decisões que forçaram o pouso do avião de Morales em Viena no dia 2 de julho. O líder acrescentou que debateu com seus colegas do Mercosul sobre a suposta espionagem, o controle e o acompanhamento feito pelos EUA, não só aos “governos anti-imperialistas”, mas também aos seus aliados.
Morales disse que está convencido de que a espionagem norte-americana serve para justificar as intervenções com o propósito de dominar países para exercer o controle sobre seus recursos naturais. Também considerou que Snowden não cometeu “nenhum crime” porque fez as denúncias sobre o programa de espionagem dos EUA para “o bem da humanidade”.
O líder boliviano acrescentou que os Estados Unidos fazem “ameaças” aos países que, como a Bolívia, ofereceram asilo ao ex-técnico, mas ressaltou que Washington não tem moral para fazer críticas porque o território americano “é uma caverna de delinquentes”. Nesse sentido, citou o caso de Luis Posada Carriles, requerido pela Venezuela, que pediu sua extradição em 2005 aos EUA para que responda perante a Justiça pela explosão de um avião da empresa Cubana de Aviación em 1976 com 73 pessoas a bordo. Ele mencionou também o caso do ex-presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada (1993-1997 e 2002-2003), acusado na Bolívia em um julgamento por um suposto genocídio, mas que vive nos EUA, país que não respondeu ao pedido de extradição de La Paz.